Começa nesta segunda-feira (4) mais um júri sobre o assassinato de um adolescente há sete anos em Charqueadas, na Região Carbonífera. Aos 17 anos, em agosto de 2015, na saída de uma festa organizada pela turma da escola para juntar dinheiro para a formatura, Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior foi cercado por um grupo e agredido com garrafadas. Este será o segundo dos três júris deste ano - no primeiro, três réus foram condenados. Agora, irão a julgamento Alisson Barbosa Cavalheiro, Geovani Silva de Souza e Volnei Pereira de Araújo.
No Fórum de Charqueadas, o júri está previsto para iniciar às 9h, com a primeira etapa, que é o sorteio dos nomes dos sete jurados. No primeiro julgamento, o Conselho de Sentença foi composto por quatro homens e três mulheres. Tanto acusação como defesa podem recusar até três nomes, sem necessidade de apresentar justificativa. Essa é uma estratégia usada pelas partes para tentar manter entre os jurados pessoas com perfil que acreditam ser mais favorável ao resultado que buscam.
Após o sorteio e juramento por parte do Conselho de Sentença, deverá ser dado início à fase de depoimentos. Na primeira etapa, serão ouvidas as vítimas, já que além do assassinato do adolescente, os réus respondem por três tentativas de homicídios. Neste momento, serão ouvidos, assim como no primeiro júri, o pai de Ronei Júnior, Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, 55 anos. Quando falou no julgamento anterior, o engenheiro apresentou o relato mais emocionado.
— Meu filho foi julgado, sentenciado e executado na calçada — desabafou, em resposta ao juiz Jonathan Cassou dos Santos, o mesmo magistrado que conduzirá este novo júri.
Ao longo de mais de duas horas, o pai de Ronei Júnior detalhou como foram as agressões e recordou as últimas palavras do adolescente.
— Ele olhou para mim e disse: "jura pra mim que tu não está machucado?". Essa foi a última frase do meu filho — afirmou, entre lágrimas.
Além do pai, será ouvido um casal de amigos de Ronei Júnior — Francielle Wienke era colega de escola dele e Richard Saraiva de Almeida era namorado dela na época. Os dois também foram agredidos pelo grupo, após saírem da festa e se refugiaram dentro do carro do pai do adolescente. Segundo a acusação, a motivação da revolta do grupo com o trio teria sido justamente o fato de que Richard era de São Jerônimo e havia rixa do "Bonde da Aba Reta" - grupo do qual o Ministério Público afirma que os réus faziam parte - e os moradores da outra cidade.
No primeiro julgamento, os dois jovens pediram que seus depoimentos não fossem transmitidos em vídeo pelo Tribunal de Justiça. No caso de Francielle, parte do relato dela chegou a ser publicado nas redes sociais do TJ. A jovem contou que eles tentaram se proteger dentro do carro e se emocionou ao relembrar os fatos. Na sala de audiências, em razão da limitação de espaço, só podem permanecer as partes do processo e familiares, por isso, a imprensa acompanha a sessão em local separado.
Ao todo, sete pessoas estão previstas para serem ouvidas pela acusação. Entre elas, está o delegado Rodrigo Reis, que investigou o caso, Leandro Silveira, vigia que trabalhava em supermercado na frente do Clube Tiradentes e presenciou a briga e Gustavo Barth, colega de escola do adolescente, que também participou da organização da festa. Esses três foram ouvidos no primeiro julgamento. Ainda deve ocorrer um sétimo depoimento por parte da acusação, de Cláudia Silva, agente penitenciária e mãe de uma estudante que integrou a organização da festa.
Na sequência, estão previstas para serem ouvidas nove testemunhas pelas defesas dos réus — cinco por Alisson e quatro por Geovani. No primeiro julgamento foram apenas duas de defesa, o que pode prolongar um pouco mais este segundo júri. Depois disso, iniciará a fase dos interrogatórios dos acusados dos crimes. No primeiro julgamento, essa etapa ocorreu no segundo dia à tarde. Se os interrogatórios encerrarem na terça-feira (5), na quarta-feira (6) ocorrem os debates entre as partes, que podem levar até nove horas ao todo. Por fim, os jurados se reúnem e definem se os réus são ou não culpados. Em caso de condenação, o juiz deverá definir se eles deixam o plenário presos ou se poderão recorrer em liberdade - os réus foram soltos em abril.
"Nosso trabalho é condenador todos", diz o promotor
Um dos promotores responsáveis pela acusação, Eugênio Amorim diz que o Ministério Público segue para o segundo julgamento com o mesmo objetivo: a condenação de todos os réus. A linha principal da argumentação é de que todos que integravam o grupo contribuíram para que a briga tivesse desfecho fatal e que, por isso, devem ser responsabilizados igualmente pelo assassinato do adolescente e pelos outros crimes.
— Todos agrediram e se incentivaram mutuamente. São duas formas de participação diferente. Uma é agredir, mas todos eles se incentivaram em grupo. Nosso trabalho é para isso, para condenar todos. Todos tiveram participação importante no desfecho, como um grupo. Se fossem só três, talvez não conseguissem o mesmo resultado, talvez o pai conseguisse reagir ou fugir com o carro. Cada réu é tão importante no resultado da morte e das tentativas quanto o que deu a garrafada fatal — afirma o promotor.
Atuam ainda no caso os promotores Anahi Gracia de Barreto e João Cláudio Pizatto Sido.
Contrapontos
O que diz a defesa de Alisson Barbosa Cavalheiro
GZH entrou em contato com a advogada Aline Hilgert, uma das responsáveis pela defesa do réu, e ela informou que só se manifestará sobre o caso após o início do julgamento.
O que diz a defesa de Geovani Silva de Souza e Volnei Pereira de Araújo
A Defensoria Pública do Estado é a responsável pela defesa dos dois réus. No entanto, o defensor Alisson de Lara Romani só deve se manifestar durante o júri.
Relembre o primeiro júri
No primeiro julgamento, que teve duração de três dias, foram condenados os três réus. Peterson Patric Silveira Oliveira foi condenado a 35 anos e quatro meses de prisão. Vinicius Adonai Carvalho da Silva foi condenado a 38 anos e 10 meses e 20 dias. Já Leonardo Macedo da Cunha foi condenado a 35 anos e quatro meses de reclusão. Peterson foi o único que confessou ter cometido o crime e disse ter sido o autor das garrafadas.
Os acusados foram condenados pelos crimes de homicídio qualificado, três tentativas de homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores. Em razão de habeas corpus preventivo, nenhum dos condenados foi preso por esse crime ao final do julgamento - Vinicius, porém, segue preso por envolvimento em outro caso.
Próximo julgamento
Após este segundo júri, ainda está previsto para ser realizado mais um na semana que vem. Com início marcado para o dia 11 de julho, também deve se estender por três dias. Nesta etapa, serão julgados os réus Cristian Silveira Sampaio, Jhonata Paulino da Silva Hammes e Matheus Simão Alves. Há um décimo acusado de envolvimento nos crimes. Rafael Trindade de Almeida foi denunciado depois dos demais e seu caso é apurado em outro processo. Ele já foi pronunciado e deve ir a júri, ainda sem data marcada.