Um casal de amigos que acompanhava Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Júnior, 17 anos, na madrugada em que ele foi assassinado foi ouvido na tarde desta quarta-feira (22) durante o júri em Charqueadas, na Região Carbonífera. Estão sendo julgados três réus pelo crime, que aconteceu em 1º de agosto de 2015, na saída de uma festa organizada para arrecadar fundos para uma formatura. Os dois, assim como o pai do adolescente morto, são considerados vítimas de tentativa de homicídio, por também terem sido agredidos.
O primeiro a ser ouvido durante a tarde foi Richard Saraiva de Almeida, que começou a falar pouco antes das 16h, após o intervalo para o almoço. Este depoimento não foi transmitido pelo Tribunal de Justiça a pedido da própria vítima. Na época do fato, Richard era namorado de Francielle Wienke, colega de escola de Ronei Júnior. O depoimento dele durou cerca de uma hora. Logo depois, após intervalo de cerca de 10 minutos, teve início o depoimento de Francielle.
Assim como Richard, a jovem também pediu que seu relato não tivesse transmissão em áudio e vídeo. No Twitter do TJ, trechos do depoimento dela foram transcritos.
— A gente não pensou que ia acontecer uma coisa ruim — disse a jovem sobre a realização da festa.
Ela contou que tanto ela, como Ronei Júnior, fazia parte da organização do evento que arrecadaria fundos para a formatura deles no Ensino Médio. Sobre o momento das agressões, ela relatou que na saída da festa, no final das escadas do Clube Tiradentes, ouviu um grito e pessoas se aproximando. A jovem se emocionou e chorou ao narrar os fatos daquela madrugada. Ela precisou tomar água antes de seguir como o depoimento.
— Era muita gente correndo na minha direção, e corri para dentro do carro para me proteger — descreveu sobre o momento em que ingressou no carro do pai de Ronei Júnior, que havia ido buscar o filho e os amigos dele na saída da festa.
Francielle afirmou que no momento em que o carro arrancou o veículo ainda estava com uma porta aberta. Com o término do depoimento da jovem, por volta das 18h20min foi realizado intervalo de 30 minutos. Com a fala dela, encerram-se os relatos das vítimas e o julgamento passa agora para a oitiva de sete testemunhas – houve desistência de parte das pessoas que estavam arroladas para serem ouvidas.
No início da noite, começava a ser ouvido o delegado Rodrigo Reis, que foi o responsável pela investigação do crime na época. A sessão desta quarta-feira deve ser encerrada por volta das 21h, e o júri deve ser retomado na manhã de quinta-feira (23), às 9h. A previsão é de que o julgamento siga até sexta-feira (24), quando os sete jurados – três mulheres e quatro homens – devem decidir se os três réus são ou não culpados pelos crimes. Estão sendo julgados nesse primeiro júri Peterson Patric Silveira Oliveira, Vinicius Adonai Carvalho da Silva e Leonardo Macedo da Cunha.
O caso na Justiça
Os acusados respondem pelos crimes de homicídio qualificado, três tentativas de homicídio qualificado, associação criminosa e corrupção de menores. Na época, o ataque contou com a participação de adolescentes. O Ministério Público apontou sete na acusação: a quatro deles foi aplicada, em setembro de 2015, medida socioeducativa de internação por três anos, prazo máximo estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente. Os outros três foram absolvidos.
Os demais júris estão marcados para 4 de julho (réus Alisson Barbosa Cavalheiro, Geovani Silva de Souza e Volnei Pereira de Araújo) e 11 de julho (réus Matheus Simão Alves, Cristian Silveira Sampaio e Jhonata Paulino da Silva Hammes), ambos também com previsão de duração de três dias. Há, ainda, um décimo réu, que foi acusado posteriormente e responde por homicídio em processo separado.
O que dizem os réus
Peterson Patric Silveira Oliveira
O advogado Diander Rocha enviou nota a GZH:
“A defesa de Peterson Oliveira tem boas expectativas em relação ao júri. Confiamos que a sociedade de Charqueadas ouvirá a nossa versão atentamente mais uma vez, assim como foi feito em 2020. Foram três dias de trabalho intenso e o corpo de jurados se manteve trabalhando arduamente. A atuação da defesa estará focada em analisar e confrontar as informações, provas e narrativas apresentadas pelo Ministério Público para que o processo tenha um desfecho justo.”
Leonardo Macedo da Cunha
O réu é representado pela defensora pública Tatiana Boeira. Ele vai sustentar em plenário que o óbito só ocorreu em razão de dois motivos:
— Morreu pelas garrafadas porque ele tinha uma doença e o atendimento no hospital foi inadequado — sustentou Tatiana, que disse ter elementos suficientes para convencer os jurados desses argumentos.
Vinícius Silva
Para o advogado Celomar Cardozo, o caso não é de assassinato.
— Não se trata de homicídio, mas sim de lesão corporal seguida de morte — argumentou o advogado, ao também citar a doença autoimune de Ronei.