Sempre considerei esse fato inquestionável: quem mora em uma casa bagunçada, também o é em sua vida particular. Um comportamento é reflexo do outro. Não é aconselhável ser obsessivo, um traço patológico e responsável por nos travar em várias outras áreas. Refiro-me a algo sem extremismo. Nem é necessário você ler obras em busca de técnicas específicas ou fazer cursos de feng shui.
Organizar o espaço em que moramos é comum às pessoas preocupadas em domar o caos interior, estabelecendo certa ordem, mesmo provisória. É interessante dar-se como exemplo. Durante décadas tive manifestações compulsivas. Estabelecia em minha mente um tipo de organização e ai de quem ousasse mudar algo de lugar. Rigidez em estado puro. Uma espécie de prisão a qual nos entregamos com uma boa dose de sofrimento. Pelo menos comigo era assim.
Aos poucos fui percebendo como restringia a minha liberdade e gerava medo nos demais. Antes me sentia incapaz de mudar. Agora já tenho plena consciência do quão ruim é isso. Foi uma questão de troca de hábito, esse nosso velho conhecido.
O desejo de me tornar melhor do que fui outrora levou-me a colocar uma lupa sobre uma questão tão fundamental. Reforcei a ideia da importância de manter tudo limpo e ordenado, até onde não aparece. Porém, de maneira bem tranquila, no exato sentido do termo.
A cada dia que passa, vou confirmando essa verdade: a desordem pode espelhar conflitos escondidos. Valemo-nos de diversas desculpas: falta de tempo, cansaço, ah, para mim está ótimo desse jeito. Pura resistência para amparar determinada maneira de ser. Hoje compreendo que quando há um real desejo de mudança ela ocorre.
A diferença entre os procrastinadores e os empenhados em uma autoanálise profunda é o compromisso estabelecido em relação a si. Afinal, a disciplina sinaliza a visita inequívoca da maturidade.
Vale a pena observar com cuidado como nos portamos neste quesito. Louça de dois dias por lavar, peças de roupa espalhadas pelo quarto, uma fruta mordida deixada sobre a mesa de uma refeição para outra... são tantas as evidências ilustrativas que é só permanecer atento para se autodiagnosticar. Não precisamos chegar ao ponto de perder o sono se deixamos alguma pequena tarefa por ser feita.
Ah, uma dica: descarte objetos inúteis. Eles só atrapalham e nos impedem de ter uma existência serena. Quinquilharias são exatamente isso: quinquilharias. A sensação de prazer ao entrar em um quarto organizado é emblemática. Sou bastante zeloso com o lugar em que moro, mas evito ultrapassar os limites do bom senso.
Continuo vigilante, sem me torturar por dentro. Para se alcançar tal ponto há uma regra primordial: evite exageros, evite descuidos. Uma meia atirada no chão, esquecida em um canto, pode ser o início de um processo revelador do que somos em outros terrenos.
Seja como um arqueiro quando se prepara para atirar a flecha: tenso e relaxado. Você acertará o alvo.