Existe um método infalível para estragar uma criança e, possivelmente, um adulto, em caráter definitivo: deixe-a fazer tudo o que ela quiser. Seja permissivo ao máximo e você descobrirá, na prática, o que Freud denominou de “Sua majestade, o bebê”. Quanto antes começar o processo deseducativo, melhor.
Mesmo não tendo filhos, mantenho a curiosidade em observar clinicamente esse tipo de ocorrência ao meu redor. No supermercado, em farmácias, nas festinhas onde são o centro das atenções. Nem é necessário se esforçar tanto: basta que fiquem à vontade, de preferência podendo destruir o que está à sua volta.
Vamos ser sinceros: nós, humanos, precisamos de adestramento, ops, treinamento, para conseguir habitar em sociedade. Continuo me espantando com a dificuldade de tantos genitores em notar o óbvio: liberdade absoluta rivaliza com ausência de respeito. E como é considerado inadequado interferir em vivências familiares, calamo-nos diante de algumas atrocidades comportamentais.
No extremo oposto, como é adorável acompanhar o crescimento de um bebê afeito, desde os primeiros anos, a uma convivência pacífica com os demais. Há, sim, algo chamado autoridade e ela tem que ser exercida sistematicamente quando a falta de controle parece se tornar uma ameaça real.
Criaturinhas birrentas e arrogantes correm o risco de se tornar verdadeiros tiranos. “Eu quero porque quero”, dizem a cada frase, mal disfarçando a formação de um ego destinado a ocupar todos os espaços.
Percebo isso se evidenciando quando têm a liberdade de escolher seu alimento, a roupa, os passeios. Definitivamente, essa é uma função paterna e materna, pois a capacidade de decisão racional é moldada lentamente. Portanto, está em suas mãos evitar que eles tenham de frequentar um consultório de terapia. Permita que aprendam algo essencial: o sentido da palavra limite. E, acreditem, logo adiante a vida se encarregará de lhes mostrar o valor disso.
Hábitos se estruturam precocemente e se inscrevem de maneira sutil em nosso DNA. Quanto mais o tempo passa, maior a dificuldade de remendar o tecido das emoções. O psiquiatra José Ângelo Gaiarsa disse não entender a ausência da obrigatoriedade de os futuros pais frequentarem um curso, antes de decidirem pela difícil e complexa tarefa de educar alguém para o mundo.
Já fui testemunha de situações que poderiam render um bom enredo de filme. E justificando essas atrocidades assim: “A energia dele é impressionante.” Energia? Sei. Por falta de tempo ou indisponibilidade emocional, estamos permitindo que seres prepotentes reinam em um quintal particular.
Logo, logo, estarão ampliando seu domínio até nos expulsar dele. Sou contra qualquer método de repressão através de violência física ou psíquica. Firma-se um propósito com atitudes enérgicas. Caso contrário, naturalizaremos seu despotismo, submetendo-nos a ele docilmente.
Descubra por si só. Convém ter um calmante à mão.