Tenho a clara consciência de meu desconhecimento em relação a uma série de coisas. O mundo é um mar. A vida é um mar. Aqui e ali, vou pinçando algumas referências que ajudam a me situar no meu tempo. Opinião é diferente de cultura. Ela é atravessada pelos conceitos e preconceitos e ocupa o espaço das certezas absolutas. Nas redes sociais as pessoas não duvidam, elas afirmam. Instadas pelo calor do momento, respondem por impulso, emitindo ideias comprometidas com reações emocionais. Facilmente a razão é deixada de lado. Daí a descobrir “inimigos” virtuais é um passo.
Já me cobraram atitudes de ordem política, religiosa, moral. Evito fazê-lo em público, antes de uma necessária reflexão. Aceitar a discordância é um exercício de maturidade. Podemos até ficar comum gosto amargo na boca, mas é o jeito mais saudável de ampliar os horizontes. Tudo precisa ser antecedido por uma escuta atenta, capacidade esta bastante ausente nos relacionamentos. Diante de uma afirmação contundente e oposta à minha maneira de ver a realidade, procuro firmar uma postura de observação ancorada na neutralidade. Aquieto-me e só depois me manifesto. Consigo agir assim após longo treinamento interior. Às vezes sigo derrapando, mas me dou conta do equívoco. Acredito haver mérito nisso.
Não por acaso, uma de minhas frases preferidas é a do filósofo iluminista Voltaire: “Ele era um homem tão ignorante que tinha respostas para tudo”. Poucas coisas são incontestavelmente verdadeiras ou falsas, sendo matizadas por uma sucessão de definições introjetadas em nossa mente. E o tempo, ainda bem, vai nos dando uma compreensão objetiva, permitindo mudanças baseadas na ponderação e nos juízos organizados deforma funcional. Conheço gente que age como se estivesse em um front de guerra. Armas sempre em punho, prontos para reagir frente a algo que lhe pareça distorcido. Isso faz mal para o coração e o fígado. Opto por ficar em paz, mesmo recebendo a pecha de isento. Prefiro a gentileza do silêncio, mantendo-me fiel a meus princípios de conduta.
É melhor ir tateando, reconhecendo o terreno das possibilidades. O adoecimento mental está ligado à incapacidade de ser flexível. Em determinadas instâncias há de se manter o sangue frio para evitar confrontos pois, como já é sabido, baixar a voz em uma discussão potencializa a chance de ganhá-la. Desconfio que no futuro os posicionamentos radicais tenderão a aumentar. Os algoritmos contribuem para tanto. Só recebemos matérias e notícias refletindo os conteúdos acessados anteriormente, reforçando-os. Esse é o real poder da época atual. O resultado é a confirmação de um conjunto de “valores” contaminados já em sua origem e a entrega de informações que enriquecemos magnatas do Vale do Silício. Sair dessa bolha é um ato de resgate da vontade própria.
O pensamento determina a nossa identidade. Ele precisa ser filtrado. O equilíbrio nasce da ponderação e é conveniente nela permanecer.