A vida é muito parecida com uma sequência de erros de gravação. Tentamos dar o melhor, mas nem sempre obtemos o esperado. Os bons profissionais refazem a cena o número de vezes que for necessário. Com persistência, vai se chegando àquilo proposto no início. Para tanto, vamos precisar de paciência e uma razoável dose de autoconfiança. Tudo bem equilibrado para não sermos tentados a desistir. Porém, em uma época que nos exige apenas uma tomada, sem a possibilidade de ensaio, a tendência será a de nos frustrarmos ou adoecermos emocionalmente.
Olho para mim e constato a quantidade de vezes em que sofri sem necessidade alguma. Valia-me de uma lupa, deixando de lado os aspectos luminosos, embora sendo em um percentual maior. Desconsiderava o elogio alheio: sentia um prazer perverso em apontar aquilo que deveria ter rendido um resultado superior. A beleza da existência, no entanto, é nos proporcionar uma ampliação da consciência. Num determinado momento, quase sem notar, percebi: esse roteiro já não me serve mais. E, com a alma leve, segui em frente, sabendo ser parte da minha evolução.
É impossível obter um alto padrão de desempenho em tudo. Fatores alheios à nossa vontade entram na equação: estado emocional, ambiente, interação com os demais. A suspensão da crítica severa sobre nós mesmos é um poderoso antídoto e nos leva a parar de sofrer quando conseguimos “somente” noventa por cento do aventado. Deixamos de perceber o que há de positivo. E o curioso, por assim dizer, é que normalmente os outros nem se dão conta: nos torturamos por miudezas. Isso pouco parece ter importância: exigências supremas continuam a nos incomodar.
Uma das consequências nefastas desse tipo de comportamento é passarmos a cobrar de todos o que exigimos de nós. A severidade se expande e nada é capaz de satisfazer. Ultrapassamos a medida do razoável e nos apegamos a uma meta inalcançável. Os limites individuais são variáveis e constatar isso é o começo da cura de um processo que comumente nos leva ao adoecimento. Afinal, com o passar do tempo, devemos estar preparados para as frustrações, pois elas nos possibilitam uma compreensão menos rígida das habilidades e falhas. Elas serão inscritas na areia, como deve ser no mundo das gentes.
O que define uma pessoa excessivamente rígida é a sua incapacidade de relaxar. Ela está tensa, em busca de um ideal inalcançável. Eu dizia para mim: “Ficou bom, mas poderia ter sido melhor”. E a aflição se estendia por dias, semanas. Agora me autorizo a aproveitar o que posso oferecer, com possíveis equívocos, pois é esta a nossa condição.
Hoje estou ciente que cada um busca ir até o limite de si, às vezes com extraordinário esforço. E ele precisa ser valorizado. Baixar as expectativas costuma ser a opção ideal. A ansiedade diminuirá assim que adotamos posturas mais flexíveis.
Permita-se o erro. Ele pavimenta o caminho da felicidade. Seja imperfeito!