Se algo nos desagrada, colocamos o dedo em riste e apontamos a falha, o defeito, o comportamento errado. E, quase sempre, nos afastamos de quem nos incomoda com uma postura, digamos, indelicada. Já fiz isso no decorrer da existência por não me predispor a mostrar com sutileza se alguém se portava de forma grosseira, trocando o diálogo civilizado por um vocabulário de tons agressivos. Desse jeito, em nada contribuímos para a modificação das condutas. Na maioria das vezes, as pessoas simplesmente se recusam a assimilar outro modo de reagir e seguem no piloto automático, sem se questionar. Parece óbvio, mas geralmente esquecemos de nos sugerir a importância de ter uma perspectiva diversa de nos relacionarmos.
Damos mil desculpas: falta de paciência, de tempo, pouca vontade em investir neste processo, pois comumente ele demora para apresentar resultados. Há alguns anos comecei a fazer abordagens com retorno garantido. Falar nem sempre mobiliza a sensibilidade alheia. O essencial para nós pode deixar indiferente a tantos. Então começo, através das minhas atitudes, a me comportar de maneira diametralmente oposta àquela que vejo se repetir diante de mim. A mudança é imediata. Crescemos copiando exemplos, essa é a verdade. Mas para acontecer, precisamos ter disponibilidade emocional. Muitos desconsideram essa possibilidade por se acharem autossuficientes a tal ponto de sequer olharem para o outro. É uma pena, pois atrofia essa rica noção de pluralidade.
Podemos testemunhar belos momentos quando um ser próximo a nós dá sinais evidentes de estar deixando de lado certa rispidez em um encontro. Ampliei a tolerância neste quesito: descobri que agimos inadequadamente por desconhecer a possibilidade de múltiplas opções. É fundamental ter uma abertura psíquica para receber sugestões. Ao escantear as já conhecidas resistências, tudo fica mais fácil. Não será uma conquista do dia para a noite, em virtude de estarmos mexendo com o nosso ego.
Em épocas idas, fazia caminhadas com uma amiga pela qual nutria um carinho genuíno. Só havia um problema: ela conversava sem parar. Aquele silêncio bom das áreas isoladas do interior ficava contaminado. Com a maturidade, comecei a minimizar os efeitos que tinha sobre mim e a lhe dizer como era relevante ver a paisagem com atenção, em reverente respeito. Depois de três semanas, com toda a naturalidade, os passeios foram ficando tranquilos e estar ao seu lado passou a ser uma experiência agradável.
Isso se tornou um hábito e hoje nem me incomodo ao enfrentar desafios dessa espécie. E é ótimo, pois apontam para o que deve ser melhorado. Um detalhe: evite usar um tom de voz agressivo ou autoritário ao fazer uma observação. Estamos imersos na busca do autoaperfeiçoamento. Acrescente uma dose de humildade e a estrada estará pavimentada para alcançar a tão propalada sabedoria. Que pode se dar ainda na juventude. Afinal, ser é aprender.