Melhor ficar entre nós dois esta revelação: sou um homem rico, muito rico. Tenho feito, desde o início da idade adulta, aplicações com grande rendimento, gerando um patrimônio admirável. Como é difícil estabelecer um patamar de investimentos em caráter definitivo, continuo me empenhando bastante em aumentar o que hoje deixaria uma boa parcela da população extremamente satisfeita. Porém, é da condição humana querer mais.
Aprendi a variar e cada depósito é um desafio. Arrisco-me, bem o sei, mas o resultado raramente tem me decepcionado. Preciso ser arrojado, evitando perder juros e dividendos polpudos por me acomodar e repetir o meramente oportuno. Sou ambicioso.
Prezo em dizer: atravessei a crise financeira de 2008 sem sofrer perda alguma. E, veja, nem sou o tipo de pessoa conservadora neste quesito. Gosto de me aventurar. Onde estaria a graça da vida se nos contentássemos só com o que ela nos entrega, afastando o desejo de se jogar no novo? Claro, o mérito deve ser dividido com quem me orientou corretamente, embora a intuição me ajude bastante.
Estou garantindo uma velhice confortável, sem sobressaltos. Penso além do presente, pois é essencial semear agora para... você já sabe o final da frase.
Não passo uma semana sem destinar um bom tempo para aumentar esse capital. Vou revelar neste momento: ele pertence à ordem dos afetos. A vontade nunca foi empilhar escrituras ou ostentar vários dígitos em uma poupança bancária.
É com os amigos (já perdi a conta de quantos são) que gasto (ganho) a maior parte das horas. Considero-me bastante feliz com a escolha, mas confesso certa ansiedade: mesmo realizado, sinto a tentação de ir em busca de outros. É incontrolável. Dizem por aí ser inviável ostentar dúzias deles.
A cartela, salvo exceções, se restringe a poucos, sob o risco de confundi-los com meros conhecidos. Discordo. Na minha matemática amorosa consigo computar uma vasta soma, sem sonegar nada na declaração de posses. Confesso andar envaidecido quando tento contá-los nos dedos das mãos: repito a operação várias vezes. Ando exibido como eu só.
A propósito, fiz uma ótima descoberta: solidão pode não ser destino, e sim desinteresse em usufruir de nossos melhores anos sem construir essa reserva. Evite chegar aos oitenta para iniciar tal projeto.
Fica aqui, então, essa sugestão: comece cedo a acumular. Encha a sua casa e, se necessário, alugue um espaço extra. E, o mais importante: jamais se aquiete com o que tem. Sempre é possível descobrir novas fontes de renda. Ao fazer a contabilidade, sinto um orgulho danado. Aproveitei a existência. Neste quesito, fui um sábio. Ao observar o gráfico dos extratos, percebo: ele inclui faixas etárias dos quinze aos noventa e quatro anos. Mantive-me fiel ao princípio da variedade.
Quem diria: minha tímida alma rural se expandiu e já é uma multinacional. Todo esforço se converteu em alegria.