Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro, pai do estudante Ronei Faleiro Júnior, morto há quase sete anos, manteve distância do Fórum de Charqueadas pelo tempo que pôde. Do outro lado da rua, o homem de 55 anos que viu o filho ser morto a socos, pontapés e garrafadas evitava até mesmo olhar para o prédio da comarca.
Com um semblante cansado, permaneceu com a cabeça baixa até as 9h30, quando foi chamado para o início do júri de três dos nove réus pelo crime. Dirigiu-se ao edifício admitindo um temor: de que a justiça esperada não seja a definida.
— É mais um retorno àquela data, àquele momento trágico. Uma atrocidade. Pela busca da justiça, nós precisamos suportar isso, até o último instante — disse, em desabafo para os jornalistas que acompanham o julgamento na manhã desta quarta-feira (22) na cidade.
A festa que terminou em briga, no dia 1 de agosto de 2015, marcava o ano de formatura da turma do ensino médio. Naquela madrugada, o homem foi até o Clube Tiradentes, como combinado com o filho. Na saída da comemoração, acabou também envolvido nas agressões. Socorreu o garoto até o hospital de Charqueadas, mas precisou estender a viagem até Porto Alegre, devido à gravidade dos ferimentos. O adolescente não resistiu.
— O trauma que fica pra todos não está em discussão lá dentro (do Fórum). Mas se a justiça for realizada do tamanho que precisa ser feito, não tenho dúvida que vai servir de alerta para os próximos que virão: deixar as pessoas voltarem para casa.
A última vez em que reencontrou formalmente o grupo acusado dessa briga foi em janeiro de 2020. O homem os observou durante três dias de julgamento até que uma alegação da defesa suspendeu os trabalhos, resultando no fim do conselho de sentença: os advogados defenderam que o adolescente morreu em decorrência de uma doença, que agiu para potencializar o sangramento.
— Eles (os réus) entram com a mão suja de sangue no Fórum. E a defesa usa elementos para postergar uma resposta. Inaceitável aguardar tanto tempo por isso — criticou Ronei.
O primeiro julgamento deveria ter ocorrido em novembro de 2019, contudo, foi postergado a pedido dos defensores.
Nesse terceiro ato, uma amiga da família se manteve ao lado de Tatiane Faleiro, 46 anos. A mãe de Ronei Faleiro Júnior vestiu uma camisa com o rosto do filho, coberta por um casaco em tons amarelados. Permaneceu quieta, e até para isso precisa do suporte de medicamentos.
— Depende de remédios. A gente tá assim: anda um pouquinho, mas volta, a dor retorna — complementou Ronei, mostrando a cartela de calmantes guardada no bolso interno da jaqueta.
Após perder o único filho, o casal deixou Charqueadas, onde vivia. Cerca de dois meses depois do assassinato, eles se mudaram para a Capital, onde vivem atualmente. Uma peça da casa foi remontada: o quarto de Júnior, definido pelo pai como "um santuário", local visitado frequentemente em busca de conforto.
— A gente vai ali e tenta amenizar um pouco a dor. Para muitos pode parecer mais um motivo pra sofrer, mas pra gente é uma forma de resgatar as boa lembranças. Um refúgio, um santuário pra gente — contou o pai.
Até a próxima sexta-feira (24), o novo júri irá analisar as provas contra e a favor dos réus. Os demais júris estão marcados para 4 e 11 de julho.
— A família precisa disso. A justiça também é para a família. Imagina viver sete anos a expectativa de um desfecho? — questionou Ronei.