A Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon, na zona leste de Porto Alegre, onde dois policiais militares foram mortos na noite de quarta-feira (26), durante mais de uma década tem sido palco de uma guerra que tem como pano de fundo o tráfico de drogas. Os reflexos das disputas pelo controle do comércio de entorpecentes atingem não só a comunidade do local, como outras regiões da Capital e uma das maiores galerias do Presídio Central.
Próxima e de fácil acesso a moradores da região central e das zonas Sul, Leste e Norte da Capital, a Vila Maria da Conceição sempre foi um dos mais lucrativos pontos de venda de drogas da Região Metropolitana. De acordo com o Ministério Público (MP), o faturamento mensal do império, que durante muito tempo foi comandando por Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição, chegou a ser de R$ 1,2 milhão.
Já na segunda metade dos anos 2000, integrantes da quadrilha da Conceição, quando presos, passaram a ocupar uma mesma galeria no Presídio Central: a 2ª do pavilhão A. Com isso, conquistaram o status de facção, ao lado de organizações como Os Manos, Unidos Pela Paz (que sucedeu a Os Brasas) e Os Abertos.
Em 2012, o assassinato de um dos principais gerentes de Paulão, o cadeirante Juvenil Marques de Souza Júnior, o Juvenal, 44 anos, provocou o primeiro racha no império. Por trás das execuções, como mandante, de acordo com as investigações, estava Carlos Alberto Silveira Drey, o Beto Drey, enteado de Paulão.
O assassinato deixou padrasto e enteado em lados opostos. Com o comando dividido e enfraquecido, um triunvirato formado por três homens até então de confiança de Paulão, entre os quais, João Carlos da Silva Trindade, o Colete, promoveu a queda do patrão e assumiu o controle do tráfico na região.
A tomada de poder deu-se por meio de um banho de sangue, com mortes de ambos os lados. O trio responsável pelo golpe contou com o apoio da quadrilha dos V7, surgida no bairro Santa Tereza. No Presídio Central, os que se mantiveram fieis a Paulão foram obrigados a trocar de galeria.
No início de 2017, um integrante do triunvirato, que teria sido deixado de lado pelos outros dois, uniu-se a um núcleo da facção Bala na Cara e tentou tirar os outros dois do poder, promovendo uma nova onda de assassinatos na Conceição. Mas não teve êxito.
Suspeita de traição
Em 23 de agosto daquele ano, Colete acabaria sendo morto, em uma casa na vila. De acordo com integrantes da quadrilha, ele estaria "provocando suspeitas" em lideranças dos V7, por "estar circulando livremente" entre os rivais Bala na Cara. No Presídio Central, no dia seguinte, a segunda galeria do pavilhão A teve um de seus dias mais tensos: no corredor central, de um lado colocaram-se os fieis a Colete e, do outro, integrantes dos V7. Ambos com muitos estoques (facas e facões artesanais).
Do lado de fora, policiais militares, com armas letais, ameaçavam invadir a tiros, caso houvesse um confronto. Os "Conceição", fieis a Colete, em maioria, conseguiram expulsar os até então aliados do espaço. Os V7 foram para um dos pátios, onde permaneceram acampados por meses, até conquistarem um novo espaço o sistema prisional.
O tráfico de drogas na Vila Maria da Conceição, enquanto isso, seguiu disputado, com os Bala na Cara promovendo incursões sangrentas. Contudo, de acordo com a Polícia Civil, o comando segue nas mãos de um dos três responsáveis pela tomada de poder. Paulão cumpre pena na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas.