Uma reunião no final da manhã desta terça-feira (29) entre a Brigada Militar – que administra a Cadeia Pública de Porto Alegre (nome oficial do Presídio Central) –, a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e a cúpula da Segurança Pública tentava encontrar uma solução para um impasse entre detentos, que desde a última quinta-feira (24) mantém 164 presos dormindo em um dos pátios da cadeia. Enquanto isso, nas ruas da Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon, o clima continua tenso e a população convive com policiamento reforçado. A crise na cadeia, acredita a polícia, representa o maior risco de explosão de uma nova guerra aberta do tráfico na vila da zona leste de Porto Alegre.
Na noite de segunda-feira (28), a morte de Alexandre Vieira da Silva, 38 anos, na Rua Irmã Neli, no coração da Vila Maria da Conceição, é, possivelmente, um novo capítulo de um racha interno no comando do tráfico da região. No mesmo ataque, uma mulher foi ferida em um dos braços. De acordo com o delegado Rodrigo Reis, da 1ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre (DHPP), o homem vitimado não tinha qualquer relação com o tráfico. Uma das suspeitas é de que a mulher fosse o alvo. A outra linha de investigação considera que os criminosos, trafegando em um Idea, tenham atirado a esmo contra a vila.
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A ameaça de uma guerra do tráfico se tornou concreta na última quarta-feira (23), quando João Carlos da Silva Trindade, o Colete, foi executado a tiros dentro de casa. Ele era apontado pela polícia como um dos principais líderes do tráfico de drogas na Vila Maria da Conceição. A 2ª Galeria do Pavilhão A, do Presídio Central, é controlada pelos traficantes desta região de Porto Alegre. Até a morte de Colete, também ocupavam lugares na galeria criminosos ligados a uma quadrilha originária da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre. Foram justamente estes os presos expulsos pela liderança da facção na semana passada.
– Era o Colete quem mantinha o elo entre esses grupos. Desde o dia da sua morte estamos atentos, colhendo informações e tentando agir preventivamente, sobre possíveis represálias do grupo que levou a pior na cadeia – afirma o delegado Rodrigo Reis.
Conforme o comandante do policiamento da Capital, coronel Jefferson Jaques, no momento em que aconteceram os disparos na Vila Maria da Conceição durante a noite de segunda, havia somente uma guarnição no local. Três linhas de ônibus que circulam pela vila tiveram a circulação suspensa. Logo após o crime, houve reforço no policiamento e, segundo o oficial, não há prazo para acabar. Dessa forma, os ônibus voltaram às ruas ao amanhecer.
– Além do policiamento reforçado do 19º Batalhão e do Batalhão de Operações Especiais (BOE), também estamos permanentemente recebendo informações do serviço de inteligência para nos anteciparmos a possíveis ações dos criminosos – explica o coronel.
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Na cadeia, apesar da reunião da manhã, o problema ainda não foi solucionado.
– A situação é crítica, mas no Presídio Central não temos mais o que fazer por estes presos. Não há espaços em outras galerias para colocá-los. O que estamos fazendo é garantir alimentação e local para a higiene dos detentos – assegura o comandante da Cadeia Pública, tenente-coronel Marcelo Gayer.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Susepe limita-se a dizer que está buscando vagas em outras casas prisionais "na medida do possível". E não estabelece prazo para que a situação dos detentos seja solucionada. A Vara de Execuções Criminais (VEC), do Tribunal de Justiça, acompanha a discussão.