Foram intermináveis segundos de um olhar perdido antes de conseguir explicar o clima entre os colegas do 19º Batalhão de Polícia Militar, localizado na zona leste da Capital. O soldado Tiago trabalhava com os policiais que foram mortos em confronto com criminosos na noite de quarta-feira (26) em Porto Alegre. Consternado, contou não ter conseguido dormir após ser informado sobre a perda dos companheiros.
— Fui para casa e, quando soube, vim para cá. Todos vieram. O nosso luto é trabalhar. Passamos a madrugada prendendo — conta.
Oficiais do Pelotão de Operação Especiais (POE) não trocavam qualquer palavra entre si, como se entendessem o que queriam dizer pelos gestos de cabeça. Olhos que falavam e que demonstravam o luto.
— A gente é uma família — comentava um sargento, que preferiu não se identificar.
O subcomandante do 19º batalhão, major Alexsandro Goi, classificou a situação como "uma tragédia".
— Ficamos com um sentimento de derrota. Eram policiais com conduta irrepreensível. É uma tragédia. Em 25 anos de Brigada, nunca tinha tido que confortar duas famílias por morte. Não tem o que dizer. O silêncio é o melhor nessas horas — disse o oficial, que passou a madrugada no cerco montado junto à Rua Paulino Azurenha, no bairro Partenon, próximo ao local onde ocorreu o confronto.
Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, e Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos, faziam uma abordagem de rotina em um beco quando foram baleados por criminosos. Os dois chegaram a ser levados ao Hospital de Pronto Socorro, mas não resistiram aos ferimentos.
Seixas, natural de Caçapava do Sul, estava desde outubro de 2009 na Brigada Militar e completaria 33 anos no próximo dia 5 de julho. Feijó, de Viamão, havia ingressado na corporação em setembro de 2012 e faria aniversário no dia 14 de julho.
Cerco durante a madrugada
O confronto entre policiais e criminosos ocorreu por volta das 22h de quarta-feira. Um criminoso morreu na troca de tiros e dois foram presos.
A BM fez cerco na região até as 5h desta quinta-feira. A ação foi feita pelo Batalhão de Choque, que parou e revistou motoristas que trafegavam pela via.
Pelo menos cinco viaturas barravam os acessos, enquanto policiais entraram em becos e realizaram varreduras. Por volta das 2h, um helicóptero sobrevoou a região com ampla iluminação sobre as casas.