Pelo segundo dia consecutivo, a Polícia Civil mira facção criminosa envolvida no assassinato de um preso dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3. Na manhã desta quarta-feira (18) são cumpridas 40 ordens judiciais de busca e apreensão no Estado e em Santa Catarina. O foco, desta vez, é o núcleo da organização com atuação em Alvorada, na Região Metropolitana.
A chamada Operação Magnus Oris é resultado de investigação da Delegacia de Homicídios de Alvorada. Os mandados são cumpridos em Alvorada, Viamão, Porto Alegre, Cachoeirinha, Gravataí e São Leopoldo, além de Forquilinha, município de Santa Catarina a cerca de 80 quilômetros da divisa com o Rio Grande do Sul.
Até as 9h30min, oito pessoas haviam sido presas em flagrante. Seis armas foram apreendidas.
A operação tem como objetivo atingir os envolvidos nessa célula da facção relacionada ao tráfico de drogas na região dos bairros Aparecida e Stella Maris, em Alvorada.
Segundo o delegado Edimar Machado, o intuito é desarticular parte da estrutura da organização criminosa, prendendo outros integrantes do grupo que atuam no tráfico de drogas e ordenando mortes. Com as buscas em endereços relacionados ao grupo criminoso, a polícia espera apreender armas usadas na prática de homicídios.
Segundo a polícia, o líder desse núcleo do grupo criminoso, que atualmente está foragido, tem origem no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre. A região é berço de formação da facção criminosa, que se expandiu e possui ramificações em diversos municípios do RS. Um dos presos pelo assassinato dentro da penitenciária é de Alvorada.
O tenente-coronel Alexsandro Goi, comandante do 24° Batalhão de Polícia Militar (BPM) afirma que a ação tem como prioridade o combate aos crimes contra a vida.
Neste período de grande fluxo de pessoas nos municípios, a ação se traduz em uma necessidade fundamental para o bem-estar das comunidades e é o coroamento de um ano difícil para o Estado, mas histórico para a Segurança Pública. As instituições de segurança pública do Rio Grande do Sul estão a disposição de todos e preparada para mais um ano de sucesso em 2025.
A investigação da morte
Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson, foi morto a tiros de pistola dentro de uma cela da Pecan 3 no último dia 23 de novembro. A suspeita é de que a arma tenha ingressado na prisão com uso de um drone.
Antes do crime, o preso chegou a escrever uma carta alertando para o risco de ser mantido na mesma galeria do que rivais. O caso gerou uma crise no sistema prisional do Estado. Cinco servidores foram afastados temporariamente do Complexo Prisional de Canoas.
Dois apenados, que estavam na mesma galeria da vítima, foram presos pelo crime: Rafael Telles da Silva, 36 anos, o Sapo, e Luis Felipe de Jesus Brum, 21 anos. Ambos integram a mesma facção criminosa, que é rival do grupo até então liderado por Nego Jackson.
Sapo, apontado como um dos líderes do grupo, foi transferido para uma penitenciária federal fora do RS. Segundo o governo do Estado, a transferência já estava prevista.
O assassinato do preso, conforme a polícia, foi motivado pelas disputas entre os dois grupos. O caso segue sendo investigado pela DHPP para verificar a dinâmica do crime e se houve participação de outras pessoas.
Alvorada
O município da Região Metropolitana já foi o sexto mais perigoso do país, segundo o Atlas da Violência de 2019. O estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública analisou dados de 2017, quando 210 pessoas foram assassinadas no município de 187,3 mil habitantes.
De lá para cá, o cenário se alterou, com a redução dos crimes violentos. No primeiro semestre deste ano, Alvorada chegou ao menor número de homicídios já alcançado. Nos seis primeiros meses, foram 15 assassinatos. O ano segue com redução. De janeiro a novembro, Alvorada registrou 33 vítimas de homicídio – no mesmo período do ano passado tinham sido 49.
A série de ações
A ofensiva é considerada mais uma espécie de resposta ao grupo criminoso, após a morte de Nego Jackson. Entre as estratégias que vêm sendo adotadas pela Polícia Civil para tentar coibir os homicídios praticados pelo crime organizado, está a de realizar operações contra as facções diretamente envolvidas nesses crimes. Em razão disso, desde que ocorreu a morte dentro da Pecan 3 já foi realizada uma série de ofensivas. Confira:
Operação Visitatio Fatalis
Nessa terça-feira (17), quatro homens foram presos: dois com mandado de prisão preventiva e dois em flagrante por tráfico de drogas. A operação teve como alvo o núcleo do grupo com atuação nos municípios de Gravataí, Cachoeirinha e Canoas, na Região Metropolitana. Uma pistola de calibre 9 milímetros foi apreendida.
Queda Livre
Em 29 de novembro, a chamada Operação Queda Livre prendeu 11 pessoas por suspeita de envolvimento em assassinatos ocorridos em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Sapo é apontado como um dos mandantes de um dos crimes. Durante a operação, foram apreendidos controles de drones e também caixas do equipamento.
Lavagem de dinheiro
Um segundo inquérito da Polícia Civil foi aberto contra a facção envolvida na morte na Pecan 3. O foco da nova investigação é lavagem de dinheiro, ou seja, a forma usada pelo grupo criminoso para ocultar valores obtidos de maneira ilegal, como, por exemplo, por meio do tráfico de drogas. No centro dessa apuração está Sapo, apontado como um dos líderes da organização e também como um dos mentores da execução de Nego Jackson.
Contra o tráfico
Na última quinta-feira (12), a Polícia Civil realizou nova operação contra o tráfico de drogas e organização criminosa. O alvo é um grupo suspeito de integrar facção que seria liderada por Nego Jackson, e por Dezimar de Moura Camargo, o Tita. Os dois foram executados em novembro, sob a suspeita de execução por grupos rivais. Nove pessoas foram presas na operação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc).