O documentário da BBC The Truth About Obesity ("A Verdade Sobre a Obesidade", em tradução livre), elenca cinco fatores que podem estar afetando o seu peso sem que você saiba.
1. O seu microbioma
![Gonza Rodrigues / Arte ZH Gonza Rodrigues / Arte ZH](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/19210558.jpg?w=700)
O corpo humano é repleto de micro-organismos – há mais células de bactérias, fungos e vírus presentes em nosso organismo do que células humanas. Em número, os micro-organismos são 57% das células no corpo humano, embora as células humanas sejam maiores e representem mais massa e volume.
O entendimento científico dominante hoje é que esses microrganismos – o chamado microbioma – têm um papel enorme em diversos fatores na nossa vida e na nossa saúde, incluindo o peso. Afinal, a maior parte desses organismos estão no nosso sistema digestivo.
— Quanto maior a diversidade de microrganismos, mais magra é a pessoa. Se você tem sobrepeso, seus micróbios não são tão diversos como deveriam ser — explica o epidemologista Tim Spector, do King's College, em Londres.
Um exemplo são as gêmeas Gillian e Jackie: são muito parecidas, mas uma tem 41 quilos a mais do que a outra.
Spector acompanhou a saúde das duas durante 25 anos como parte do projeto de pesquisa Twin Research UK, que registra gêmeos no Reino Unido. Ele diz que a diferença de peso entre as irmãs se deve às diferenças em suas faunas microbianas.
Uma análise das fezes das gêmeas mostra que Gillian, a mais magra das duas, tem uma gama muito mais diversa de micróbios, enquanto Jackie tem poucas espécies de microrganismos vivendo em seu intestino. Um estudo feito por Spector com 5 mil pessoas mostra resultados similares.
Diversos fatores afetam a diversidade dos micro-organismos no corpo humano – do tipo de parto aos antibióticos usados durante a vida. Parte dos microrganismos são herdados da mãe, durante o parto normal. Outros são adquiridos no ambiente. Mas a maior parte vêm – e se prolifera – pela alimentação.
— Toda vez que você come, alimenta cem bilhões de micróbios. Você nunca janta sozinho — diz Spector.
Uma dieta rica em fibras, por exemplo, ajuda o microbioma intestinal a se desenvolver de maneira saudável.
2. A loteria dos genes
Porque algumas pessoas seguem dietas rigorosas e fazem exercício regularmente e mesmo assim sofrem para conseguir perder peso, enquanto outras se alimentam mal e são sedentárias, mas continuam magras?
Pesquisadores da Universidade de Cambridge dizem que os genes que herdamos têm uma influência de 40% a 70% sobre nosso peso.
— É uma loteria — diz a médica Sadaf Farooqi, pesquisadora da Universidade de Cambridge.
— Os genes estão envolvidos na regulação do peso e – se você tem uma falha em alguns genes, isso pode ser suficiente para estimular a obesidade.
Certos genes afetam o apetite – da quantidade de comida que se tem vontade de comer ao tipo de alimento que alguém pode preferir. Outros afetam a forma que queimamos calorias e se nossos corpos administrarão a quantidade de gordura de maneira eficiente.
Há pelo menos 100 genes que podem afetar o peso, incluindo um chamado MC4R. Acredita-se que uma em cada mil pessoal tenha uma mutação no MC4R, que afeta a fome e o apetite. As pessoas com essa mutação tendem a ter mais fome e comer comida mais gordurosa.
— Realmente não há nada que se possa fazer em relação aos genes. Mas, para algumas pessoas, saber que os genes as predispõem a engordar pode ajudar a lidar com a questão da dieta e dos exercícios— explica a pesquisadora.
3. A rotina
Há um fundo de verdade no velho ditado: "tome café da manhã como um rei, almoce como um lorde e jante como um mendigo".
O médico James Brown, especialista em obesidade, diz que quanto mais tarde comemos, maior a probabilidade de que ganhemos peso. Não porque estamos menos ativos à noite, como muitos acreditam, mas por causa de nosso relógio biológico.
— O corpo humano está programado de forma que manejamos com maior eficiência as calorias durante o dia, quando há luz, do que à noite, quando está escuro — explica ele.
Durante a noite, nosso corpo tem mais dificuldade de digerir gorduras e açúcares. Na última década, a hora do jantar no Reino Unido, na média, passou das 17h para as 20h – e isso contribuiu para o aumento nos níveis de obesidade do país, segundo Brown.
4. O efeito visual
O pesquisador britânico Hugo Harper, que pesquisa comportamento, diz que existem formas de mudar o comportamento alimentar inconsciente em vez de apenas contar calorias.
Uma estratégia, diz o especialista, é eliminar as tentações visuais. Isso pode ser mais efetivo do que confiar na nossa força de vontade consciente. Portanto é recomendável simplesmente não ter alimentos pouco saudáveis em casa, no ambiente de trabalho ou na bolsa.
É melhor ter sempre uma fruta ou algo leve por perto, caso tenha fome do caminho para casa ou no trabalho. Na cozinha, deixar os alimentos saudáveis à vista também aumenta as chances de você consumi-los.
Segundo Harper, temos uma tendência de comer sem pensar. Então uma boa ideia é tentar evitar ao máximo o hábito de comer coisas pouco saudáveis "automaticamente" – escondendo comidas gordurosas ou muito doces ou mesmo diminuindo o tamanho do prato.
5. Os hormônios
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Nosso apetite é controlado por hormônios, cuja produção pode ser afetada por diversos fatores. Alguns dos tratamentos para níveis extremos de obesidade funcionam também por controlar os hormônios.
O resultado da cirurgia bariátrica, por exemplo, não se deve apenas à redução do estômago do paciente, mas também ao efeito que ela provoca na produção de hormônios.
A cirurgia bariátrica faz com que os hormônios da saciedade sejam produzidos em maior quantidade e reduz a produção dos hormônios que causam fome. No entanto é uma operação arriscada, usada apenas em casos graves de obesidade.
Pesquisadores do Imperial College, em Londres, conseguiram recriar os hormônios que provocam a mudança do apetite após cirurgias do tipo com o objetivo de fazer um estudo clínico sobre isso. A pesquisa envolve dar aos pacientes, com uma injeção, uma mistura de três hormônios. Eles são utilizadas todos os dias, durante quatro semanas.
— Eles sentem menos fome, estão comendo menos e perdendo entre 2 a 8 quilos em menos de um mês — explica a médica Tricia Tan, que participa do estudo.
Ainda é preciso fazer mais testes para comprovar que o tratamento é seguro. Se for o caso, o plano é tratar os pacientes até que alcancem um peso saudável.