O Caderno Vida ouviu especialistas que discutem as regras de determinadas dietas, como o intervalo adequado entre uma refeição e outra e os possíveis efeitos nocivos de um jejum prolongado. Nesta parte da reportagem Tempo de Comer, veja como um dos programas mais divulgados sobre alimentação já não é mais unanimidade.
Antes amplamente disseminado, o esquema de alimentação em pequenas porções a cada três horas já não é mais visto como regra geral. Não há, segundo o nutricionista Rodrigo Cauduro Oliveira Macedo, uma frequência alimentar obrigatória ou ideal que se possa prescrever para todos.
O mais adequado é saciar a fome, com refeições balanceadas, cumprindo-se uma "agenda" bem particular. Existem pessoas para as quais bastam duas refeições, almoço e janta, e nada mais. O indicado é que nunca se atinja um estágio de fome tão intensa que o mal-estar interfira na capacidade de fazer boas escolhas e acabe induzindo ao exagero na montagem do prato.
– Geralmente perguntamos na consulta: quando você fica quatro, cinco horas sem se alimentar, como funciona a sua próxima refeição? Se você fica bem, se consegue escolher certo, tudo bem. Se fica mais de quatro ou cinco horas sem comer e na próxima refeição come chocolate ou fast-food, aí é bom que tenha uma frequência alimentar maior – exemplifica Macedo, mestre em Ciências do Movimento Humano.
O nutricionista destaca a relação existente entre a saciedade e os nutrientes. Proteínas, de forma geral, oferecem uma sensação de satisfação maior – é o caso de ovos, laticínios e carnes. Em segundo lugar, vêm os carboidratos, principalmente os integrais, como arroz, pão e macarrão. A seguir, as gorduras (óleos, manteiga, oleaginosas). Se a refeição carece de algum desses componentes, é provável que a fome reapareça mais rápido.
Airton Golbert, endocrinologista da Santa Casa e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), comenta que o tema ainda é discutido em pesquisas. O médico aponta o resultado de um estudo, apresentado no congresso de 2015 da Associação Americana do Diabetes, que avaliou grupos de pacientes que consumiam a mesma quantidade de calorias em duas ou seis refeições diárias. Os cientistas concluíram que o total calórico ingerido é mais importante do que o número de vezes em que essa quantia de calorias é distribuída ao longo do dia.
Golbert concorda que o intervalo apropriado é variável, podendo ser bem diferente de um indivíduo para outro.
– Se a gente comer mais seguido, não vai ficar com muita fome, e comendo pequenas porções o organismo absorve melhor os nutrientes – explica o endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. – Se o objetivo é emagrecimento, tem que restringir calorias e aumentar o exercício, daí você vai gastar mais, tirar das reservas – resume.
Quem, por vezes, exagera, na churrascada do final de semana ou na festa de aniversário repleta de docinhos e salgadinhos, pode se sentir impelido a "descontar" o excesso na refeição seguinte, o que é contraindicado.
– Se a pessoa come um monte no almoço de domingo e à noite quer pular a janta, o problema vai ser a supercompensação depois. Ela dorme com fome, acorda com fome e, de novo, perde o critério de escolha do alimento – alerta Macedo.