A dona de casa Rochele Storck, 47 anos, pulou da retroescavadeira que salvou a sua vida e desandou a chorar. Ao lado do marido, Samuel Storck, 53, que trabalha como supervisor de calçados, eles foram retirados pela Defesa Civil de onde moram antes das 8h desta quinta-feira (2), no bairro Barrinha, em Campo Bom. A localidade sofre com a fúria das águas do Rio dos Sinos, que transbordou e segue avançando.
— Ontem (quarta-feira), o rio começou a subir bastante. Não perdemos nada em casa, mas meus vizinhos perderam muita coisa — diz Samuel.
Os dois pensam em voltar para casa para salvar os móveis. Nunca viram nada igual e Samuel tem convicção de quem tem uma parcela de culpa neste cenário de tragédia.
— Na minha opinião é o próprio ser humano que tem colaborado para isso acontecer. Tanto desmatamento e poluição — observa.
Muitos moradores atravessam a ponte da Travessa Pio XII. A travessia está interditada para veículos em função dos riscos pela elevação do Rio dos Sinos. Apenas carros das autoridades de segurança passam pelo trecho.
Nesta quinta, o açougueiro Valderez Schütze, 44, levava a cadela chamada Rata no colo, mais os gatinhos Fredy e Léo em caixas de transporte. Todos iriam ficar na casa do irmão Mauri Schütze, 50, que vive em uma região onde a água ainda não chegou.
— Tá muito difícil a situação. Como não para de chover, o rio vai continuar subindo. Vou perder muita coisa em casa — prevê Valderez.
O coordenador da Defesa Civil de Campo Bom, Paulo Silveira, estava caminhando pelas ruas alagadas do bairro. Ele havia dormido apenas uma hora na última noite.
— Estamos com 44 pessoas desabrigadas no ginásio municipal e temos outras 50 desalojadas nas casas de amigos e parentes — afirma, dizendo que a tendência é o rio subir mais em decorrência da chuva.
Calamidade pública
O governo do Estado declarou, na noite de quarta-feira (1º), estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul devido às chuvas intensas. O decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Estado.
No final da tarde de quarta, em uma entrevista coletiva, o governador Eduardo Leite afirmou que o Rio Grande do Sul passa pelo maior desastre climático da história do Estado. Disse também que os estragos da crise atual vão superar o impacto das enchentes de setembro do ano passado, que provocaram 54 mortes e devastaram municípios da região dos Vales.
Nas redes sociais, Leite alertou a populações das cidades de Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Encantado, Estrela, Lajeado e os municípios que seguem no curso do Rio Taquari que busquem por lugar seguro.
As regiões mais críticas
As principais regiões afetadas pelas enchentes são a Metropolitana, Central, Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari e serra gaúcha.
Veja, nos links, a situação em algumas cidades gaúchas:
- Santa Maria: a cidade registrou a maior quantidade de chuva no mundo nesta quarta-feira. Onze pontes danificadas e 70% da cidade sem água
- Lajeado e Estrela: rio Taquari supera a marca de 30 metros. É a maior cheia da história nos locais. Governador Eduardo Leite pede que pessoas deixem áreas de risco.
- Encantado: Seis desaparecidos. "Começou a estalar e depois veio a casa", conta morador
- Sinimbu: prefeita relata cenas de destruição no município
- Guaporé: mais de 80 casas alagadas e famílias desabrigadas
- Esteio: "Eu nem sei como está agora e o que deu para salvar", diz morador
- São Sebastião do Caí: quase 300 pessoas fora de casa em razão da cheia do rio
- Candelária: oito desaparecidos, cerca de 120 pessoas no aguardo de ajuda e 56 resgatadas