Apesar de as escolas serem espaços para educar para a paz, para o ambiente e para a aceitação das diferenças, as estátuas de duas girafas que ficam em frente a uma creche na Cidade Baixa costumam amanhecer com a cabeça decepada. Os animais, famosos por serem um dos objetos mais vandalizados da cidade, foram substituídos após o último episódio de vandalismo ocorrido em agosto. Agora, a diretoria da escolinha Girafinha Travessa, na Rua da República, acredita que pode, enfim, frear os ataques por meio de uma parceria com a empresa Melnick, que bancaram as novas estátuas e aumentarão a segurança e a iluminação próximo ao local.
Assim que as estátuas são arrumadas, elas sempre voltam a ter a cabeça arrancada. A escola tenta localizar as peças retiradas para consertá-las, mas, desta vez, as cabeças não foram encontradas, e as estátuas foram integralmente trocadas. Elas já foram substituídas e, na próxima segunda (1º) ou terça-feira (2), será feita a pintura das novas peças.
A empresa Melnick está lançando um empreendimento residencial na República e tem desenvolvido algumas ações ao longo da rua, como a revitalização de espaços, floreiras e passeios públicos e a limpeza de fachadas de prédios. O plantão de vendas, que contará com segurança, fica próximo à escola. Assim, a empresa ofereceu a troca das estátuas e o apoio no monitoramento para evitar novas depredações.
— Com isto, estamos tentando trazer a revitalização, o resgate da Cidade Baixa, aquela linda Cidade Baixa que tantos porto-alegrenses adoram frequentar e que hoje está tão devastada, malcuidada — explica Claudia Lima, gerente de lançamentos da Melnick.
De acordo com Robson Bubols, diretor administrativo da Escola de Educação Infantil Girafinha Travessa, desde que as estátuas foram instaladas, há cerca de 20 anos, estima-se que já tenham sido depredadas mais de cem vezes. Em torno de duas vezes por mês, algum reparo é necessário, seja nas orelhas, no rabo ou no pescoço.
— Com certeza, não teve um mês que a gente não teve que arrumar alguma coisa. Só quando teve o isolamento (por causa da pandemia) — afirma.
Após o último ataque, a escola instalou câmeras de segurança no local. Desde então, foi captada intensa movimentação durante a noite — com algumas pessoas chegando a colocar tijolos onde ficariam as cabeças das girafas, e outras tirando fotos com o espaço vazio após as estátuas terem sido removidas.
— Mesmo quando estavam quebradas, e agora sem, o fluxo continua, fica mesmo um vazio quando não estão ali e não estão completas. Não adianta, a gente precisa estar sempre reformando, virou um patrimônio querido da Cidade Baixa — relata Bubols.
O principal impacto dos estragos, no entanto, recai nas crianças que frequentam o local.
— Isso é muito difícil de trabalhar porque elas ficam muito tristes, mesmo. A gente tem que fazer várias histórias de explicação. Por exemplo, antes de tirar e fazer a substituição, foi feito um trabalho nas turmas, conversando com eles também, porque eles passam e ficam tristes mesmo, até choram, então, é bem ruim — lamenta.
A grande questão que nem as crianças nem os adultos entendem é o porquê de as girafinhas serem alvos de tantos ataques — o que já foi objeto de análise até mesmo por psicanalistas.
— Essa é realmente a maior pergunta de todas. Não saberia dizer, eu acho que é por querer estragar mesmo, assim como o pessoal picha as coisas, estraga outros tipos de monumentos também — pondera o diretor. — Todo mundo que passa comenta algo triste quando elas estão estragadas, ninguém fica feliz vendo-as assim.
As girafas já estiveram em outros lugares, até mesmo dentro da escola, mas a diretoria sentiu a perda do simbolismo e do contato com a comunidade e com as crianças, que costumam brincar no local e visitar o espaço nos fins de semana — motivo pelo qual a escola optou por não tirá-las do bairro.
A diretoria da Girafinha Travessa está agora na expectativa de que os episódios de vandalismo diminuam e as estátuas permaneçam inteiras — o que tem sido apoiado pela população.
— Com elas ficando mais tempo sem cabeça, várias pessoas passavam em frente e davam sugestões, "vou ajudar a cuidar", então o bairro compra muito a presença delas, o engajamento está sendo muito positivo. A expectativa é positiva, de acreditar que vai, sim, resolver, e que, se não resolver, com certeza vai diminuir — ressalta Bubols.
Produção: Fernanda Polo