Duas corujas suindaras, popularmente conhecidas como corujas-das-torres, retornaram à natureza na tarde desta quinta-feira (28), após passarem por reabilitação no Zoológico Municipal de Canoas, na Região Metropolitana. Retirados do ninho ainda filhotes, os animais silvestres foram encontrados em uma escola de Cerro Grande do Sul, no centro-sul do Estado, e encaminhados ao zoo pela Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente do município.
A soltura das corujas Rafael e Leonardo ocorreu às 16h30min, na Fazenda Guajuviras, também em Canoas, que é uma área de preservação. Apesar dos nomes, o veterinário do zoológico Daniel Vasconcellos explica que não foi possível descobrir se os dois animais, da espécie Tyto furcata, são realmente machos.
As aves chegaram ao local em 25 de agosto deste ano, com cerca de 30 dias de vida. Renata Gautier, educadora ambiental e bióloga do zoo, diz que elas foram “sequestradas” do ninho. Segundo ela, muitas pessoas ainda têm a crença de que corujas trazem mau agouro. Desta forma, os animais estavam correndo risco de vida — motivo pelo qual foi recomendado o encaminhamento para o zoológico de Canoas, que recebe espécies silvestres que estejam em conflito com o meio urbano para tratar, reabilitar e devolver à natureza.
No zoo, Rafael e Leonardo passaram por avaliação de veterinários e biólogos. E, apesar de não estarem machucados, os especialistas precisaram implementar um processo de reabilitação muito delicado, já que as corujas não poderiam ser devolvidas à natureza ainda filhotes porque, sem os pais, acabariam morrendo de fome:
— Os filhotes são mais suscetíveis ao imprinting, que é quando eles se acostumam com a imagem do ser humano, e aí associam as pessoas ao alimento, à proteção e ao abrigo. Isso não pode acontecer. O animal tem que entender que os seres humanos representam uma ameaça, e isso é o mais difícil na reabilitação de um filho órfão, principalmente de uma ave de rapina, porque elas são muito suscetíveis ao imprinting — explica Vasconcellos.
Após dois meses de cuidados, as aves estavam prontas para retornar ao seu habitat natural. O veterinário destaca que o papel do zoológico é justamente dar o suporte da reabilitação para reintroduzir os animais na natureza já adultos, quando conseguem voar e se alimentar por conta própria.
Processo de reabilitação
Segundo Daniel Vasconcellos, veterinário do Zoológico Municipal de Canoas, o processo de reabilitação requer muito cuidado para evitar ao máximo o contato com os animais. No início, a alimentação é assistida, ou seja, os cuidadores fornecem a comida às aves. Em seguida, começam a estimular que eles se alimentem sozinhos, fazendo com que procurem a comida no recinto onde estão.
Quando já estão se alimentando sem o auxílio dos cuidadores, o próximo passo é fornecer presas inteiras, como roedores e pequenas aves — que são obtidas a partir de abatedouros legalizados.
— Quando percebemos que elas estão conseguindo se alimentar de presas inteiras, começamos um processo de reabilitar e a treinar a capacidade de voo, o que é feito com o aumento gradativo do recinto deles — explica Vasconcellos.
A soltura à natureza depende desses fatores: o animal precisa conseguir se alimentar sozinho da presa inteira e estar com boa capacidade de voar (quando consegue alçar voos verticais, sair do chão para um poleiro alto e manter voos horizontais por uma distância considerável). Isso, conforme o veterinário, indica que a ave está minimamente apta para ser solta, considerando que precisa dessas habilidades para adquirir alimentos.
Além disso, a condição de saúde é avaliada. Por isso, os animais passam por diversos exames para verificar se não há nenhuma alteração morfológica ou doença infecciosa.
Sobre a espécie
Com dois discos faciais bem destacados que lembram a forma de um coração, as corujas suindaras têm ampla distribuição por todo o Brasil e são comumente encontradas em áreas urbanas. Elas são chamadas de corujas-das-torres ou corujas-da-igreja porque costumam ocupar construções abandonadas devido à presença de roedores. Assim, conseguem obter alimentos com facilidade. No verão, geralmente se alimentam de insetos e, durante o inverno, consomem mais roedores e pequenos mamíferos e invertebrados.
— Elas fazem um grande controle de roedores nas cidades — ressalta Renata Gautier, educadora ambiental e bióloga do Zoológico Municipal de Canoas.
De acordo com os especialistas, nesta época do ano é comum aparecerem animais silvestres órfãos. No entanto, não é recomendado dar comida ou retirá-los do local em que estão para levá-los para casa, pois isso pode gerar riscos tanto para a pessoa quanto para o animal. Os especialistas orientam intervenção somente quando a espécie estiver em risco — se houver cachorros por perto ou possibilidade de atropelamento, por exemplo. Neste caso, é preciso chamar um órgão especializado para avaliar e ajudar.
O Zoológico Municipal de Canoas disponibiliza esse tipo de serviço dentro da cidade, mas também recebe animais de outros municípios para reabilitação, como ocorreu com as corujas suindaras. Ao avistar um animal silvestre em perigo ou ferido, é possível entrar em contato com o zoo por meio do telefone (51) 99787-1078, que também é WhatsApp.
Estrutura do zoológico
- Atualmente, cerca de 110 animais residem no local por não terem capacidade de voltar à natureza
- Outros 250 estão em tratamento
- De janeiro a setembro deste ano, o zoo recebeu 625 animais de 63 espécies diferentes
- Nesse mesmo período, 209 animais retornaram para a natureza
O que fazer ao encontrar animal silvestre
Ao localizar um animal silvestre em perigo ou ferido, entre em contato com alguns desses órgãos:
- Sema-RS - Divisão de Fauna: (51) 3288-8187
- Polícia Militar: 190
- Centro de Triagem Ibama RS: (51) 3224-8937
Exposição de Halloween
Com o intuito de desmistificar crenças populares de que animais como corujas e gatos pretos trazem mau agouro e conscientizar a população, o Zoológico Municipal de Canoas está promovendo uma exposição de Halloween chamada “Desvendando mitos sobre os animais”. A programação especial, que terá atividades surpresa para as crianças, iniciou nesta quinta-feira (28) e vai até 12 de novembro. De acordo com a bióloga Renata Gautier, o evento marca a inauguração do espaço Expo Zoo, dedicado à educação ambiental.