Os pinípedes são um grupo de mamíferos marinhos migratórios adaptados à vida aquática e terrestre. O termo pinípedes (em latim, pinna significa pena, e podos, pés) significa pés em forma de pena. Quando em terra, costumam escolher as rochas ou as plataformas de gelo fixas ou flutuantes, geralmente em locais onde ocorre uma alta produtividade marinha. Deste modo, conseguem se alimentar sem realizar um grande gasto de energia na procura de alimento.
Eles estão divididos em três famílias: Otariidae, que engloba os leões e lobos-marinhos; Phocidae, grupo das focas e elefantes marinhos; e Odobenidae, a família das morsas, que vivem isoladas nas águas do Ártico. Sete espécies de pinípedes utilizam o litoral do Rio Grande do Sul e, neste ano, todas elas tiveram registros feitos na costa: o lobo-marinho-do-sul (Arctocephalus australis), o lobo-marinho-antártico (Arctocephalus gazella), o lobo-marinho-subantártico (Arctocephalus tropicalis), o leão-marinho-do-sul (Otaria flavescens), a foca-caranguejeira (Lobodon carcinophagus), a foca-leopardo (Hydrurga leptonyx) e o elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina).
— Os pinípedes têm importância ecológica muito grande por serem predadores de topo. São indicadores de qualidade ambiental. Conservando estes animais que estão no topo da cadeia, que se alimentam, principalmente, de grandes peixes, sabemos que toda a cadeia abaixo dele está bem equilibrada. A proteção destes animais é a garantia de que este ambiente ainda possui uma estrutura mais ou menos equilibrada — justifica o diretor do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), de Rio Grande, que mantém o projeto Pinípedes do Sul para proteger os animais, o biólogo e ecólogo Sérgio Estima.
De acordo com Estima, o lobo-marinho-do-sul é o pinípede mais abundante no litoral do Estado. Frequentemente é visto descansando nas praias da região. É um mamífero que habita o continente sul-americano desde o Rio de Janeiro, no Oceano Atlântico, até a Península de Paracas (Peru), no Pacífico. A população mundial é estimada em 400 mil exemplares, sendo considerada de baixo risco de extinção. As fêmeas vivem até 30 anos e os machos, até 20. Os filhotes migram sozinhos para se alimentarem. Nas colônias reprodutivas, formam-se haréns, com até 13 fêmeas por macho.
A segunda espécie mais avistada na costa gaúcha é a dos leões-marinhos, aponta Estima. Eles se distribuem pela região costeira da América do Sul, agrupando-se em locais rochosos. Apenas os machos costumam migrar, permanecendo no inverno em regiões menos frias, como o Brasil, para se alimentarem e descansarem. No verão, migram até as colônias de reprodução, onde estão as fêmeas, no extremo sul do continente. Entre os meses de novembro e janeiro, os machos adultos realizam disputas físicas para conquistar as fêmeas e montar haréns de até 15 delas para a reprodução. O tempo médio de vida dessa espécie é de 20 anos e sua população está estimada em 275 mil indivíduos.
Além do acompanhamento dos refúgios de vida silvestre da Ilha dos Lobos e do Molhe Leste, o projeto Pinípedes do Sul também realiza o monitoramento das praias. Todos os meses, os pesquisadores, liderados por Estima e Martí, percorrem um total de 340 quilômetros do litoral sul, da barra da Lagoa do Peixe, em Mostardas, até a barra do Arroio Chuí, no Chuí. E ainda a região de Torres, Passo de Torres e Laguna.
Eles registram todos os animais vivos e mortos e resgatam os feridos, que são levados ao Museu Oceanográfico de Rio Grande, da Furg, para tratamento e reabilitação, antes de serem soltos novamente. Os pesquisadores também analisam o encalhe de outros animais marinhos, como as tartarugas, e o comportamento deles em solo.
Aulas de preservação
Criado há 30 anos por alunos de oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), preocupados com as questões ambientais do município, o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), com sede na praia do Cassino, em Rio Grande, tornou-se uma instituição de referência em pesquisa e preservação ambiental no Brasil. Um dos primeiros projetos foi a preocupação com as dunas do balneário Cassino, quando ainda não se falava sobre o tema. Elas estavam sendo retiradas para serem usadas como aterro pelo município. Na época, o grupo alertou a comunidade sobre a função ecológica delas e de proteção do próprio balneário. Três décadas depois, o cordão de dunas permanece preservado e já ajudou a proteger a comunidade do avanço do mar – devido ao aquecimento global – e das grandes ressacas.
Estima ressalta que o Núcleo não é uma instituição que defende uma única espécie ou grupo de espécies. O Nema também atua junto aos pescadores, às suas famílias e participa na gestão de meio ambiente auxiliando os governos municipal, estadual e federal. O diretor da instituição reforça a importância dos patrocínios, como o conquistado pelo Pinípedes do Sul, para ampliação da pesquisa e do alcance nas comunidades pesqueiras.
— Com aporte financeiro, ampliamos a área de atuação e reproduzimos materiais em grande escala para a comunidade, como 20 mil cadernos explicativos para os estudantes e 3 mil camisetas para os pescadores. Isso ajuda a inserir os conceitos de conservação e preservação costeira e marinha. A campanha se chama Nossa Vida, Nossos Mares, porque trabalhamos muito mais do que apenas com os animais, englobamos os pescadores, a área portuária, as famílias dos pescadores, englobando todos num mesmo objetivo — afirma Estima.
Uma das atividades desenvolvidas pelo projeto é a de auxiliar os pescadores que chegam ao porto histórico de Rio Grande. Para isso, foi criada uma sala específica no local. Os pesquisadores conversam com os pescadores e esclarecem dúvidas sobre legislação e documentos necessários para o exercício da profissão.
Pescador há 30 anos, o catarinense Magno Fagundes, 46 anos, aprovou a iniciativa depois de visitar a sala e ser atendido pelos técnicos do Pinípedes do Sul:
— Achei que foi importante porque a gente consegue ter uma troca, eles nos dão a teoria e a gente passa um pouco do que a gente vive lá fora, a prática.
Colega de Magno, Giovani da Costa, 39 anos de vida e 22 de pesca, já conhecia o projeto, mas confessou temer a intenção dos pesquisadores:
— Havia uma barreira entre nós e eles, pois imaginava que estavam aqui para acabar com o nosso trabalho. No fim, estão aqui só para nos ajudar. Farei a minha parte divulgando o trabalho para que os meus colegas também saibam da importância de preservar o meio ambiente. É dele que tiramos o nosso sustento.
É na educação ambiental de adultos e crianças que o Nema, desde a sua fundação, aposta para garantir o futuro das espécies. A ação considerada como a mais importante do Pinípedes do Sul consiste no trabalho junto às escolas dos municípios litorâneos que têm estudantes filhos de pescadores. Ao todo, mais de 700 crianças e adolescentes já conheceram o projeto. Nas aulas, com duração de duas horas, a oceanóloga Kamila Debian e a geógrafa Cecília Pfarrius apresentam o projeto aos pequenos, ensinam sobre os animais marinhos e o perigo da poluição no mar.
Uma das escolas visitadas foi a EMEF Maria da Graça Reyes, em Rio Grande. A diretora Liciane Fernandes aprovou a ação, destacando que o projeto é de extrema importância porque os alunos precisam ter conscientização ambiental e fazer a relação com o mundo em que vivem. Na turma de Educação Infantil, as crianças ainda confeccionaram com argila seus próprios lobos e leões-marinhos.
— As pessoas jogam coisas no mar, mas agora eu não vou jogar mais — promete Mickael Moraes, cinco anos.
— Eu vou na praia fazer piquenique e vou juntar meu lixo — garante Valentina Junges, cinco anos.
Basta terminar a atividade com os técnicos para conferir com as crianças as lições aprendidas. Ysrael Gularte Contreira, cinco anos, filho e sobrinho de pescadores, saiu entusiasmado da sala de aula.
— E o que você aprendeu na aula de hoje? — pergunta a repórter.
Convicto, Ysrael responde:
— Não posso mais jogar lixo na água porque eles (os animais marinhos) não falam, não são pessoas, não vão dizer que estão com dor e vão morrer.
Saiba diferenciar
Focas
- Não têm orelhas
- Não se apoiam sobre os membros anteriores
- Nadadeiras anteriores curtas
- Nadadeiras posteriores sempre orientadas para trás
- Em terra, se locomovem com dificuldade
Leões e lobos-marinhos
- Têm orelhas
- Conseguem se apoiar sobre as nadadeiras anteriores
- Nadadeiras anteriores mais longas
- Têm capacidade de rotação dos membros posteriores
- Em terra, se locomovem com maior facilidade
FONTE: Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar)
Se você encontrar um animal destes vivo
- Jamais toque nos animais, pois eles podem ser agressivos.
- Mantenha distância mínima de cinco metros, pois esses animais são portadores de zoonoses que podem ser transmitidas para os humanos.
- Evite aglomerações em volta do animal. Muitas pessoas ao redor causará grande estresse a ele e pode ser perigoso.
- Nunca os alimente.
- Nunca tente retirá-los da praia ou transportá-los sem avaliação de profissionais qualificados (biólogos e veterinários) em fauna marinha.
- Jamais tente recolocar o animal de volta ao mar.
- Respeite a rotina de vida das espécies que utilizam a praia para descanso.
- Avise as autoridades competentes – Nema, pelo fone (53) 3236-2420, ou Ceclimar, (51) 3627-1309 podem ajudar na orientação – e, sempre que possível, realize registro fotográfico a distância para facilitar a avaliação dos biólogos e veterinários quanto à real necessidade de resgate.
FONTES: Projeto Pinípedes do Sul e Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar)