Stephen J. Martin notou a presença de grandes montes de cerca de 3 metros de altura e 9 de largura ao longo da estrada por onde dirigia em uma parte remota do Nordeste brasileiro.
— Após 20 minutos, continuamos vendo esses montes e comecei a questionar o que seriam — conta Martin, entomologista da Universidade de Salford, na Inglaterra, que esteve no Brasil pesquisando o declínio mundial da população de abelhas polinizadoras.
Ele pensou que poderiam ser pilhas de entulho descartado de obras na rodovia, mas seus companheiros de viagem o corrigiram:
— "São apenas montes de cupim." E eu insisti: "Vocês têm certeza?", e eles disseram que achavam que sim — relembra Martin.
Em uma viagem posterior, Martin encontrou, por acaso, Roy R. Funch, ecologista da Universidade Estadual de Feira de Santana que já estava organizando uma datação radiométrica para determinar a idade dos montes.
— Eu disse a ele que parecia haver milhares deles, mas ele contestou, dizendo que havia milhões — relata Martin.
Funch, entretanto, também subestimou os números. Em uma pesquisa publicada na semana passada na revista científica Current Biology, Martin, Funch e seus colegas registraram os achados de anos de investigação. Quantos montes? Aproximadamente 200 milhões, segundo estimativa dos cientistas.
— Eles estão por toda parte — explica Funch.
O responsável pelos montes de formato cilíndrico é o Syntermes dirus, uma das maiores espécies de cupim, medindo aproximadamente 2,5 cm, que se espalha por uma área correspondente à da Grã-Bretanha, resguardando um espaço de quase 20 metros entre um monte e outro.
— Como humanos, nunca construímos uma cidade tão grande assim em nenhum lugar — espanta-se Martin.
Os cientistas também se surpreenderam quando receberam os resultados da datação radiométrica de 11 dos montes: o mais novo tinha aproximadamente 690 anos e o mais velho, pelo menos, 3.820 anos, quase a mesma idade das Grandes Pirâmides de Gizé no Egito.
— Aquilo simplesmente me deixou transtornado — confessa Funch.
Martin disse que eles usaram a idade mínima sugerida pelos dados, mas o monte mais velho pode ter o dobro da idade. Além disso, os pesquisadores concluíram que, para construir 200 milhões de montes, os cupins precisariam ter escavado 3,84 quilômetros cúbicos de terra – volume que equivale a 4 mil Grandes Pirâmides de Gizé.
"É o maior exemplo de bioengenharia do mundo produzido por uma única espécie de inseto", escreveram os cientistas.
Outra surpresa é que os montes são apenas montes. Outros cupins constroem montes com redes complexas de túneis que permitem ventilação para ninhos subterrâneos. No entanto, ao seccionar alguns deles, Funch e Martin encontraram apenas um tubo central que levava ao topo, e não depararam com nenhum ninho.
Esses montes não são estruturas de ventilação, apenas pilhas de terra. Ao escavarem redes de túneis subterrâneos, os cupins precisam descartar a terra em algum lugar, por isso a carregam pelo tubo central até o topo do monte, onde a descartam. O que também explica o espaçamento regular entre os montes. A princípio, Funch e Martin pensavam que a razão era a rivalidade de colônias, mas, quando colocaram um cupim de um monte perto de outro vizinho, não houve conflito, indicando serem da mesma família. Eles chegaram à conclusão de que o padrão é simplesmente uma maneira eficiente de separar as pilhas de resíduos.
Montes jovens e ativos podem atingir de 1,2 a 1,5 metro nos primeiros anos, atesta Funch. Já a maioria dos mais antigos está aparentemente inativa. Os cientistas não sabem se isso significa que os cupins abandonaram o local ou se simplesmente não precisam mais cavar após terem concluído a construção dos túneis necessários.
Apesar de os habitantes locais saberem da existência dos montes de cupim, poucos visitantes os notam. A extensão da construção é escondida pela caatinga.
— É por isso que permaneceram desconhecidos por tanto tempo. É impossível vê-los encobertos pela vegetação nativa, e são poucos os cientistas que passam por aqui — justifica Funch.
Na maior parte do ano, com temperaturas alcançando 37°C, ou ainda mais quentes, as árvores ficam secas e pálidas. A paisagem retoma o verde após um curto período de chuva, mas então as folhas caem e o cenário torna-se desolador novamente.
Como parte da vegetação foi roçada, os montes tornaram-se visíveis e, há aproximadamente uma década, a resolução das imagens de satélite registradas pelo Google Earth ficou tão boa que Funch pôde identificar montes individuais. Ele visitou alguns dos locais para verificar que os montes estavam lá.
Por Kenneth Chang