Em qualquer cidade, uma estrutura elegante em estilo neoclássico como a do Viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros, seria motivo de orgulho. Em Porto Alegre, é razão de vergonha mesmo depois de já ter passado por uma ampla reforma no começo dos anos 2000. O local é alvo costumeiro de vandalismo, sofre com infiltrações e, mais recentemente, serve como ponto de moradia improvisada, consumo e venda de drogas. Uma nova revitalização não sairia por menos de R$ 10 milhões, e não há recursos disponíveis em vista.
Em 1997, a estrutura já apresentava problemas estruturais que motivaram uma renovação de quatro anos a um custo de R$ 835 mil em valores da época – o equivalente a cerca de R$ 3 milhões hoje. A reforma deixou o chamado viaduto com a aparência de quando foi construído, nos anos 1930, com uma coloração cinza-claro, piso e revestimentos recuperados e instalações hidráulicas e elétricas refeitas. Menos de três anos depois da obra, a falta de manutenção e a ação de vândalos já haviam devolvido a um dos patrimônios históricos da Capital o antigo aspecto de sujeira e abandono.
Pichações tomaram conta da estrutura, luminárias foram quebradas e, aos poucos, as infiltrações se proliferaram pelas paredes. O coordenador da Memória Cultural da Secretaria de Cultura do município, Eduardo Hahn, afirma que a reforma anterior não chegou a renovar o sistema interno de drenagem da umidade, o que precisaria ser feito agora. O problema é que a prefeitura argumenta não ter de onde tirar os mais de R$ 10 milhões estimados para recuperar toda a estrutura.
— É uma das metas da coordenação, mas ainda não temos prazo. Uma das saídas será buscar outras fontes de recurso — afirma Hahn.
Outro problema sem data para ser resolvido é a ocupação por sem-teto. A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) contabiliza cerca de 40 moradores no local – muitos deles usuários de crack e álcool, o que dificulta as abordagens das equipes municipais.
— A partir do entardecer, nosso acesso ao local já fica bastante complicado — revela a técnica social da Central de Abordagem da Fasc, Patrícia Mônaco.
Como o órgão afirma que não faz parte da política nacional de assistência social remover pessoas à força, espera por um financiamento federal de R$ 1,8 milhão para contratar pessoas que atuem como redutores de danos (minimizando o impacto das drogas) e oferecer bolsas-moradia que facilitem a saída dos moradores do viaduto.
- Desde quando: anos 1990
- Principais entraves: falta de recursos e dificuldade para deslocar moradores
- Prazo para ser resolvido: não há
- Custo: R$ 11,8 milhões
Confira a situação de cada uma das eternas pendências:
Desde que a urbanização e a industrialização se intensificaram, entre os anos 1960 e 1970, Guaíba passou a receber quantidades crescentes de esgoto. Limpeza exige ao menos R$ 2,8 bilhões.
Número de agentes em Porto Alegre despencou nada menos do que 90% ao longo dos últimos 14 anos. De um total de 175, restam apenas 17 para solucionar a ocupação das vias públicas.
Nas últimas três décadas, naufragaram pelo menos cinco iniciativas para revigorar a área às margens do Guaíba. A mais recente aguarda o início das obras há quase seis anos.
Prefeitura reconta famílias para liberar ampliação da pista. Obra esbarrou em divergências sobre sua viabilidade e fez com que o caso fosse submetido à análise do Exército.
Construção demora três vezes mais do que o previsto e ainda faltam perto de R$ 20 milhões para toda a estrutura ser finalmente entregue, e a história chegar ao fim
Calcula-se que seriam necessários nada menos do que R$ 3 bilhões para implantar a rede de drenagem necessária para livrar a Capital de suas lagoas temporárias.