Os alagamentos se alastram a cada chuva forte, mas não cabe culpar o clima pela formação das piscinas em vias públicas. A falta de investimentos e de manutenção em equipamentos fundamentais ao longo de décadas deixou a cidade vulnerável às intempéries e sem perspectiva de uma solução completa. Calcula-se que seriam necessários nada menos do que R$ 3 bilhões para implantar a rede de drenagem necessária para livrar a Capital de suas lagoas temporárias.
Desde a enchente de 1941, a Capital tomou providências para impedir novos avanços do Guaíba, mas jamais adotou todas as medidas necessárias para se proteger da água que vem de cima. Nem mesmo fez o básico, como conservar o sistema anticheias já existente. Das 88 bombas destinadas a sugar as poças e despejá-las no Guaíba, atualmente 46 seguem fora de operação devido a problemas mecânicos ou elétricos que poderiam ter sido minimizados com um serviço mais cuidadoso de manutenção ao longo de sucessivas gestões municipais. Agora, estão em fase final licitações para contratar serviços de R$ 2,5 milhões para reformas mecânicas e outros R$ 500 mil para reparos elétricos, além de outra para duas novas bombas.
Também foi anunciado um investimento de R$ 106 milhões em uma obra de macrodrenagem na bacia do Arroio Areia, capaz de beneficiar 14 bairros na Zona Norte. É uma intervenção significativa, mas ainda assim representa só cerca de 3,5% de todo o recurso estimado para transformar Porto Alegre em uma cidade livre de alagamentos. O titular da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Surb), Ramiro Rosário, evita estabelecer uma data para a população perceber melhorias consideráveis no sistema de drenagem:
— Não queremos frustrar a população. Não sei em quanto tempo vamos deixar de conviver com alagamentos. Algumas medidas já têm impacto positivo em razão de ações pontuais como a reforma de algumas bombas ou ações preventivas que cuidam da limpeza de bocas de lobo e de redes pluviais.
- Desde quando: indefinido
- Principais entraves: falta de recursos, planejamento e manutenção ao longo do tempo.
- Prazo para ser resolvido: não há
- Custo: cerca de R$ 3 bilhões
Confira a situação de cada uma das eternas pendências:
Desde que a urbanização e a industrialização se intensificaram, entre os anos 1960 e 1970, Guaíba passou a receber quantidades crescentes de esgoto. Limpeza exige ao menos R$ 2,8 bilhões.
Número de agentes em Porto Alegre despencou nada menos do que 90% ao longo dos últimos 14 anos. De um total de 175, restam apenas 17 para solucionar a ocupação das vias públicas.
Local é alvo costumeiro de vandalismo, sofre com infiltrações e, mais recentemente, serve como ponto de moradia improvisada, consumo e venda de drogas.
Nas últimas três décadas, naufragaram pelo menos cinco iniciativas para revigorar a área às margens do Guaíba. A mais recente aguarda o início das obras há quase seis anos.
Prefeitura reconta famílias para liberar ampliação da pista. Obra esbarrou em divergências sobre sua viabilidade e fez com que o caso fosse submetido à análise do Exército.
Construção demora três vezes mais do que o previsto e ainda faltam perto de R$ 20 milhões para toda a estrutura ser finalmente entregue, e a história chegar ao fim