O Cais Mauá é o lugar onde os sonhos de uma cidade mais aprazível e conectada com a natureza acabam afundando. Nas últimas três décadas, naufragaram pelo menos cinco iniciativas para revigorar a área – e a mais recente aguarda o início das obras há quase seis anos. Burocracia, falta de articulação entre níveis de governo e mudanças de projeto explicam por que a renovação do porto se arrasta desde 1991.
Quando começou a espera pela renovação do cais, a União Soviética existia, o Papa era João Paulo II, e a Seleção contava dois mundiais a menos. Não havia internet para usuários domésticos no país, e a moeda era o cruzeiro, antes do cruzeiro real e do real. A iniciativa hoje se encontra na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams), que há quase um ano analisa as condições de implantação.
Em nota, a secretaria argumenta que "essa fase precisa ser minuciosamente estudada devido à complexidade do empreendimento", antes de conceder a licença de instalação. Procurada por GaúchaZH, a empresa responsável pelo empreendimento não se manifestou.
À parte da questão burocrática, a iniciativa enfrenta críticas de moradores a aspectos como a construção de centro comercial. Um processo sobre a reforma tramita no Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Nos anos 1990, a prefeitura pretendia converter cinco armazéns em restaurantes, museu e outros espaços sob o nome de Caminho do Porto. Depois, o Estado prometeu centro gastronômico e cultural, e foi lançado um terceiro projeto, o Porto dos Casais, que deu lugar à ideia do Complexo Industrial Cais de Cinema.
Quando o plano de revitalizar o porto foi retomado, em 2004, esbarrou em divergências entre prefeitura e Estado, e depois em questões burocráticas envolvendo o Estado e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Quando tudo parecia resolvido, a iniciativa voltou a ancorar – e agora não há prazo.
- Desde quando: 1991
- Principais entraves: burocracia, falta de articulação entre níveis de governo e mudanças de projeto
- Prazo para ser resolvido: não há
- Custo: cerca de R$ 500 milhões
Confira a situação de cada uma das eternas pendências:
Desde que a urbanização e a industrialização se intensificaram, entre os anos 1960 e 1970, Guaíba passou a receber quantidades crescentes de esgoto. Limpeza exige ao menos R$ 2,8 bilhões.
Número de agentes em Porto Alegre despencou nada menos do que 90% ao longo dos últimos 14 anos. De um total de 175, restam apenas 17 para solucionar a ocupação das vias públicas.
Local é alvo costumeiro de vandalismo, sofre com infiltrações e, mais recentemente, serve como ponto de moradia improvisada, consumo e venda de drogas.
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