A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do 8 de Janeiro ouvirá o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, nesta terça-feira (11), a partir das 9h. O ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, falará no Senado sobre as mensagens encontradas em seu celular entre ele e Jean Lawand Júnior, ex-subchefe do Estado Maior do Exército, discutindo um golpe de Estado. Desde 3 de maio, Mauro Cid encontra-se detido sob acusação de manipulação de cartões de vacinação.
O depoimento estava previsto para a última terça-feira (4), mas foi adiado devido ao calendário de votações na Câmara dos Deputados (a comissão é composta tanto de deputados quanto de senadores).
Mensagens golpistas no celular
Uma perícia da Polícia Federal (PF) encontrou no telefone celular de Cid trocas de mensagens com outros militares, tratando de ações que configurariam um golpe de Estado. As mensagens foram reveladas pela imprensa e depois tornadas públicas pela Justiça. Um dos interlocutores, o coronel Jean Lawand Junior, já depôs à CPMI. Ele negou as alegações, mas teve sua versão contestada pelos parlamentares e pode ser indiciado por falso testemunho.
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que Mauro Cid é obrigado a prestar depoimento. Ele pode ser acompanhado por advogados e tem o direito de ficar em silêncio para não responder perguntas que o incriminem. Como está sob custódia da Justiça, também receberá escolta policial.
O depoimento é fruto da aprovação de vários requerimentos de convocação, um deles é de autoria da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI. Também pediram a convocação de Mauro Cid os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (PT-ES), Rogério Carvalho (PT-SE), Ana Paula Lobato (PSB-MA) e o senador licenciado Marcos do Val (ES). Há também requerimentos dos seguintes deputados: Rafael Brito (MDB-AL), Rogério Correia (PT-MG), Rubens Pereira Júnior (PT-MA), Erika Hilton (PSOL-SP), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Duarte Jr. (PSB-MA), Duda Salabert (PDT-MG) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
De acordo com o senador Rogério, há indícios de que Mauro Cid tramou um golpe de Estado.
— Mauro Cid teve conversas com outro auxiliar do ex-presidente, Ailton Barros, nas quais houve trama para abolir o Estado Democrático de Direito no Brasil. Na conversa, Ailton afirma que o golpe precisaria da participação do comandante do Exército ou de Jair Bolsonaro, e que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, deveria ser preso — afirma o senador.
Para o senador Contarato, as mensagens do celular mostram que Mauro Cid pode ter envolvimento “com a conspiração que levou aos atos de violência do dia 8 de janeiro de 2023”.
De acordo com a deputada Jandira Feghali, as mensagens trocadas entre Cid e outros militares, servidores e pessoas ligadas à família de Bolsonaro revelam seu envolvimento no caso da tentativa de roubo de joias valiosas da Arábia Saudita e na fraude relacionada aos cartões de vacinação de Bolsonaro e de Cid.
— A análise das comunicações feitas por Cid tem revelado a prática de diversos atos ilícitos que vão muito além da quebra de sigilo do inquérito que apurava fraudes nas urnas eletrônicas — afirma Jandira Feghali.
Na avaliação do senador Randolfe, há suspeitas “sobre possíveis articulações do senhor Mauro Cid nos ataques aos prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e da Presidência da República, justificando a necessidade de seu depoimento para esclarecer seu papel e fornecer informações relevantes aos trabalhos da CPI”.