- Unido, o PL não aprova nada - disse Jair Bolsonaro no encontro do partido que, possivelmente, entrará para a história como a ruptura na direita no Brasil.
Foi na manhã de quinta-feira (6), menos de 12 horas do início da votação da reforma tributária na Câmara dos Deputados. Ao contrário do que supunha o ex-presidente, o PL, que conta com 99 deputados, não estava unido. Houve 20 defecções quando a proposta foi a plenário em primeiro turno e 18 em segundo.
Bolsonaro, que nunca foi um bom articulador político, perdeu a primeira batalha importante nas fileiras da oposição ao governo Lula. E, ao apostar na enfadonha tática da polarização ("a reforma tributária do PT"), acreditou que todos estavam com ele. Não estavam, como já insinuavam alguns aplausos em meio às vaias a Tarcísio de Freitas na fatídica reunião da quinta-feira (6). Bolsonaro tentou derrotar a proposta ou, no mínimo, adiar a votação. Falou para a bolha. Apostou errado. Saiu menor.
Os principais atores políticos em Brasília souberam tirar uma casquinha desse capítulo histórico que o país viveu ao aprovar a mudança discutida há três décadas. Ironicamente, dois ex-aliados do ex-presidente, Arthur Lira e Tarcísio, foram os que melhor aproveitaram o "momentum".
Lira, o mais poderoso presidente da Câmara da história recente, impôs sua agenda e, consciente da importância do dia, assomou à tribuna instantes antes da votação. Em exatos cinco minutos e 45 segundos, deu caráter histórico ao que viria a seguir.
- Não nos deixemos levar pelo radicalismo político - pediu.
Tarcísio evidenciou que a política tem mais tons de cinza do que supõe a simplificação bolsonarista. Em janeiro, Lira já havia ensinado essa lição de pragmatismo político quando, para se manter no comando da Câmara, comprou, em parte, a agenda do PT.
Tarcísio, a criatura, saiu maior que o criador, Bolsonaro. O governador do Estado mais rico do país, São Paulo, chegou a Brasília disposto a se opor à reforma, mas recuou quando percebeu que sairia por cima se apenas deixasse sua marca no texto - sem parecer instransigente. Não apenas ganhou apoio do centro, como abocanhou a direita não radical, isolou radicais, e, ao mesmo tempo, não deixou que o Planalto ficasse com todo o protagonismo.