O retorno do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) a Brasília, nesta semana, para negociar a reforma tributária, teve ares de estreia. Não que o atual governador de São Paulo desconhecesse os meandros da capital.
Ao contrário, desde que trocou a farda de capitão do Exército pelo terno e gravata, Freitas fincou raízes na burocracia estatal, primeiro como técnico do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), durante o governo Dilma Rousseff, depois como consultor legislativo, no mandato de Michel Temer, até chegar a ministro da Infraestrutura em Jair Bolsonaro. Mas, neófito em negociações políticas no Congresso, Freitas, que derrotou Fernando Haddad no segundo turno da eleição para o governo de São Paulo, em 2022, encara sua estreia nacional como articulador.
Desembarcou em Brasília como um crítico da reforma tributária, comandou em reunião entre governadores do Sul-Sudeste e parlamentares, na terça-feira, e, aos poucos, foi moldando uma nova posição sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) a ponto de aparecer lado a lado com Haddad, seu ex-rival, perante às câmeras, na quarta-feira e dizer que concorda com 95% do texto. Nesta quinta-feira (6), ele tentou explicar, em reunião do PL, com Waldemar da Costa Neto e o ex-presidente Jair Bolsonaro, por que a direita não pode "perder a narrativa de ser favorável à reforma".
- Senão a reforma tributária acaba sendo aprovada, e quem aprovou? - questionou.
Foi hostilizado por boa parte do público e até pelo ex-presidente, que depois de dizer que, "unido, o PL não aprova nada", espalhou a boca pequena que Freitas não teria experiência política. A máquina de destruir reputações dos escudeiros do ex-presidente, na verdade, já se movimentava desde a foto de Freitas com Haddad, diante dos primeiros sinais de concordância do governador com espinha dorsal da proposta, abrindo mão da câmara de compensação em troca de melhor governança no Conselho Federativo. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, ironizou a frase, dizendo que não "era 95%, mas 100% contra a reforma tributária do PT". Fabio Wajngarten, assessor de Bolsonaro e ex-secretário executivo do Ministério das Comunicações, declarou "não à reforma do Lula e do PT". Eles ignoram, propositalmente, que a atual proposta não é originária do Planalto. Foi formulada por economistas e apresentada pelo deputado Baleia Rossi (MDB), por meio da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 45, em 2019 e tratada com desprezo pelo governo Bolsonaro.
No vídeo, o momento em que Bolsonaro interrompe Tarcísio de Freitas
Tarcísio de Freitas notabilizou-se nesta semana por demonstrar equilíbrio, diálogo e moderação. A reunião com o PL, da qual, segundo fontes teria saído decepcionado (há quem diga que até chorou), pode ter sido o ponto de rompimento com o ex-chefe, Bolsonaro, do qual era visto como o herdeiro político. Freitas, como disse Haddad, colocou os interesses nacionais acima das questões regionais e de partidos. Marcou posição pragmática e não ideológica. Saiu maior. Sua volta a Brasília foi, na verdade, uma escala para um voo solo nacional.