Nessa terça-feira (20), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do 8 de Janeiro ouviu o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, o primeiro a ser interrogado, no inquérito sobre os atos antidemocráticos. Após prestar depoimento, ele afirmou que falou a verdade. Mas, para a relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), Silvinei mentiu e pode ser chamado para novo depoimento, caso a comissão ache necessário. As informações são do portal g1.
O ex-diretor-geral é suspeito de ter usado a estrutura da PRF para boicotar ou dificultar o deslocamento de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula Silva no segundo turno das eleições, sobretudo no Nordeste, reduto político do petista.
— Saio muito feliz. Cansativo, quase 15 horas de depoimento. A gente conseguiu responder a todas as perguntas, sem exceção. A gente trouxe a verdade e trouxemos informações para senadores e deputados da oposição, do governo. Acredito que a partir de hoje eles terão uma visão diferente do que aconteceu — afirmou Silvinei a jornalistas ao deixar a CPI, segundo o g1.
Eliziane avaliou o depoimento como "muito importante". E completou:
— A gente viu ao longo de todo o processo ele tergiversando, mentindo e tentando desviar o foco principal da pergunta. Às vezes se fundamentando em palavras muito pequenas para não tentar responder no objeto específico de fato das nossas perguntas.
Na opinião do presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), não houve mentira:
— Claro que (Silvinei) não mentiu. Claro que não mentiu. A senadora Eliziane fez uma pergunta, é uma questão semântica. Na resposta que foi dada, eu entendi que não houve mentira —declarou.
Maia acrescentou ainda que não usará o poder de presidente da CPI para mandar prender as pessoas "por qualquer motivo". Se uma pessoa promete dizer a verdade à CPI e o presidente da comissão conclui que ela mentiu, pode determinar a prisão.
Relembre
A convocação de Silvinei foi feita na sessão de 13 de junho, quando o colegiado bateu o martelo para ouvir 36 pessoas nessa primeira fase — em sua maioria pessoas ligadas ao ex-presidente Bolsonaro.
O requerimento para convocá-lo foi feito pela relatora Eliziane, mas outros três documentos também pediam seu depoimento, sendo eles apresentados pelos senadores Ana Paula Lobato (PSB-MA) e Fabiano Contarato (PT-ES) e pelo deputado federal Rafael Brito (MDB-AL).
No início do depoimento, Silvinei classificou com "crime impossível" o uso das operações para obstruir o processo eleitoral. No dia do segundo turno das eleições de 2022, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, chegou a se reunir às pressas com Silvinei para ordenar a suspensão das blitze.
Moraes expediu decisão para proibir que a PRF abordasse veículos utilizados no transporte público de eleitores. Mas, chegado o dia 30, as redes sociais foram tomadas por vídeos de ônibus no Nordeste paralisados por policiais rodoviários. Apesar do descumprimento da ordem judicial, Silvinei fez elogios à atuação de Moraes.
À CPI, o ex-diretor-geral da PRF disse ainda ter a consciência "tranquila" sobre o período no qual comandou a instituição. Por outro lado, admitiu que, se errou, vai "pagar".
Durante as eleições, ele também usou as redes sociais para defender o voto no ex-presidente. Nos stories, compartilhou uma foto da bandeira do Brasil e escreveu: "Vote 22, Bolsonaro presidente". No depoimento, Silvinei afirmou que a publicação foi apagada devido à "polêmica" e que é "normal na PRF os policiais terem um candidato na sua hora de folga".
Na CPI, foi questionado por Eliziane sobre uma suposta agressão a um frentista durante abordagem da PRF em Santa Catarina. Conforme a relatora, o frentista teria sido agredido por Silvinei por se recusar a lavar uma viatura. Por não ter relação com o 8 de Janeiro, o questionamento deu início a um bate-boca entre parlamentares da oposição e a relatora. A sessão teve de ser interrompida.
Passada a confusão, o depoente disse que foi condenado em primeiro grau na Justiça Cível de Santa Catarina pela suposta agressão, mas que está recorrendo porque a história é "fantasiosa".
Silvinei assumiu o posto de diretor-geral da PRF em abril de 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro deu posse a Anderson Torres no Ministério da Justiça.