A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do 8 de Janeiro ouve nesta terça-feira (20) o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques. Em sessão que começou tensa, o policial aposentado disse não ser verdade que a instituição direcionou sua fiscalização para o Nordeste durante o segundo turno das eleições de 2022 para beneficiar qualquer candidato à presidência da República. Silvinei é o primeiro depoente da CPI.
Ao ser questionado pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA) sobre a sua proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-diretor da PRF disse que nunca teve "relação íntima" com o ex-presidente e que sequer votou nele em eleições passadas porque "não morava no Rio de Janeiro". Silvinei é investigado pela Justiça do Rio de Janeiro por improbidade ao pedir voto em Bolsonaro nas eleições do ano passada e foi exonerado do cargo em dezembro.
— O que a gente tinha era uma relação muito profissional — afirmou Silvinei.
— As fotos que tenho com o presidente Bolsonaro foi porque ele deixou eu tirar e as fotos foram postadas na minha hora de folga — prosseguiu.
Silvinei que se disse alvo da "maior injustiça da história" deixou a relatora irritada ao não dar informações precisas as suas perguntas. O deputado do PL do Pará, Éder Mauro, que não é membro da CPI, interrompeu a senadora aos gritos dizendo que o depoente não poderia ser pressionado. Houve bate-boca e a sessão teve de ser interrompida no momento em que Eliziane mandou o Éder Mauro calar a boca.
Inquérito
Silvinei é alvo de inquérito aberto pela Polícia Federal em razão da atuação da PRF durante os dias de votação na eleição do ano passado. A investigação apura se a ação policial teria como objetivo atrapalhar a chegada de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula Silva, sobretudo no Nordeste, reduto político do petista.
No início do depoimento, Silvinei classificou com "crime impossível" o uso das operações para obstruir o processo eleitoral.
— Como nós teríamos 13 mil policiais no Brasil explicando a forma criminosa de operar sem ter uma conversa no Telegram, sem ter uma reunião? — questionou Vasques.
No dia do segundo turno das eleições de 2022, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, chegou a se reunir às pressas com Silvinei para ordenar a suspensão das blitze. Na véspera da votação, Moraes expediu decisão para proibir que a PRF abordasse veículos utilizados no transporte público de eleitores. Chegado o dia 30, porém, as redes sociais foram tomadas por vídeos de ônibus no Nordeste paralisados por policiais rodoviários.
Apesar do descumprimento da ordem judicial, o ex-diretor da PRF fez elogios à atuação de Alexandre de Moraes:
— O ministro foi muito importante nas suas decisões.
Antes do depoimento de Silvinei, a CPI votou requerimentos, como a convocação do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, general Gonçalves Dias.
O presidente do colegiado, Arthur Maia (União Brasil-BA), também incluiu de última hora a convocação do coronel Jean Lawand, que, por meio de mensagens, teria pedido ao ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid para interceder junto ao ex-presidente Jair Bolsonaro por um golpe de Estado para evitar a posse de Lula.
Silvinei assumiu o posto de diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal em abril de 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro deu posse a Anderson Torres no Ministério da Justiça.
Durante as eleições, ele também usou a conta para defender o voto no ex-presidente. Nos stories, compartilhou uma foto da bandeira do Brasil e escreveu: "Vote 22, Bolsonaro presidente". A postagem foi apagada horas depois.
A convocação de Silvinei foi feita durante a última sessão da CPI, no dia 13, quando o colegiado bateu o martelo para ouvir 36 pessoas nessa primeira fase — em sua maioria pessoas ligadas ao ex-presidente Bolsonaro.
O requerimento para convocá-lo foi feito pela senadora e relatora Eliziane Gama (PSD-MA), mas outros três documentos também solicitavam seu depoimento, sendo eles apresentados pelos senadores Ana Paula Lobato (PSB-MA) e Fabiano Contarato (PT-ES); e pelo deputado federal Rafael Brito (MDB-AL).