A adoção de medidas cada vez mais severas na tentativa de frear a expansão do coronavírus levou à linha de frente do combate à pandemia prefeitos, governadores, ministros e parlamentares. Isolado e sob pressão, o presidente Jair Bolsonaro reagiu nesta quarta-feira (18), ao liderar a primeira entrevista coletiva para anunciar reforço nas ações do governo federal.
A omissão inicial do presidente redirecionou os holofotes para outros personagens do poder. Deputado licenciado, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se tornou a principal referência nacional no enfrentamento da emergência sanitária. No campo da mediação política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ganhou ainda mais protagonismo.
— Maia é a liderança que está colocando o país a funcionar. É ele quem garante a governabilidade, mesmo sob ataques do presidente, cuja única atitude parece ser a banalização da discórdia — afirma a cientista política Maria do Socorro Braga.
Professora da Universidade Federal de São Carlos, Maria do Socorro afirma que há um desequilíbrio institucional no país, com prefeitos, governadores e presidentes dos poderes assumindo o controle das ações, quase que à revelia do governo federal. Nos Estados, até mesmo gestores aliados adotaram posturas antagônicas à de Bolsonaro. Em Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL) decretou emergência e colocou a Polícia Militar a fechar restaurantes e lojas. Em Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) chegou a confrontar manifestantes nos atos de apoio ao presidente, chamando os ativistas de irresponsáveis.
Confira a atuação de alguns personagens
Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS): principal autoridade do país no enfrentamento da pandemia, o ministro da Saúde liderou desde o início as ações sanitárias governamentais. Mandetta liberou recursos, organizou a rede hospitalar, coordenou as relações com os Estados e, sobretudo, manteve uma política de comunicação didática e transparente, esclarecendo a população sobre a gravidade da crise que se avizinha. Com uma ação sempre guiada pela ciência médica, acabou atraindo a antipatia do presidente, que desejava um discurso mais político.
Rodrigo Maia (DEM-RJ): maior antagonista de Bolsonaro nos últimos meses, o presidente da Câmara vem atuando como contraponto crítico ao presidente e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Alvo das manifestações com críticas ao Congresso e ao Judiciário chanceladas pelo presidente no domingo (15), Maia cobra atitudes do governo para atenuar os efeitos da pandemia na economia e na saúde da população. Na Câmara, está dando prioridade à pauta emergencial da crise sanitária, sobretudo à votação do decreto de calamidade pública que permite ao Planalto romper a meta fiscal.
João Doria (PSDB-SP): O governador de São Paulo está à frente do Estado com o maior número de casos no país, no qual foram registradas as três primeiras mortes por coronavírus. Desde o início da crise, alinhavou ações com o Ministério da Saúde, preparando a rede de saúde pública, e foi um dos primeiros a adotar medidas de restrição do convívio social, proibindo eventos e suspendendo aulas. Nesta quarta-feira, fechou shoppings, academias e liberou R$ 500 milhões em crédito subsidiado para evitar a descapitalização de empresas.
Eduardo Leite (PSDB-RS): mais jovem governador do país, o gaúcho tomou as primeiras medidas de combate à pandemia tão logo foi confirmado o primeiro caso de covid-19 no Estado. Leite suspendeu viagens, eventos e instituiu o teletrabalho para servidores com mais de 60 anos, suspendeu atividades da rede pública de ensino, visitas nos presídios e férias dos agentes de segurança. Dois projetos enviados à Assembleia Legislativa preveem contratação de 17 especialistas em farmácia, biologia, enfermagem e medicina, bem como aumenta salários de médicos.
Nelson Marchezan (PSDB-RS): a confirmação do primeiro caso de transmissão local da covid-19 em Porto Alegre coincidiu com o anúncio de mais uma série de medidas de distanciamento social tomadas pelo prefeito da Capital. Marchezan editou cinco decretos somente nesta quarta-feira (18), ampliando ainda mais as restrições. As iniciativas incluem o fechamento de casas noturnas, pubs, teatros, academias museus e shoppings. Bares e restaurantes tiveram a operação reduzida e até mesmo velórios e condomínios não poderão receber aglomerações.
Jair Bolsonaro (sem partido): com 17 auxiliares próximos diagnosticados com coronavírus, o presidente da República coleciona polêmicas na condução da crise sanitária. A insistência em classificar as medidas restritivas de "histeria" mesmo em meio ao registro das primeiras mortes provocaram questionamentos sobre sua capacidade de liderar o país no enfrentamento da pandemia. Acuado, Bolsonaro reagiu nesta quarta ao anunciar ações interministeriais. As iniciativas incluem reforços na segurança, saúde e a liberação de R$ 15 bilhões à população mais vulnerável economicamente.