Sentado entre os ministros da Fazenda, Paulo Guedes, e da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o presidente Jair Bolsonaro reuniu a cúpula do governo para mostrar, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (18), o que o governo está fazendo para enfrentar a pandemia do coronavírus. Todos usavam máscara, procedimento considerado pouco recomendável do ponto de vista pedagógico, já que os especialistas orientam a só usar o aparato quem está contaminado ou tem algum problema de saúde.
A máscara, que alguns retiraram na sua vez de falar, para não atrapalhar a comunicação, é apenas um detalhe. O que importa é o conteúdo e a mudança de postura. Coube a Mandetta explicar por que todos estavam usando o acessório:
— Trabalhei nos últimos dias com o general (Augusto) Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional), que teve resultado positivo. Estamos nos comportando como se fôssemos profissionais de saúde que estão atendendo pacientes. Todos nós, nas últimas 48 horas, uns mais, outros menos, tivemos contato com o nosso querido general Heleno, que é um elemento de coalizão entre os ministros.
Bolsonaro passou dias negando com palavras, atos e omissões a gravidade da pandemia. Foi à manifestação de 15 de março num ato de afronta à recomendação dos especialistas.
Enquanto Mandetta coordenava as ações acertadas na área de saúde, o presidente se afundava a cada manifestação. Ora dando corda à teoria conspiratória de que que o vírus é uma invenção chinesa para destruir a economia dos concorrentes, ora disseminando a tese de que o coronavírus era um exagero, uma fantasia da mídia, ora fazendo pirraça, como dizer que não abre mão da festa de aniversário, dele e da primeira-dama.
Na última e bizarra manifestação, na terça-feira (17), chegou a tratar como uma fatalidade a morte de velhinhos na Itália e comparou a pandemia a uma gravidez, que incomoda mas um dia termina.
Na entrevista desta quarta, com ar abatido, Bolsonaro mostrou que as críticas e talvez as panelas deram seu recado. O presidente deixou os ministros falarem. Guedes detalhou as medidas já adotadas na área econômica para enfrentar o derretimento da economia. São providências conhecidas, que passam pela liberação antecipada do 13º salário dos aposentados e apoio às empresas afetadas pela crise. A principal novidade foi a promessa de liberar R$ 200 para trabalhadores autônomos.
Mandetta, que ficou por último, foi o mais claro, tanto em matéria de dicção quanto de pensamento. Ressaltou o caráter interministerial das medidas, destacou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), que está em todos os cantos do Brasil, e resumiu as medidas adotadas por seu ministério. Mostrou, mais uma vez, por que, em plena crise, é a estrela em ascensão de um governo que tem ministros de elevado nível técnico e medíocres que, se saíssem, ninguém perceberia.
À primeira pergunta, da repórter Simone Iglesias, da Bloomberg, Bolsonaro voltou a ser Bolsonaro. Questionado sobre sua avaliação anterior de que a repercussão em torno do coronavírus era de histeria, respondeu que a histeria começou a partir das manifestações de 15 de março. Não é verdade: antes dos protestos ele já dizia isso. Na resposta, afirmou que a pandemia é grave, merece atenção, mas não é tudo o que a imprensa diz.
Nesta quarta, mais dois ministros tiveram a confirmação de que estão com a covid-19: Augusto Heleno e Bento Albuquerque, de Minas e Energia. Já são 17 os infectados entre os integrantes da comitiva que foi aos Estados Unidos.
Mesmo com esse quadro, Bolsonaro disse que não fez nada de errado ao participar da manifestação do dia 15 e que ninguém se surpreenda se nos próximos dias for visto em um metrô lotado em São Paulo, em uma barcaça da travessia Rio-Niterói ou em um ônibus de Belo Horizonte. De novo, na contramão do que recomendam as autoridades sanitárias.