Com o realismo que caracteriza suas manifestações desde que o coronavírus se transformou na preocupação número 1 do país, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deu um recado duríssimo na entrevista desta terça-feira (17): as próximas 20 semanas serão críticas. Mandetta avisou que os próximos 60 ou 90 dias serão de muito estresse e que veremos “espirais ascendentes” em abril, maio e, talvez, junho. Pelas previsões do ministro, os casos devem se estabilizar em julho e voltar ao patamar de normalidade em agosto ou setembro.
Para o Rio Grande do Sul, com outono e invernos frios e úmidos, as projeções são ainda mais preocupantes, porque normalmente a rede hospitalar, pública e privada, fica superlotada. É essa a preocupação de Mandetta e das autoridades que tratam com seriedade a pandemia de coronavírus.
A recomendação para que não sejam medidos esforços para evitar o contágio leva em conta o risco de colapso no sistema de saúde. O ministro lembrou que haverá necessidade não apenas de vagas de UTI, mas também de leitos intermediários, para pacientes que não precisam de tratamento intensivo, mas não podem simplesmente ficar em casa.
Além do clima, problema de toda a Região Sul, o Rio Grande do Sul tem motivos adicionais para se preocupar. O perfil da população, com elevado número de idosos, e o alto número de pessoas em tratamento para doenças crônicas ampliam a preocupação com a possível falta de leitos, médicos e profissionais da saúde em geral para dar conta da demanda. Na Itália, parte das mortes é atribuída à falta de respiradores.
A Secretaria Estadual do Planejamento traçou cenários com base em modelos matemáticos que levam em conta a evolução da doença em outros países. No cenário extremo, com evolução semelhante à de Itália, Irã e Coreia do Sul, sete dias após registrar o 50º caso o Rio Grande do Sul teria 465 infectados. Após 14 dias, o número chegaria a 4.340. No agressivo (França, Espanha e Alemanha), seriam 421 casos uma semana após o 50º e 3.533 depois de 14 dias. No moderado (Japão), seriam 111 sete dias depois de bater a barreira dos 50 e chegariam a 245 após 14 dias.
No cenário extremo, nesse curto período seria necessário tratar 217 pacientes em UTI. No agressivo, 177, e no moderado, apenas 12.
O estudo completo foi apresentado também na reunião do governador Eduardo Leite com líderes empresariais e de instituições públicas, como forma de preparar as medidas de mitigação à crise que se anuncia.
Veja a apresentação da Seplag:
Aliás
Os prejuízos econômicos decorrentes da crise do coronavírus são incalculáveis e afetarão praticamente todas as áreas, com efeitos devastadores sobre os pequenos negócios, que foram a salvação de quem perdeu o emprego.
Dose dupla
O que pensarão os chefes de Estado que estão em guerra contra o coronavírus ao saber que o presidente Jair Bolsonaro ironiza as preocupações dizendo que daqui a três dias faz 65 anos e que vai ter até “uma festinha tradicional”? Uma não, duas, como o próprio especificou em entrevista à Rádio Tupi:
– Até porque eu faço aniversário no dia 21 e minha esposa, dia 22. São dois dias de festa aqui.
Como 15 pessoas da comitiva que esteve com ele nos Estados Unidos estão infectadas com a covid–19, Bolsonaro deve achar que, além da mente, tem o corpo fechado.