Em uma convenção com várias indiretas ao presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (30), o Democratas (DEM) evitou dar apoio formal ao governo, comprometendo-se apenas com a agenda de reformas econômicas defendidas pelo Palácio do Planalto.
Na titularidade das pastas da Casa Civil, da Saúde e da Agricultura e nas presidências da Câmara dos Deputados e do Senado — alcançadas com apoio do governo —, o partido tem sido alvo de críticas de correligionários e apoiadores de Bolsonaro, que cobram uma declaração explícita de adesão.
De dentro do DEM, as cobranças vieram do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
— O presidente da República precisa do apoio do Democratas. Não é apoio ao presidente, é apoio ao país. Eu peço: vamos assumir o governo para sairmos da crise e mostrarmos que temos como ajudar a população brasileira — disse Caiado.
Onyx foi além e especulou sobre a volta de Bolsonaro ao DEM. O presidente integrou os quadros do PFL (antigo nome do Democratas) em 2005, mas, no mesmo ano, migrou para o PP.
— Nós vencemos e hoje temos a Presidência. Um ex-filiado do PFL, um ex-filiado do Democratas e que olha para o nosso partido com imenso respeito e, por que não dizer, com o olho de quem sabe gostaria de voltar para casa — disse o ministro em seu discurso.
Quando lhe foi perguntado pela reportagem, após o evento, se havia alguma sinalização do presidente nesse sentido, Onyx respondeu rindo:
— Eu vejo nos olhos dele.
Opiniões divergentes
Entretanto, os demais oradores foram em outra direção. Antes mesmo do início da convenção, o presidente nacional do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto, disse que o propósito do ato não era definir apoio ao governo:
— Temos compromisso com a agenda do país, independentemente de compor uma base formal.
Indagado sobre as críticas dos aliados de Bolsonaro, afirmou que não cairia em provocações:
— Não acho que é o momento de alimentar esse tipo de polêmica ou discussão. Honestamente, quem tem preocupação com o andamento da agenda do país deve somar esforços, e não utilizar redes sociais ou mesmo o plenário da Câmara ou do Senado para provocações.
— Não digo que essa seja uma questão do governo, mas alguns aliados do governo perdem tempo com fogo amigo. Poderiam estar somando esforços e concentrando energia no que é importante, que é o avanço dessas reformas, principalmente na Câmara dos Deputados, com relação à reforma da Previdência — disse ACM Neto.
Logo em seguida, em discurso, o presidente do DEM defendeu a democracia e os respeitos às instituições, em especial o Congresso. Ele também falou a favor da política, "que existe para evitar a guerra".
— Prego a convivência e o respeito com a diferença. Não é porque o outro não pensa igual a mim que eu tenho que demonizar o outro, condenar o outro — afirmou.
ACM Neto disse que os eleitores "não foram às urnas para defender radicalismos à direita ou à esquerda" e falou da legitimidade dos Poderes:
— Reconhecemos a autoridade e a legitimidade do presidente, que não foi dada por nenhum partido, foi dada pelas ruas, pelo povo brasileiro nas urnas. Mesma legitimidade que foi concedida ao Parlamento brasileiro, aos deputados e senadores.
O presidente do DEM, ainda, rebateu indiretamente críticas feitas pelo presidente e seu entorno:
— Nosso partido jamais aceitou qualquer tipo de proposta. Nunca admitimos o troca-troca da velha política. Este partido não se guia nem se pauta por circunstâncias ou conveniências. O Democratas não aceita rótulos ou muito menos carimbos — afirmou.
Centrão
O DEM tenta se livrar do título de líder do centrão, grupo de partidos na Câmara que é conhecido por pressionar governos em troca de cargos e liberação de emendas.
— O DEM implodiu o centrão. Talvez algumas pessoas enganadas tentem nos rotular. Mas não há como se brigar com a história. O centrão foi destruído exatamente pelo deputado Rodrigo Maia — disse o líder do Democratas na Câmara, Elmar Nascimento (BA).
— A forma pejorativa que muitas vezes tratam o Democratas e outros partidos é o caminho do enfraquecimento não destes partidos, mas da democracia — afirmou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
O deputado também minimizou a falta de apoio formal da sua legenda ao governo Bolsonaro.
— Ser ou não ser governo não é o mais importante. O mais importante é ser a favor de uma agenda que construa um futuro melhor para a população brasileira.
Rodrigo Maia também rebateu, indiretamente, a tentativa de Bolsonaro de atribuir ao Congresso suas dificuldades:
— Não é tudo responsabilidade do Parlamento. Vamos separar as responsabilidades. Não podem transferir todas as responsabilidades e todos os males do Brasil para a Câmara.
O presidente da Câmara também cobrou racionalidade e equilíbrio, mas não citou nomes:
— O Brasil está precisando de racionalidade, de equilíbrio. Menos discurso para fora e mais compromisso com a pauta de mudanças que este Brasil tanto precisa.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ressaltou o apoio que sua legenda já dá ao governo.
— Não sei que outro partido tem ajudado mais o governo, muitas vezes mais até que o partido do presidente da República — afirmou.
Recondução
ACM Neto foi reconduzido à presidência do DEM na manhã desta quinta-feira (30). Chegou ao comando do partido em março do ano passado, substituindo o ex-senador Agripino Maia (RN).
Prefeito de Salvador no segundo mandato e provável candidato ao governo da Bahia em 2022, Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Neto, 40, é formado em direito e assumiu o primeiro mandato de deputado federal em 2003. No partido desde 1997, é neto do senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007).
O DEM chamou-se Partido da Frente Liberal (PFL) até 2007. O partido lançou apenas uma vez candidatura à presidência da República: a do o ex-ministro Aureliano Chaves, em 1989. Na época, a sigla ainda se chamava PFL.
Em 1994 e em 1998, elegeu Marco Maciel vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Já em 2018, Rodrigo Maia ensaiou uma candidatura ao Palácio do Planalto, mas a ideia não decolou.
O DEM apoiou a candidatura derrotada de Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno e alguns dos seus principais nomes abraçaram o nome de Jair Bolsonaro no segundo, embora a sigla não tenha dado apoio formal a ninguém.