Executivo com passagens por Unibanco e Itaú, João Amoêdo abandonou o mercado financeiro para criar o Partido Novo. Agora, quer concorrer à Presidência da República.
Criada em 2015, a legenda surgiu de uma iniciativa de líderes do setor privado para renovar a política brasileira. Aos 55 anos, o pré-candidato pretende implementar uma agenda liberal no país. Nas suas palavras, quer "privatizar tudo" – da Caixa Econômica Federal aos Correios.
Amoêdo admite ser desconhecido da maioria dos brasileiros, mas aposta na ânsia por renovação política para alavancar sua candidatura. Em visita ao Rio Grande do Sul no início desta semana, ele passou por Caxias do Sul, Porto Alegre e Novo Hamburgo, onde participou de eventos, conversou com apoiadores e apresentou suas propostas, acompanhado do candidato do partido ao governo do Estado, Mateus Bandeira.
A seguir, leia os principais trechos da entrevista concedida a GaúchaZH em duas etapas: por telefone, de seu escritório no Itaim Bibi, bairro da capital paulista, e durante a passagem pela Capital, nesta terça-feira (24).
Diante dos escândalos de corrupção, cresce o anseio por renovação política. Porém, o Novo, que se apresenta como alternativa, aparece com 1% das intenções de voto nas pesquisas. Por quê?
Porque o partido e o meu nome são pouco conhecidos. Mas, quando as pessoas conhecem, a aceitação é muito elevada. Temos utilizado de forma muito firme as mídias sociais, que têm crescido bastante, e viajado bastante para divulgar nossas ideias.
Além das redes sociais, como tornar-se conhecido com apenas sete segundos de propaganda eleitoral na TV?
Não estamos contando com esses sete segundos. É muito pouco. Inclusive, uma das coisas que iremos falar é que, se depender do Novo, provavelmente será a última vez que se verá propaganda eleitoral na TV. Gostaríamos de acabar com o repasse do dinheiro do pagador de impostos para os partidos. Essa é uma de nossas teses, tanto é que somos o único dos 35 partidos que não utiliza dinheiro público para a sua manutenção.
Por rejeitá-lo, o Novo depositou R$ 3 milhões do fundo partidário no Banco do Brasil. Na prática, qual destino o partido pretende dar ao recurso?
Não vamos utilizar esse valor. Por isso, deixamos aplicado até que exista uma forma de devolver para o Tesouro, que, ao fim, seria devolver para todos os brasileiros. Do ponto de vista ético e moral, achamos que não faz sentido o dinheiro dos impostos financiar partidos. São entidades privadas que deveriam ser financiadas por seus apoiadores. Além disso, por acessarem esse subsídio, os partidos deixam de lado o atendimento às demandas dos cidadãos. O Novo, por depender de doações de seus filiados, precisa estar muito atento à defesa de seus ideias. Caso contrário, o filiado deixará de pagar e o partido deixará de existir.
O Novo também rejeitará os recursos do fundo eleitoral?
Sim, por conta da mesma lógica. Fomos totalmente contrários à aprovação. Essa verba (orçada em R$ 1,7 bilhão em 2018) será concentrada nos principais partidos, ou seja, aqueles com o maior número de denúncias na Lava-Jato. Não usaremos esse recurso e daremos o mesmo destino de tentar devolver ao Tesouro.
Como o senhor vai financiar a sua campanha?
A pré-campanha é com recursos pessoais. O que vamos fazer depois? O que fizemos em 2016: campanhas muito baratas. Não faz sentido gastar R$ 70 milhões, R$ 80 milhões, R$ 100 milhões, lembrando que o valor declarado na campanha de Dilma Rousseff foi R$ 350 milhões. Não faz o menor sentido isso. Segundo ponto é uso intenso das mídias sociais, que faz com que você tenha custos bem mais baixos. Terceiro é a participação maior de voluntários. No Novo, há 20 mil pessoas que contribuem para o partido como filiadas. E aí vamos buscar a captação de doadores, que não vai ser nada muito expressivo, mas gente comprometida com as ideias do Novo. A gente vai apostar em falar a verdade, falar as coisas certas e chamas as pessoas a participarem. Esse é o grande desafio.
O senhor defende o financiamento privado de campanhas, mas há quem identifique nesse mecanismo a raiz da corrupção, não?
O sintoma está na maneira como ocorreu o financiamento privado, nos acordos espúrios entre empresas e o setor público. Mas, ao cortar somente o sintoma, não se chega à raiz do problema, que está no tamanho do Estado e na concentração de poder em Brasília. Isso cria um ambiente propício à corrupção. Temos de atacar dois itens: sermos rigorosos no cumprimento das leis e reduzirmos o poder em Brasília, devolvendo autonomia aos Estados e municípios, onde a fiscalização está mais próxima do cidadão. Pouco muda se uma doação vem de um CNPJ ou de um CPF. Ao fim, uma pessoa física está decidindo. Precisamos de transparência nesse processo, impondo restrições e limites. Não resolveremos a corrupção simplesmente proibindo a doação privada. No fundo, a doação privada ilícita continua podendo existir.
O clima está extremamente radicalizado. Como isso pode interferir na campanha?
Ao longo do processo eleitoral, a polarização cresceu porque as pessoas estavam irritadas. A minha aposta é de que, com o encaminhamento do processo eleitoral, as pessoas vão deixar essa raiva de lado e vão se perguntar que vida querem ter a partir de 2019. Será que vou conseguir emprego? Vou conseguir empreender? E aí teremos um debate mais propositivo, mais de ideias e de conceitos, e a polarização tende a ficar de lado. Minha aposta é em um debate no qual as pessoas vão buscar mais soluções e menos embate. A própria prisão de Lula contribui para isso, porque ameniza a polarização. A minha leitura é de que, com o tempo, ele vai cair no ostracismo e vai haver espaço para um debate de propostas, que é onde a gente pode avançar.
A prisão de Lula esvazia a candidatura do deputado Jair Bolsonaro?
Certamente, porque a gente sai dessa briga do "ah, preciso de alguém que ataque essa esquerda maldita". No momento em que Lula sai de cena e a gente começa a ver que ele não tem representante com expressão, isso vai minguar. O combatente disso passa a ser menos necessário e muda um pouco o eixo da discussão.
No caso de Joaquim Barbosa, qual é a sua avaliação sobre a possível candidatura dele? A imagem do ministro aposentado do STF, que atuou no julgamento do mensalão, pode subtrair votos dos concorrentes?
Essa é a mudança que a gente ainda tem de enfrentar no Brasil, que é a história do salvador da pátria. Mesmo sem a gente saber quais são as ideias dele e mesmo sem ele nunca ter feito nenhuma gestão pública ou privada, Joaquim Barbosa já sai com 10% nas pesquisas. E não era uma pessoa que tinha um relacionamento simples com os demais membros do STF. A gente sabe quantas vezes houve embates lá. E a gente sabe que o processo político exige negociação, equilíbrio, serenidade, porque, se não for assim, você não consegue levar a coisa adiante. Basta olharmos o que aconteceu com Dilma. Então, me preocupa um pouco a candidatura dele, porque não sei se é uma pessoa que está preparada para ser presidente do Brasil. É uma pessoa honesta? É. É uma pessoa competente na área em que atua? Sim. Mas ele será a pessoa capaz de fazer as mudanças que o país precisa? Será capaz de fazer política e de aglomerar pessoas em torno de ideias? Ele atrairá votos, de fato, das pessoas que querem honestidade. Isso é condição necessária, mas não suficiente.
O senhor diz que não adianta ganhar eleição, tem de conseguir governar. Historicamente, a gente ouve que ninguém governa sem o PMDB. De que forma o senhor conseguiria montar maioria para os projetos que defende?
Entendo que isso começa no processo eleitoral. Normalmente, no Brasil, os partidos não apresentam as pautas do que gostariam de implementar. Depois de qualquer pesquisa sobre privatização, nenhum partido vai dizer que quer privatizar, porque isso vai tirar votos. Então, ao chegar ao poder, como vai apresentar projeto para privatizar empresas se não falou isso na campanha? No caso do Novo, a gente acredita justamente no contrário. Você tem de deixar muito clara a pauta que quer implementar já durante a campanha, para ter o endosso da população, caso seja eleito. Esse é o primeiro ponto, ser autêntico e transparente nas propostas. O segundo, que é o que o Novo está fazendo, é trabalhar para construir uma bancada. De 350, 360 candidatos, temos a meta de eleger 35 deputados federais, para que tenhamos substância no Congresso. E, o terceiro ponto, é contar com algo que não existia no passado, mas que hoje está muito presente: o nível de consciência e de engajamento da população. Entendo que o ativismo político continuará depois das eleições. Obviamente, tem de ter negociação, tem de fazer política. Mas não pode ter toma lá da cá. Essa é a linha.
Como seu vice vai ser escolhido?
Critérios técnicos. Algum que esteja totalmente alinhado com os princípios do Novo, que tenha histórico de bons resultados, que tenha sido um empreendedor e que tenha tido sucesso na vida.
Especula-se que o técnico de vôlei Bernardinho poderia ser escolhido. É possível?
Eu gostaria, mas depende dele. Queremos definir isso ainda em abril. Bernardinho é filiado ao Novo desde o início de 2016. Estamos conversando, mas com objetivo principal do governo do Rio. Ele vem pensando nesse assunto com carinho e ainda não se decidiu. Seria um bom nome para vice, mas o mais provável é que concorra a governador do Rio.
A candidatura de uma personalidade célebre não representa uma prática da velha política, criticada pelo Novo?
Sem dúvidas, mas somente se fosse um nome conhecido para puxar votos. Não é. Foram publicadas notícias de que Luciano Huck concorreria pelo Novo. Nunca chegamos a convidá-lo porque nunca tivemos a oportunidade de nos aprofundarmos para identificarmos se ele estaria alinhado aos nossos princípios. O caso de Bernardinho é diferente. Não queremos atrair alguém por ser conhecido, mas não podemos cometer o erro de vetá-lo só por ser conhecido. A condição necessária é o alinhamento. Se também for conhecido, ótimo. Mas o fato de ser conhecido não é determinante. A instituição tem de ser maior do que as pessoas, ou se criam salvadores da pátria.
O senhor se refere a Bolsonaro e a Lula, por exemplo?
Os dois encarnam esse perfil porque são pessoas que se desligam de uma instituição. A experiência mostra que em nenhum lugar do mundo você consegue soluções duradouras e positivas vindas de um único salvador. As coisas têm de vir por meio de valores. Infelizmente, no Brasil, há um descrédito muito grande nos políticos e nos partidos. É natural que as pessoas busquem alternativas nas pessoas, não mais nas instituições. Temos de reverter isso.
O Novo tem alguma coligação encaminhada?
Por enquanto, não. Não temos nada contra, mas só faz sentido fazer coligação se não for um atalho. Precisa ter uma pauta básica comum, até porque o Novo tem muito pouco a oferecer, tanto em tempo de TV quanto em verba pública, que a gente não usa. Então, tem de ser no campo das ideias e, principalmente, no campo da inovação.
Há uma série de pré-candidatos com ideias similares no campo econômico. Não há um congestionamento do campo liberal na disputa por votos?
Até acho bom que a gente tenha uma maior quantidade de candidatos com ideias semelhantes, porque significa que há uma aceitação das ideias por parte da população. E a gente tem visto inclusive pessoas como Jair Bolsonaro, que nunca foi um liberal no exercício de suas funções como mandatário e hoje defende essa agenda. No meu entender, isso é bom porque mostra que tem demanda por esse tipo de ideia.
No caso de Bolsonaro, é sincera a defesa do modelo liberal?
É difícil dizer. Não quero acusá-lo de estar mentindo, mas não dá para ter certeza. Eu gostaria, nesses últimos 12 meses em que declarou que é uma pessoal com viés mais liberal, que ele tivesse apresentado algum projeto nessa área na Câmara, até para validar o discurso. Isso, infelizmente, isso não aconteceu.
Uma declaração sua em entrevista ao jornal El Pais causou polêmica nas redes sociais. O senhor disse que o Estado não deve interferir nas empresas quando pagam salários diferentes para homens e mulheres. É isso?
Entendo que as mulheres têm competência, capacidade, muita força de trabalho e que não cabe ao Estado interferir numa empresa privada, seja para proteger a mulher ou qualquer outra pessoa. Seria uma invasão dentro de uma empresa você obrigar a ter um salário igual, maior ou menor. É justamente por falta dessa falta de liberdade econômica que o Brasil se tornou um país muito difícil para empreender. O que quis dizer foi simplesmente isso. É claro que as mulheres têm de ser reconhecidas, têm de ser bem tratadas, mas não cabe ao Estado fazer essa interferência dentro de um estabelecimento privado. Essa afirmação foi tirada de um contexto no qual me coloquei contra as cotas. As pessoas não devem ser diferenciadas pelo seu sexo, pela sua preferência sexual, pela cor da pele. Na medida em que a gente faz essa diferenciação, cria a polarização na sociedade brasileira. Você vai criando atritos. Infelizmente, isso vem sendo uma coisa muito vendida, uma doutrinação. Temos de reverter isso em favor das liberdade individuais.
Qual seria o eixo da política social do seu governo?
Primeiro, o Bolsa Família é um bom programa porque entrega o dinheiro direto para as pessoas. O Estado não faz a gestão do supermercado. As pessoas, com liberdade, vão mercado e compram seu produto. Se isso funcionou bem para a alimentação, a pergunta que a gente se faz é: será que na educação e na saúde não valeria testar algo semelhante? Uma forma de fazer isso seria prover vale-educação e vale-saúde para as pessoas e deixar que elas tenham a opção de ir numa clínica popular, de comprar um plano de saúde mais baixo, de colocar eventualmente o filho numa escola privada. Também compartilho da tese de que o melhor programa para as pessoas é conseguir emprego, e isso a gente não consegue porque o Estado interfere muito, cobra alta carga tributária, impõe taxa de juros elevada. A gente tem de mudar esse ambiente de negócios.
Tem uma questão polêmica, que já ouvimos de pessoas do Novo, que são contra o 13º salário, acham que deveria ser diluído ao longo do ano e administrado da forma como o trabalhador quisesse. Qual é a sua posição?
Ainda não parei para pensar, mas acho o seguinte: tudo o que você conseguir colocar de dinheiro na mão do trabalhador e deixar para ele a liberdade de escolher é melhor. Um exemplo é o fundo de garantia (FGTS), que rende menos que a inflação e é vendido como uma conquista, mas, no fundo, é um empréstimo compulsório que o trabalhador faz para o governo. O melhor é a pessoa poder escolher, poder fazer a gestão do fundo de garantia, que hoje tem de ficar na Caixa, rendendo menos que a inflação. Isso é poder concentrado no Estado que a gente gostaria de devolver ao cidadão.
O senhor acha mais razoável que a pessoa recebesse um doze avos a mais por mês em vez de um 13º salário no fim do ano?
Faz sentido. No fundo seria acabar com o 13º e aumentar o salário em um doze avos. Se ela quisesse fazer uma economia para o final do ano, depositaria isso na poupança. Ter a opção sempre é melhor.
O senhor costuma afirmar que, se eleito, privatizaria "tudo". Como pretende vencer a resistência de parte da sociedade à proposta?
A privatização é um meio, não um fim. Queremos melhorar a vida das pessoas, e a existência de estatais vai na direção contrária. Somos obrigados a ser sócios do Banco do Brasil, da Caixa, da Petrobras, dos Correios… Mas ninguém nunca perguntou se gostaríamos de pagar mais impostos para sermos acionistas. Por terem uma gestão política, sem indicações técnicas, essas empresas têm baixa rentabilidade, criam um ambiente propício à corrupção e entregam serviços ruins. Por isso, entendemos não fazer sentido a gestão estar no setor público. Para boa parte dos políticos, essas empresas têm um valor muito grande porque permitem indicações, perpetuação de poder e negociações. Por muitos anos, ouvimos que essas empresas eram estratégicas. São estratégicas exclusivamente para os políticos. Mas, nesse processo de privatizações, precisamos incrementar a concorrência. Não faz sentido transferir um monopólio público para um monopólio privado ou vender a Caixa e o Banco do Brasil para os grandes bancos brasileiros ou estrangeiros que detêm participação grande no mercado. Queremos criar um processo de privatização que apresente mais opções ao cidadão. Assim, o Estado deixa de administrar empresas e pode se dedicar às áreas essenciais, como segurança, saúde, educação.
Então, o senhor defende inclusive a venda da Caixa e do Banco do Brasil, por exemplo?
Exatamente, buscando dar maior concorrência ao setor financeiro.