Diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, 57 anos, é um especialista em ler e traduzir cenários eleitorais. Na avaliação do sociólogo que atua há mais de duas décadas no instituto de pesquisas do Grupo Folha, a eleição deste ano tende a ser marcada por recorde de rejeição aos políticos, por eleitores mais exigentes do que no passado e por fake news para todos os lados.
No passado recente, muitos candidatos se elegeram com base em promessas genéricas. Na eleição de 2018, esse tipo de discurso ainda vai colar?
Certamente, os candidatos terão de se empenhar mais para convencer os eleitores. Todos os candidatos vão enfrentar algo que nunca foi tão forte: a rejeição aos políticos. Isso é algo que vem crescendo desde as manifestações de 2013 e agora bate recordes, porque há uma confluência de crises. A econômica, a moral e a que considero a mais grave, a da segurança pública.
Isso pode mudar a forma como os eleitores escolhem seus candidatos?
O candidato que conseguir traduzir esse sentimento de indignação que paira na sociedade, com uma linguagem que se aproxime dos eleitores mais pobres, tem chance de se dar bem.
Sim, tudo isso faz com que o eleitor anseie por algo não necessariamente novo, mas algo mais autêntico, mais próximo da realidade. O candidato que conseguir traduzir esse sentimento de indignação que paira na sociedade, com uma linguagem que se aproxime dos eleitores mais pobres, tem chance de se dar bem. Aquele que continuar com o discurso plastificado pelo marketing, que transpira falsidade e não mostra uma compreensão real dos problemas, tende a morrer na praia.
Essa busca por um discurso aceito pelos eleitores pode abrir margem a um novo "salvador da pátria"?
Sim, é um risco. O eleitor está muito pragmático. Se chega um candidato que apresenta soluções, ainda que implausíveis, mas que pareçam boas aos olhos de quem está morrendo de medo de sair às ruas, esses discurso pode acabar colando, especialmente junto à classe média e aos jovens. Fizemos pesquisa com jovens abaixo de 24 anos e quase 90% deles não enxergam perspectiva de mudanças.
Com tanta desconfiança sobre os políticos, os eleitores não vão exigir propostas mais detalhadas?
De um modo geral, o eleitor está mais exigente. A cada eleição, ele exercita o voto e vem aprendendo a acompanhar o desempenho dos eleitos. Mas há setores que agem de forma completamente diferente. Tem uma parte da classe média que concorda muito com as posições do deputado Jair Bolsonaro, por exemplo, especialmente os jovens de classe média, abaixo de 34 anos. Mas, se a gente for olhar os jovens de periferia, esses não votam nele. É por isso que essa eleição terá outra singularidade: a campanha de marketing dos candidatos terá de conseguir adequar o discurso dele aos diferentes públicos.
De que forma se dará isso?
As campanhas terão de conseguir fazer o que tanto Obama quanto Trump fizeram nos EUA. Quando eles chegavam a uma cidade para um comício, eles já sabiam exatamente quais eram as preocupações daquela população específica e apostavam nisso nos seus discursos.
Como avalia a influência das redes sociais?
Hoje, ninguém tem condições de fazer um prognóstico exato. O Brasil é muito peculiar. Não dá para aplicar os modelos norte-americanos. Estamos acompanhando a influência das redes sociais, mas não podemos esquecer que quase metade da população não tem acesso a essas mídias. É justamente essa população menos informada, mais pobre, com menor escolaridade, que muitas vezes acaba decidindo a eleição. Acho que vai ser um misto do faroeste das redes sociais e propaganda tradicional.