As notícias falsas se disseminam mais rápido e atingem mais pessoas nas redes sociais do que as verdadeiras, revela o maior estudo já realizado sobre o assunto, publicado nesta sexta-feira (9) na revista científica Science.
Realizada por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos, o trabalho revela que são os próprios usuários da rede, e não os programas de computador conhecidos como robôs, os culpados pelo maior sucesso da mentira.
Os cientistas sociais Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan Aral produziram uma análise colossal de dados, que revelou uma série de fatos novos e que ganhou a capa da Science, umas das principais revistas científicas do planeta, sob o título "Como as mentiras se espalham".
Os pesquisadores do MIT rastrearam um total de 126 mil informações divulgadas cerca de 4,5 milhões de vezes no Twitter, entre 2006 e 2007, por três milhões de pessoas. Eles classificaram essas notícias como verdadeiras ou falsas, de acordo com avaliações feitas por seis diferentes organizações de checagem de fatos. Descobriram que as fake news se difundem "significativamente mais longe, mais rápido, mais profundamente e mais amplamente do que a verdade em todas as categorias de informação": "Quando usamos um modelo para estimar a probabilidade de retuíte, descobrimentos que a mentira tem 70% mais chance de ser retuitada do que a verdade".
— Nosso estudo teve foco nos Estados Unidos, mas as conclusões podem ser extrapoladas para qualquer país, como o Brasil. Detectamos os mesmos padrões de disseminação das informações falsas em diversos países de língua inglesa, e isso se aplica a postagens em outros idiomas — disse o autor principal do estudo, Sinan Aral.
Entre os achados do estudo também está a constatação de que, enquanto uma informação verdadeira dificilmente atinge mais de mil pessoas, as fake news mais virais alcançam rotineiramente até 100 mil usuários. A categoria de informação que se espalha com mais facilidade e rapidez é a notícia política falsa: ela alcança mais de 20 mil pessoas com velocidade três vezes maior do que outros tipos de mentira levam para chegar a 10 mil usuários.
No artigo publicado na Science, os pesquisadores observam que seria natural supor que os propagadores de fake news seguissem e fossem seguidos por mais pessoas, tuitassem mais e tivessem contas há mais tempo na rede social. Quando investigaram o tópico, descobriram que é exatamente o contrário o que ocorre. "A mentira se espalha mais longe e mais rápido apesar dessa diferença, e não por causa dela", concluem.
Vosoughi, Roy e Aral especulam que a razão para a falsidade ter mais sucesso na internet esteja relacionada com o fato de aquilo que é novidade atrai mais a atenção humana e encoraja mais o seu compartilhamento, uma vez que "a novidade não só surpreende, mas também é considerada mais valiosa (...) de uma perspectiva social", pois dá a quem a espalha "o status de ser alguém com conhecimentos e acesso a informações exclusivas". Ao testarem essa hipótese, confirmaram que as fake news são mais percebidas como algo novo do que as notícias verdadeiras.
Os pesquisadores também mediram se os programas conhecidos como robôs tinham tendência a acelerar a difusão das mentiras, o que não se confirmou _ o que indica responsabilidade exclusivamente humana.
— Esperávamos que as notícias falsas se espalhassem com mais rapidez e de modo mais abrangente. O que nos surpreendeu é que robôs não são determinantes como pensávamos para a divulgação dessas notícias — observou Aral.
Na mesma edição da Science, 15 cientistas publicaram um artigo convocando a comunidade científica internacional para um esforço interdisciplinar de estudar as forças sociais, psicológicas e tecnológicas por trás das fake news. Para eles, os métodos disseminadores estão sofisticados e é preciso combatê-los. O grupo diz que Twitter, Facebook e Google têm "responsabilidade ética e social que transcende as forças do mercado" e devem contribuir para a pesquisa sobre notícias falsas. Procurados, Twitter e Facebook não quiseram se manifestar e o Google não respondeu.