Responsabilizado por ser a principal plataforma de difusão de notícias falsas, sobretudo nas eleições americanas de 2016, o Facebook volta e meia anuncia uma nova estratégia para combatê-las. Até agora, os esforços não trouxeram grandes resultados. Uma investigação feita pelo BuzzSumo, ferramenta de análise de redes sociais do site BuzzFeed, chegou às 50 notícias falsas mais compartilhadas de 2017. Apesar das tentativas de Mark Zuckerberg de frear o fenômeno, o levantamento aponta que as fake news mais divulgadas deste ano alcançaram 3,5 milhões de compartilhamentos, curtidas e comentários – 2 milhões a mais do que o top 50 do ano passado.
O levantamento mostra que a maioria dos textos falsos não é de política, ao contrário de 2016, quando ocorreram as eleições presidenciais norte-americanas. As notícias falsas mais compartilhadas de 2017 são histórias policiais, seguidas (aí sim) de textos de política, saúde, mundo e negócios. No top 10 (veja a lista abaixo), seis abordam histórias dignas de terem sido criadas por pré-adolescentes no recreio: o primeiro lugar, com mais de 1,2 milhão de compartilhamentos, é um texto com o título "Babá é hospitalizada após inserir bebê na vagina", copiado para outros 39 sites.
Dos 167 endereços eletrônicos analisados, 119 não estavam presentes em 2016, o que indica que foram criados em 2017. O site com maior peso é o World News Daily Report, com 12 textos na lista dos 50. A aparência é de um portal de notícias comum, inclusive com a divisão dos textos em editorias.
Para garantir que o Facebook não reduza as chances de o site aparecer nas timelines, o criador do World News Daily Report criou um subterfúgio: avisar, no fim da página, que os textos são "satíricos": "Todos os personagens que aparecem nos artigos – até os que são baseados em pessoas reais – são totalmente ficcionais. Qualquer semelhança com uma pessoa, viva ou morta ou zumbi, é um milagre". Em entrevista em abril ao BuzzFeed, o dono se vangloria por ser reconhecido "como um dos sites mais notórios em boatos e notícias satíricas da internet". Tecnicamente, portanto, seu site não produziria fake news.
"Facebook está atrasado para o jogo", diz especialista
A pesquisa do BuzzFeed chama a atenção para o fato de que, apesar dos esforços do Facebook em atenuar a ação de robôs produtores de fake news, os resultados são tímidos. A dificuldade é enorme: esse tipo de texto pode ser criado a qualquer hora, em qualquer lugar. Analistas já sabem que há polos produtores em países como Macedônia e Rússia. Há pequenas empresas responsáveis por orientar robôs a criar textos focados em interferir nos debates das eleições americanas de 2016, da independência da Catalunha e da saída do Reino Unido da União Europeia.
Até agora, a rede social já tentou algumas saídas: fez acordo com empresas para checar conteúdos duvidosos, reduziu o alcance de posts com textos falsos, cortou receitas publicitárias de sites do gênero (o Google fez o mesmo) e colocou um triângulo alertando para o perigo de fake news (o método, no fim das contas, impulsionava os posts e, por isso, não existe mais). Susan Pinker, psicóloga canadense que palestrou no Fronteiras do Pensamento no início de dezembro, diz que o esforço "é precário":
— Eles (Facebook) foram muito prejudicados pela própria participação na onda de fake news e de discursos de ódio. Como o monitoramento é robótico, por algoritmos, havia anúncios em páginas destinadas apenas a propagar discursos de ódio. E as empresas anunciadas começaram a reclamar que não desejavam estar relacionadas a esses discursos. Facebook e Google estão começando a acordar, mas estão atrasados para o jogo.
No Brasil, Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Exército, Polícia Federal (PF) e Agência Brasileira de Inteligência (Abin) até criaram uma força-tarefa para contar as notícias falsas nas eleições do ano que vem. A última estratégia anunciada pela rede social é de 20 de dezembro: sugerir, ao lado do post de conteúdo suspeito, links relacionados com a análise de empresas checadoras acerca do assunto da suposta notícia. Resta esperar, mas, por enquanto, apenas uma certeza segue firme: é preciso checar a origem dos textos que você lê.
As 10 fake news mais compartilhadas no Facebook em 2017
1. "Babá é hospitalizada após inserir bebê na vagina", publicada no Word News Daily Report: 1,2 milhões de interações
2. "FBI apreende mais de 3 mil pênis em casa de funcionário de necrotério", publicada no Word News Daily Report: 1,14 milhão de interações
3. "Charles Manson terá liberdade condicional (ele morreu)", publicado no Breaking News 365: 1,12 milhão de interações
4. "Chester Bennington (vocalista do Linkin Park que se suicidou) foi assassinado", publicado no Your News Wire: 1,04 milhão de interações
5. "Funcionário de necrotério é cremado por engano enquanto tirava cochilo", publicado no Word News Daily Report : 993 mil interações
6. "Mulher raivosa corta fora pênis do marido por não fazer contato visual durante sexo", publicado no Viral Mugshot: 981 mil interações
7. "Deputadas aprovam Projeto de Lei da Ejaculação Masculina e proíbem descarte de sêmen inutilizado", publicado no Burrard Street Journal: 966 mil interações
8. "Trump ordena execução de cinco turcos perdoados por Obama", publicado no Real News Right Now: 914 mil interações
9. "Idosa é acusada de treinar 65 gatos para roubar vizinhos", publicado no Word News Daily Report: 690 mil interações
10. "Casal é hospitalizado após homem prender cabeça na vagina da esposa", publicado no Word News Daily Report: 672 mil interações