O grande dilema do Google e, particularmente, do Facebook é assumir suas verdadeiras identidades. Para efeito de captação de verbas publicitárias junto a anunciantes, incluindo governos, as duas empresas atuam como organizações de mídia: apresentam números de audiência e perfis de público, mesmo que não auditados de forma independente e confiável. Mas, no momento de driblar restrições regulatórias e a responsabilização pela divulgação de conteúdos, os dois sustentam que são empresas de tecnologia e que, portanto, devem ser isentos de eventuais delitos, como a difusão de notícias propositadamente erradas ou ataques a honra e à privacidade.
Até há um ano, a vida corria fácil para ambos: o duopólio digital em escala planetária recolhia todo o seu bônus sem qualquer ônus. A escalada mundial das fake news, decisivas no Brexit e na eleição de tipos radicais e exóticos como Donald Trump e, antes dele, Rodrigo Duterte, nas Filipinas, redirecionou a bússola da discussão. A nova e duríssima legislação alemã, que aplica penas milionárias aos gigantes digitais caso não ajam sobre discursos de ódio e notícias falsas, acendeu o alerta vermelho no duopólio.
Em reunião recente em Nova York com o board da Associação Mundial de Jornais, perguntei a Campbell Brown, contratada pelo Facebook para liderar a área de parcerias de mídia, o que aconteceria se a lei alemã for replicada em outros países. “Seria um tumulto”, definiu ela, que reconhece a necessidade de aperfeiçoar os sistemas de moderação.
O problema central é que a mediação sobre o que cada usuário das redes vê ou lê é decidida por algoritmos. E, queira ou não Mark Zuckerberg, os do Facebook se tornaram o editor mais poderoso do planeta – e o de menor credibilidade.