O julgamento que decidirá os rumos políticos do país dividiu a Avenida Paulista, em São Paulo, no fim da tarde desta terça-feira (23). Com apenas uma quadra de distância, manifestantes pró e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputaram atenção de motoristas e pedestres – e protagonizaram momentos de tensão.
Até as 17h, a capital paulista viveu um dia normal. Não havia sinais de mobilização na cidade. Vendedores ambulantes, motoristas, comerciantes e transeuntes abordados pela reportagem sequer sabiam do julgamento.
— Sério mesmo que o Lula vem aqui? Tomara que o pessoal compre bastante água, porque a coisa está difícil — brincou o vendedor Ailson Castelo Souza, 17 anos, que trabalha em uma banca na Praça da República, palco de um ato da esquerda previsto para quarta-feira (24).
Ao cair da tarde, o clima mudou – literalmente. Em meio a uma pancada de chuva que logo se dissipou, apoiadores do ex-presidente iniciaram uma vigília em frente ao prédio da Justiça Federal na Paulista. Esticaram bandeiras na escadaria e penduraram faixas em árvores.
A 50 passos dali, integrantes do movimento Vem pra Rua se vestiram de verde e amarelo para gritar "Lula na cadeia". Um carro de som se uniu ao ato, e motoristas reagiram com buzinaço.
Em certo momento, manifestantes das duas frentes se encontraram no caminho. Os adversários trocaram insultos e chegaram a ameaçar partir para a briga, mas, ao final, os grupos se dividiram e, até o início da noite, não foram registrados incidentes.
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Julgamento de Lula
Condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva terá sua apelação julgada pelo TRF4, em Porto Alegre, nesta quarta-feira (24). A condenação é referente à denúncia na 13ª Vara Federal de Curitiba por supostamente ter recebido propina da construtora OAS em troca de favorecimentos à empreiteira em contratos na Petrobras. O suborno, no total de R$ 3,7 milhões, teria sido pago com a aquisição e reforma de um triplex no Guarujá (SP) e com o custeio do armazenamento de seu acervo presidencial.
Os advogados pedem a absolvição do petista, alegando que a condução do processo por Moro foi "parcial e facciosa". Já o MPF recorreu da decisão de Moro por entender que o ex-presidente deve ser punido por três atos de corrupção em concurso material — instrumento jurídico pelo qual as penas são somadas —, e não apenas por um crime de corrupção e um de lavagem de dinheiro como entendeu o juiz na sentença.
O ex-presidente será julgado pela 8ª Turma do TRF4, formada pelos desembargadores João Pedro Gebran Neto, relator do processo, Leandro Paulsen, presidente da Turma e revisor, e Victor Luiz dos Santos Laus. Estão previstas manifestações favoráveis e contrárias ao ex-presidente em Porto Alegre, e foi montado um esquema de segurança especial. Seja qual for o resultado do julgamento — condenação ou absolvição —, o processo não se encerra nesta quarta-feira, já que cabem recursos ao próprio TRF4.
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