Um dos partidos mais relevantes no cenário político nacional desde a reforma que criou o multipartidarismo, o PSDB viu minguar, no último domingo (2), o seu protagonismo nacional. O partido elegeu os menores números de sua história em 2022, perdendo espaço em cargos estratégicos. O Rio Grande do Sul é um dos poucos locais onde a legenda manteve números parecidos aos de pleitos anteriores e que tem no segundo turno um candidato que ainda pode governar pela legenda.
A perda de território mais expressiva foi na Câmara Federal, onde a bancada reduziu pela metade. Os tucanos conquistaram apenas 13 cadeiras nas eleições este ano, contra 29 no pleito anterior. Em relação a 2014, o partido perdeu três quartos dos deputados federais. Bem distante do auge, em 1998, quando 99 tucanos foram eleitos deputados.
Em 2022, o partido não elegeu nenhum candidato a senador. Também não elegeu nenhum governador em primeiro turno. Mas conta com quatro nomes concorrendo ao Executivo estadual na segunda etapa do pleito, incluindo Eduardo Leite no RS. Raquel Lyra, em Pernambuco, Eduardo Riedel, no Mato Grosso do Sul, e Pedro Cunha Lima, na Paraíba, são os demais postulantes.
O caso mais emblemático é o de São Paulo, Estado onde o partido era historicamente forte. O PSDB sempre esteve no governo desde a redemocratização, emendando sete eleições seguidas desde 1994, a partir da eleição de Mário Covas. Depois dele, vieram Geraldo Alckmin, José Serra e João Doria. A hegemonia de 28 anos só foi ser rompida agora, com Rodrigo Garcia fora da disputa no 2° turno.
Outros nomes conhecidos, como o de José Serra, Joice Hasselmann e Alexandre Frota, também não conseguiram se eleger no último domingo para cargos de deputado.
Na avaliação de Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper, o PSDB foi gradativamente perdendo relevância nacional muito em virtude de suas próprias indefinições. Isso fez perder protagonismo, virando um partido secundário no plano nacional, e, consequentemente, perdendo aliados.
— Houve dificuldade de assumir o próprio legado de reformas da era Fernando Henrique Cardoso. O momento clássico foi a defesa das estatais na campanha de Alckmin (hoje no PSB). Depois, houve uma tentativa de resgatar isso com Aécio Neves, mas talvez o país já vivesse um novo momento e perdeu as eleições. A partir daí, o partido se desconstituiu, mas preservando boas experiências estaduais, como São Paulo e Rio Grande do Sul tocando reformas importantes — resgata Schüler.
A derradeira veio com a decisão do partido de abrir mão de uma candidatura presidencial em 2022, pela primeira vez em sua história. A retirada veio após prévias acaloradas entre João Doria e Eduardo Leite, que geraram discordância interna no partido e nas quais Doria saiu vitorioso.
— Quando um partido abre mão do protagonismo, deixa de acumular um capital político importante. Abre mão da visibilidade, de apresentar sua história, e gera um processo de fragilização muito maior — diz Schüler.
O isolamento do partido em âmbito nacional reflete nos resultados estaduais. No Rio Grande do Sul, o desempenho de Eduardo Leite nas urnas quase deixou o partido fora do segundo turno. A diferença apertada foi de apenas 2,5 mil votos em relação ao candidato petista Edegar Pretto, terceiro colocado.
Ambiente político
O cientista político Sérgio Praça, professor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da FGV, elenca outros dois fatores cruciais para a derrocada do PSDB nas eleições gerais de 2022.
O primeiro deles é o fato de Aécio Neves e outros tucanos acusados de corrupção não terem sido expulsos do partido e mantidos em postos de liderança. Rachas internos depois da candidatura de João Doria à prefeitura também levaram a uma debandada de políticos para outras legendas. O segundo motivo citado pelo pesquisador leva em consideração um contexto externo ao partido, com a migração de votos de eleitores que eram de centro-direita e viraram apoiadores do bolsonarismo.
— Foi uma eleição muito ruim para o partido, pior do que já havia sido em 2018, perdendo Estados e deputados. Acho que é a tendência, porque quanto menos cargo ocupa, menos consegue eleger — analisa Praça.
Carlos Eduardo Pinho, cientista político e professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Unisinos, também credita o esvaziamento de partidos como o PSDB ao crescimento do conservadorismo no país. Somado isso aos rachas internos, é como se a sigla estivesse se “autodissolvendo”, na leitura do professor.
— Do ponto de vista macro, de valores da sociedade, determinados partidos não representam o que a sociedade está demandando no momento. A guinada conservadora é um fato e a eleição mostrou isso muito bem. Como o PSDB não está alinhado a isso, pode ter ficado mais de lado — analisa Pinho.
Fernando Schüler, do Insper, acredita que o partido precisa fazer um resgate de sua identidade para se reposicionar no cenário nacional.
— Não acho que é uma crise terminal. Mas é um longo trabalho pela frente para reconstruir o seu papel — diz.
Já o professor da FGV, Sérgio Parça, acredita que a sigla precisará se fundir a outro partido de tamanho médio ou grande para que seus políticos continuem com alguma chance de se eleger.