Em um auditório lotado no 23º andar do Hotel Excelsior, um prédio de São Paulo que cheira a fritura pela vizinhança com uma lanchonete McDonald's, o candidato Fernando Haddad (PT) passou duas horas da manhã de quarta-feira (17) ouvindo e falando para líderes de diferentes igrejas evangélicas. Era uma estratégia de tentar conter a debandada dos evangélicos para a candidatura de seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL).
Foi nesse mesmo hotel, em uma sala batizada como Minas Gerais, que Haddad recebeu a equipe de GaúchaZH para uma sabatina de pouco mais de uma hora. Antes, sua assessoria abriu a janela para arejar a sala acarpetada e com cheiro de mofo, explicando que o candidato tem alergia a pó, motivo dos pigarros que viraram marca na imitação do comediante Marcelo Adnet.
De terno azul e camisa clara, sem gravata — a mesma roupa que usara no encontro com os pastores —, Haddad entrou na sala descontraído e foi logo reclamando do que chama de mentiras espalhadas contra ele nas redes sociais. Disse que o encontro com os evangélicos era uma oportunidade para mostrar a verdade. Lembrou que é cristão e que recentemente comemorou 30 anos de casado com Ana Stella, com quem tem dois filhos.
— A celebração dos 30 anos foi feita pelo mesmo padre que fez o nosso casamento — contou.
Fernando Haddad é o nono candidato à Presidência que participa da Sabatina GaúchaZH. Jair Bolsonaro (PSL) também foi convidado, mas até o momento não aceitou ser entrevistado. Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Haddad:
O presidente que for eleito terá um desafio de unificar o país, que nunca esteve tão dividido, nem tão radicalizado. Se for o senhor, como é que o senhor vai fazer esse trabalho de unificação do país? E se não for, qual será o seu papel para manter um mínimo de tranquilidade no país, no que depende da oposição?
Eu acredito que o Brasil esta precisando mais de um professor do que de um miliciano. Eu considero meu adversário um miliciano. Uma pessoa que só promove a violência, só tem palavras desrespeitosas para se referir a quem pensa diferente dele _ e isso no diz respeito à religião, às mulheres, a negros, à esquerda, à centro-esquerda a que eu pertenço. Ele tem sempre uma palavra que, na minha opinião, vai alimentar esse clima, ao invés de superar.
E eu, até pelas minhas características pessoais, independentemente de partido... todo mundo sabe, que nos meus 18 anos de vida pública, eu mantive interlocução permanente com a oposição, com quem pensa diferente, razão pela qual eu fui o ministro da Educação que mais reformou a legislação brasileira com o apoio da oposição. E, mesmo na prefeitura de São Paulo, eu tive o mesmo procedimento.
Eu entendo que o Brasil está precisando de uma postura mais aberta. Quando você entra numa sala de aula, você entra para aprender, para ensinar, para interagir. O Brasil está precisando de interação. Agora, aquela visão hierárquica dele, de que... não vai funcionar. Ele tem características pessoais que, para o momento atual, vão fazer recrudescer essa crise.
Todo mundo sabe que a tarefa, agora, não é jogar lenha na fogueira, é jogar água na fervura e baixar o tom.
O senhor acredita que o antipetismo e desavenças com antigos aliados estão atrapalhando as negociações de apoios para este segundo turno?
Nós vamos ter que fazer um governo muito mais amplo. O PT vai ter que reconhecer a crise, o tamanho da crise, e me escolheu sabendo quem eu sou. Eu não fui escolhido por sorteio. As pessoas escolheram uma pessoa com o meu perfil, porque sabem como eu vou lidar com essa adversidade. Nós vamos ter que ter um governo amplo, fazer um governo de unidade nacional, pela democracia. Vamos ter que corrigir as contas públicas, que estão desarrumadas. Mas do nosso jeito, sem impor sacrífico adicional para uma população que já está sofrida. Essa é a nossa grande diferença com o governo Temer, que quis impor aos mais pobres um sacrifício desmedido.
Agora, eles sabem o meu perfil. E todo mundo sabe que a tarefa, agora, não é jogar lenha na fogueira, é jogar água na fervura e baixar o tom. O Brasil pode ser diferente disso. Eu fui escolhido por isso, por ter essas características, de maneira que eu vou conduzir as coisas da melhor forma possível.
O que o senhor tem a dizer aos eleitores que rejeitam Bolsonaro e dizem não ter nada contra o senhor, mas que cogitam o voto nulo por se negarem a votar no PT?
Olha, eu compreendo o sentimento, mas vai ser um erro histórico. Levar o Bolsonaro à Presidência da República vai ser um erro histórico. Ele teve 28 anos para provar alguma coisa para a população brasileira. Foram sete mandatos. Ele nunca conseguiu aprovar um projeto, nunca teve uma ideia que sensibilizasse os seus pares. Ele não é autor de absolutamente nenhum projeto importante. Tudo que sai da boca dele é para falar mal de alguém. Nunca vi elogiar alguém, a não ser o Ustra, que torturou barbaramente pessoas inocentes. Como vai colocar o país nas mãos de uma pessoa despreparada?
Veja só, estou falando isso e vou reiterar uma coisa: se eu tivesse um segundo turno com qualquer outro candidato dos viáveis, vamos chamar assim, de partidos respeitáveis, que têm uma história, então Alckmin, Boulos, Marina, Ciro, Meirelles, qualquer dessas pessoas, eu não estaria falando nisso, porque não seria verdade. Não iria desqualificar uma pessoa que governou São Paulo quatro vezes, uma ministra como a Marina, que foi minha colega, o Ciro foi meu colega de ministério, o Meirelles foi meu colega de ministério, eu nem teria legitimidade para falar isso.
Nós estamos numa situação complicada e precisamos ter clareza. Se a gente votar agora na base do sentimento que você esta colocando, podemos optar pelo pior.
Há eleitores que preferem não votar no PT em razão dos escândalos de corrupção. E o PT tem ex-tesoureiros que foram presos, tem um ex-ministro que foi preso. Como candidato à Presidência da República, como o senhor pode garantir que a corrupção não vai voltar para a Esplanada?
Nós vamos completar um trabalho que nós começamos. Quem começou a fortalecer a Polícia Federal, Ministério Público, Poder Judiciário, Controladoria-Geral da União foi o PT. Não estou dizendo que nós acertamos em tudo. Estou admitindo aqui que nós não fomos perfeitos. Por exemplo, já digo há muito tempo, os controles que nós estabelecemos na Esplanada dos Ministérios... No MEC (Ministério da Educação), eu passei lá oito anos (...) R$ 100 bilhões de orçamento. Você não ouve falar de irregularidade. Por quê? Porque tinha um ministro correto, modéstia à parte, mas tinham estruturas de controle, que impediam servidores, empresários, políticos de se apropriarem do que não é deles. Nas estatais, nós falhamos. Esses controles não funcionaram nas estatais, sobretudo na Petrobras. Mesmo tendo nomeado diretores que tinham 30 anos de casa. Não nomeamos pessoas de fora.
Um dos pontos que seus adversários lhe atacam é que senhor seria, nas palavras deles, um fantoche do ex-presidente Lula, que está preso. O senhor o visitou na cadeia assim que terminou o primeiro turno. Se eleito, quem vai governar, afinal de contas? É o senhor? É o ex-presidente Lula?
(risos) Olha, o meu adversário fala tanta baixaria a meu respeito, que essa é a mais leve, viu? Ele já falou que eu era dono de uma Ferrari. Já falou que eu propus incesto, sexo entre pai e filha. Acho que ele desconhece até que eu tenho uma filha para falar uma besteira dessas, ofender minha filha. Ele já trocou miolo de livros meus. Pegou a capa do meu livro e colocou o miolo de outro livro para dizer que eu penso diferente do que eu penso. Ele já falou que esse relógio aqui custa R$ 500 mil, eu falei que vendo por 1% pra ele. Quer dizer, ele é uma pessoa doente. Está usando o WhatsApp para apresentar à sociedade uma pessoa que não sou eu. E faz parte dessa estratégia dele... Falou que eu distribui "kit gay" para crianças de seis anos. Eu acho que só na cabeça de uma pessoa muito doente pode passar isso. Inclusive, ele já foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelas mentiras que ele está dizendo.
E o papel de Lula no seu eventual governo, se vencer?
Eu ouço, eu vou ouvir todas as pessoas que têm experiência. Eu vou te dizer com toda a sinceridade: eu não conheço ninguém que saiba cuidar das pessoas, como governante, mais do que o Lula. Então, quando estiver em pauta, eu vou ouvir, como eu vou ouvir o Joaquim Barbosa sobre propostas pro Judiciário, como vou ouvir o (filósofo Mario Sergio) Cortella para educação. Eu tenho boas relações em todos os planos e vou ouvir as melhores cabeças do país.
O Rio Grande do Sul, neste momento, está tentando uma repactuação da dívida com a União, um programa de recuperação fiscal. Se eleito presidente da República, de que maneira o senhor pretende ajudar os Estados que estão em crise?
Olha, de duas maneiras diferentes. A primeira delas, você não pode, como presidente, ficar impondo para o Rio Grande do Sul, você não pode falar "ou você vende o Banrisul ou eu não renegocio a sua dívida". Está errado isso. "Ou você vende a sua empresa de saneamento", esqueci o nome agora...
Corsan.
Isso. "Ou você vende a Corsan ou não tem renegociação da dívida". Eu estive lá no Rio Grande do Sul e as pessoas falaram isso pra mim: "Querem que a gente venda a Corsan e o Branrisul, você vai fazer?". Falei "Não vou" (esclarecimento: o plano de recuperação em discussão atualmente entre o governo gaúcho e a União não prevê a venda do Banrisul e da Corsan). Não vou obrigar vocês a privatizar nada. Agora, vocês vão ter que ajudar a sanear. Então, eu vou renegociar se vocês se comprometerem com o saneamento. Saneamento não é vender patrimônio, é cortar despesas supérfluas por exemplo. Se o Estado está em crise, vamos fazer um esforço comum: a União faz a parte dela refinanciando, para dar folego para o governador. Seja qual for, viu? Não vou aqui fazer essa distinção, porque tem que pensar nos gaúchos, não posso pensar no Sartori ou no Leite. Para mim, qualquer um dos dois tem que estar a serviço do Estado.
Se eleito presidente, o senhor encaminhará uma reforma da Previdência ao Congresso? O senhor defende idade mínima?
Você tem poucas variáveis para ajustar. Quais são as variáveis de ajuste da Previdência? Tempo de contribuição, idade mínima, alíquota de contribuição, e benefício. Então, uma dessas quatro coisas tem que mudar. Quais vão mudar? Nós vamos sentar para ver o que é mais confortável, o que é uma transição mais adequada. Agora, não dá para não fazer. Tem uma coisa que nós não vamos fazer. Nós não vamos mexer com política de valorização do salário mínimo, com Benefício de Prestação Continuada (BPC), com aposentadoria rural. Isso nós não vamos mexer agora. Porque nós estamos falando de Previdência, não de assistência. E o governo Temer misturou tudo e não aprovou nada.
A reforma valerá para todos?
Quando eu digo que é regime único, não digo que não possa haver uma ou outra excepcionalidade dependendo da categoria profissional. Pode acontecer. Professor, por exemplo, a gente sabe que tem aposentadoria especial. Mas não deixa de ser único. Nós temos que juntar os dois regimes, os próprios e o geral, num sistema único.
Os militares, por exemplo?
Poderiam ter essa excepcionalidade em função da natureza da profissão. Mas é evidentemente sem privilégio. Uma coisa é aposentadoria especial por uma condição especifica, outra coisa é privilégio. Privilégio eu não sou a favor pra ninguém. Nem pra juiz, nem pra militar, privilégio é ruim.
A segurança se tornou um grande problema do país. Seu adversário foi para a campanha pregando endurecimento de penas e a possibilidade de policiais não precisarem responder na Justiça quando matam alguém. Além disso, há também propostas como a flexibilização do estatuto do desarmamento. O senhor se declarou contra a revisão do estatuto do desarmamento, e eu gostaria que explicasse por quê. E quais são as suas propostas para a segurança?
Nosso modelo é bem diferente do dele, que é uma espécie de privatização da segurança da segurança pública, que ao armar a população vocês está tirando o Estado de cena. Isso já aconteceu em vários países com resultados desastrosos. Licença para matar em um país em que só 8% dos homicidas vão para a cadeia? Você vai dar mais licença para matar?
Eu não acho que os governadores tenham condição, hoje, de combater o crime organizado. Porque não é mais territorial, é nacional. O problema não está no âmbito de um Estado.
Eu me refiro à polícia.
Mas é igual. A polícia que mais mata e que mais morre é a brasileira. Só vai piorar. Nossa proposta é o sistema único de segurança pública, que, do ponto de vista do governo federal, exigiria mudança de lei para que a Polícia Federal assuma certas responsabilidades que hoje não é dela.
Por exemplo?
O crime organizado em território nacional. Eu não acho que os governadores tenham condição, hoje, de combater o crime organizado. Porque não é mais territorial, é nacional. O problema não está no âmbito de um Estado. O PCC, que é de São Paulo, se espalhou pelo país. Inclusive, a guerra de facções que existe hoje é em razão de o PCC querer tomar o território nacional.
Tem dinheiro para isso, considerando-se que o orçamento hoje é tão deficitário? Como o senhor faria esse equilíbrio de contas para que sobre dinheiro para questões essenciais como a segurança pública?
Dentre as reformas que eu cito, a reforma tributária para acabar com as desonerações.
E quais seriam os pilares dessa reforma, além de reduzir as desonerações?
Um é esse: reduzir as desonerações em dois terços. A outra é a simplificação de cinco a sete tributos que vão ser eliminados para do IVA. A terceira é diminuir o imposto de renda a zero de quem ganha até cinco salários mínimos. Voltar a cobrar IR dos grandes acionistas de grandes empresas que não pagam hoje sobre dividendos. Voltar a compensar a perda de arrecadação para quem ganha até cinco salários mínimos. E garantir que Estados e municípios não vão perder receita real ao longo da transição.
Tudo isso teria de passar pelo Congresso Nacional.
Só para falar uma coisa, já que você falou em Congresso: também faremos a reforma bancária. O Brasil tem o pior sistema bancário do mundo no que diz respeito ao crédito. O Brasil é muito bom em serviço bancário, um dos mais evoluídos do mundo. É caro, mas é bom. No caso da atividade bancária em si, que é tomar e emprestar, a intermediação financeira, o país está entre os piores sistemas do mundo. Então, vamos ter de fazer a reforma bancária para baixar o juro para o tomador.
No MEC, na sua gestão, o senhor tem duas laranjas de amostra, que são as universidades e as escolas técnicas. Mas os índices gerais de aprendizagem no Brasil são muito ruins. Se o senhor for eleito presidente, que medidas tomará para melhorar a educação básica?
Primeiro, uma consideração sobre sua fala: o Ideb do Ensino Fundamental vem melhorando desde que eu lancei o Plano de Desenvolvimento da Educação.
Mas ele ainda está longe da meta...
Não, no Ensino Fundamental não.
O Ensino Médio que está abaixo da meta.
Por isso que estou falando do Fundamental, só para relativizar a sua fala. No Fundamental, a evolução é bastante significativa. O atendimento à pré-escola no Brasil quase se universalizou, e nós vamos universalizar. Até porque é uma obrigação que eu criei na Constituição. A creche triplicou a matrícula nesse período. Então, você tem aí uma parte da educação básica que está reagindo. Nosso maior problema é no Ensino Médio. O que eu fazer no Ensino Médio? Como eu espalhei escolas fundamentais pelo Brasil inteiro, no Ensino Médio — os institutos, escolas militares, sistema S, Senai, Sesi —, eu vou pegar cada uma dessas unidades e elas vão ser obrigadas a pactuar com as escolas estaduais um novo paradigma de qualidade. O padrão de referência vai ser a escola federal, que são as melhores do Brasil — incluindo as privadas. E elas vão fazer um acordo de cooperação para promover a qualidade das escolas estaduais, que não estão bem. Começando por quem tem pior desempenho no Enem, evasão, vulnerabilidade.
O senhor já falou que vai respeitar a Constituição que existe, mas lá no primeiro plano do governo apresentado pelo PT existia a proposta de uma nova constituinte e também a regulação da mídia. O que vale, afinal de contas: o que foi apresentado lá atrás ou o que o senhor está falando agora?
Se nós tínhamos uma diretriz que foi alterada, vale a alteração. Não passou a eleição ainda. Depois que passar a eleição é o que eleitor aprovou. É normal esse tipo de ajuste. Nós estamos falando de uma linha de um programa que tem 70 páginas, e que na verdade estava mal redigido, confesso. Passou uma má impressão.
Então não tem assembleia constituinte?
Não tem.
E a regulação da mídia?
Aí, é diferente, também vou deixar claro. O que é isso? Existem Estados em que uma única família... Pega o Maranhão: a família Sarney, que apoia o Bolsonaro, detém o rádio, a TV, o jornal... Tudo é deles. Em um mundo desenvolvido isso não é permitido. Significa dizer que, se você tem rádio e TV, uma está na mão de um grupo e outra está na mão do outro. Mas no mundo desenvolvido, se tem uma rádio com 80% de audiência, tudo bem. Mas ela não pode estar na mão da mesma família que tem a TV com 80% da audiência. Porque senão você restringe a democracia.
Temos de passar a responsabilidade. Agora, não é em cima dos pobres que vamos fazer ajuste fiscal. Essa é a diferença.
Quem seria seu ministro da Fazenda?
Estou fazendo sondagem, mas não fiz convite ainda. E por uma razão: acho que não se deve antecipar. Estou conversando com empresários do setor produtivo, já falei que não estou procurando um banqueiro para o ministério da Fazenda. Acho que Paulo Guedes vai fazer muito mal para o Ministério da Fazenda. O foco dele não é emprego, que é o mais importante para o Brasil hoje. Perfil eu estou buscando. Provavelmente vai ser um economista ou um empresário ligado à produção.
Seu ministro da Fazenda seria um ministro que reza a cartilha do ajuste fiscal?
Não adianta imaginar que vamos ter saída para o Brasil se não fizermos a trajetória da dívida cair. Quando e como vai cair é a arte da política. Como faz ela cair? O desenho dela, a trajetória. A direção tem de ser de queda, não podemos endividar mais o país. Temos de passar a responsabilidade. Agora, não é em cima dos pobres que vamos fazer ajuste fiscal. Essa é a diferença. Em cima do pobre, que já está pagando R$ 80 o botijão de gás, não dá. O salário mínimo cresceu menos do que a inflação, cortaram não sei quantas mil famílias do Bolsa Família. Não é assim.
A cada eleição nós temos mais partidos representados. Desta vez, teremos 22 no Senado e 30 na Câmara. Dá para governar assim? O senhor vê a possibilidade de reforma política? Em que termos?
Tem duas coisas muito importantes. Três, na verdade: cláusula de barreira, fim da coligação proporcional e fim do financiamento empresarial. Essas três medidas que já estão em vigor, e valem para a próxima eleição, vão enxugar o número de partidos para menos de 15. Rapidamente. Estou propondo que a eleição para o Senado e para a Câmara seja realizada para a próxima eleição a partir do segundo turno. Pois aí já se tem só dois candidatos, e o Congresso se elegeria na base de duas propostas escolhidas pelo eleitor, ou uma proposta já definida. Acho que isso aprimoraria. É um pouco inspirado no modelo francês. Na França é assim: Macron foi eleito, e a Assembleia Nacional depois de quatro meses. Não precisa ser quatro meses, pode ser no segundo turno, que o efeito é o mesmo. Os partidos vão se organizar em torno de duas propostas, que é o que a gente precisa.
O que o senhor vai fazer se não conseguir se eleger?
Eu não vivo da política. Sou professor universitário, tenho emprego, vivo do meu salário. Então, vou para a sala de aula, isso que eu vou fazer.
Meu patrimônio é o que o meu pai fez e o que eu fiz até antes de entrar na política. E eu estou muito feliz com isso.
E o que vai ser do PT se perder esta eleição para presidente da República?
Acho que o PT já ganhou, enquanto partido, pois achavam que ele não estaria no segundo turno. Todos os outros partidos perderam.
Que erros o PT cometeu no exercício do poder e que são inaceitáveis e não admitiria em seu governo?
A maior questão foi o controle das estatais. Aperta o controle das estatais. Nós temos de ter um padrão igual ao que foi feito no ministério. Nós aprendemos a fazer, nós sabemos fazer. Eu dormia tranquilo no MEC, porque tinha gente lá que cuidava. Não era só eu. Quando eu criei a Controladoria-Geral do Município em São Paulo, desbaratamos uma quadrilha em três meses. Recuperamos R$ 300 milhões.
Estamos falando de escândalos envolvendo ministros: Antonio Pallocci e Guido Mantega. O Pallocci reconheceu que cometeu erros.
O Pallocci está sendo processado por crimes cometidos depois que ele deixou o governo. Por isso que falo que os controles dentro dos ministérios funcionaram bem. Acho que é ponto de vista da maioria das pessoas de boa-fé que viram o trabalho que foi feito pela Controladoria Geral da União (CGU), que ganhou status de ministério. A ONU soltou comunicado criticando o governo Temer por ter desaparelhado a CGU. Já estamos perdendo fôlego de combate à corrupção. E os elogios à CGU eram enormes. Esses controles funcionaram.
Agora, se o sujeito... Meu dizia: as pessoas são honestas até deixarem de ser. É triste ver uma pessoa enriquecer dessa maneira. Mas o meu patrimônio é o que o meu pai fez e o que eu fiz até antes de entrar na política. E eu estou muito feliz com isso. Se pegar minha declaração do Imposto de Renda do ano 2000 e comparar com a de hoje, você vai dizer que eu não tive evolução patrimonial.https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/eleicoes/noticia/2018/10/video-de-haddad-chegando-em-uma-ferrari-e-de-2016-e-foi-gravado-em-interlagos-cjnc7ppgr05kj01pi55b990wo.html