Autodefinido como "liberal na economia e conservador nos costumes", o pré-candidato do PRB à Presidência, Flávio Rocha, é o segundo participante da série Sabatina GaúchaZH. Rocha foi entrevistado pelos jornalistas Carolina Bahia, Daniel Scola, Rosane de Oliveira e Tulio Milman, em sua última visita ao Estado, na sexta-feira (15), quando fez palestras em Caxias do Sul e Canoas.
O empresário descartou a possibilidade de abandonar a candidatura para ser vice de outro concorrente:
— Não deixei minha zona de conforto no melhor momento da minha vida empresarial para ser coadjuvante. Saí para ser protagonista, porque acho que o Brasil está precisando de alguém para enfrentar o marxismo cultural que atrasa o país.
Diante das especulações de que poderia apoiar o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, Rocha fez críticas ao deputado:
— Ninguém sabe exatamente o que ele pensa. Diz que é liberal, mas defende um nacionalismo que considero ultrapassado.
Dono das Lojas Riachuelo, um grupo que emprega 40 mil pessoas em todo o Brasil, Rocha diz que conhece bem o Rio Grande do Sul, porque é casado Ana Claudia, nascida em Novo Hamburgo.
Se o PRB fechar acordo com outra legenda no primeiro turno, o senhor abandonaria sua candidatura ou aceitaria ser vice de outro candidato?
Minha opção pela política foi uma opção de desprendimento. Abandonei o melhor momento da minha vida empresarial em uma decisão pela falta absoluta de ter em quem votar. Dos 35 partidos que estão aí, as dezenas de projetos da extrema-direita e extrema- esquerda têm algo em comum, defendem as corporações. Me senti compelido a dar esse passo pela orfandade da imensa maioria dos que puxam a carruagem. Não faria o menor sentido sair do apogeu da minha vida empresarial para ser coadjuvante na política ou ter papel secundário. Não faz nenhum sentido, não acredito que meu partido irá fazer isso. Temos compromisso mútuo, sinto que minha candidatura está sendo boa, necessária para o fortalecimento e a visibilidade do partido. Vim para preencher um gigantesco vazio que existe na política.
O senhor é um desconhecido para a maioria dos eleitores. Como vai se fazer conhecido?
Tenho a maior taxa de conversão dos candidatos. Sou conhecido por 5% dos eleitores, tenho 1,5%. Quando nossos trackings internos mencionam que é "Flávio Rocha da Riachuelo (rede de lojas da qual foi presidente até abril deste ano)", chego a 5%, o que é um ótimo começo. Estamos com a campanha mais parruda, colocando em torno de nós todas ferramentas de comunicação, mídias sociais, as melhores cabeças. Vamos realmente fazer uma campanha intensa. Matéria recente de um jornal de grande circulação acompanhou o ranking de quilometragem dos candidatos. Fiquei em primeiro lugar. Fizemos 38 grandes eventos pelo Brasil. Existe tempo, sim, de vencermos o grande inimigo que é o desconhecimento. E acho que o nosso grande aliado é a orfandade desse novo personagem que entrou na política. Esse gigante adormecido dos 98% que trabalham, puxam a carruagem e pagam impostos e que eram tratados como massa de manobra.
Quem mais sofre é o elo mais frágil, é o trabalhador. Esses 14 milhões de desempregados têm muito a ver com a irracionalidade das leis trabalhistas.
Usará o nome Riachuelo?
Não irei usar, mas você não pode contar a minha biografia sem contar que Flávio Rocha é aquele da Riachuelo, e isso as pesquisas, como mencionei, trazem. São realmente atributos que estão sendo procurados pelo eleitor. Está se procurando gestão, ficha limpa. Está se procurando um outsider, alguém descompromissado com o que nos causa ojeriza no noticiário político. São esses atributos que acho que estão faltando.
Privatizaria a Petrobras e outras estatais?
Existe governo demais onde não precisa existir governo, e a consequência disso é a grande ausência onde o governo é necessário e insubstituível. Digo a mesma frase de uma pessoa que muito admiro, que não está mais entre nós e que tive a oportunidade de conviver, Roberto Campos. Ele dizia que, se a Petrobras é eficiente, não precisa do monopólio. Se é ineficiente, não merece o monopólio. Tivemos aqui a recente crise dos caminhoneiros, que foi exatamente a rebelião contra a gastança, a irresponsabilidade, a ineficiência que o monopólio traz. E isso é uma pequena amostra do que está por acontecer se não assumirmos as rédeas do processo. O motivo de ter entrado na política é que essa rebelião, essa indignação de uma maioria que não aguenta mais pagar a conta da irresponsabilidade do Estado brasileiro, desague pela via democrática das urnas em 7 de outubro. Porque, se essa rebelião, se esse grito de basta, de independência, que está atravessado na garganta dos 98% da população brasileira, não acontecer pela via democrática, temo pelo pior.
O senhor não respondeu sobre as privatizações.
Sou a favor das privatizações. Precisa ter Estado nos serviços essenciais. Se o nosso setor de óleo e gás estivesse regido pelo juiz mais sábio que existe, que é o livre mercado, com livre concorrência em todos os elos da cadeia produtiva, inclusive com políticas de preço concorrendo entre si, uma política mais agressiva, uma mais conservadora, uma com repasses trimestrais, outra com repasses diários, o consumidor iria escolher qual a política acertada.
O senhor fala em livre mercado, mas países mais liberais têm políticas protecionistas.
Existe alguma regulação que é necessária. Por exemplo, no setor de energia. Mas a pior combinação é a indicação política em agências reguladoras. Esse é o caminho do desastre. Não estou radicalizando ou endeusando o livre mercado, só estou dizendo que a mão invisível do livre mercado, como dizia Adam Smith, leva a ações muito mais inteligentes, mais racionais, mais meritocráticas. Costumo dizer que o mercado é a mão de Deus intercedendo sempre a favor do trabalhador, do mais eficiente, do mais competente. Estamos vivendo um processo de incrível judicialização. Enquanto falta crença na sabedoria do livre mercado, se deixa ele no banco de reserva, entram em campo os falhos tribunais humanos, gerando alocações irracionais e privilégios políticos.
Considera o Bolsa Família um equívoco em política social?
Não. Como nordestino, sei da necessidade, em um país pobre como o nosso, de uma rede de proteção social. Tanto é que no nosso programa de governo estamos indo além, propondo o Bolsa Família 2.0, que está dentro do nosso desenho de reforma tributária. Imposto de Renda apenas acima de 20 salários mínimos e Imposto de Renda negativo para famílias abaixo de um salário mínimo, com complemento para sua renda. Agora, é necessário que exista uma porta de saída. Ronald Reagan dizia que o melhor programa social que existe é o emprego. Esse é o nosso compromisso. Mais do que gerar empregos, é não destruir. Isso é mais fácil. O mundo todo está tentando criar empregos, porque, quando resolve empregos, resolve a saúde, a educação, a moradia. Agora, é incrível como, com o dinheiro público, você tem essa burocracia insensível, asfixiante, destruindo vagas em larga escala no Brasil.
Qual seria a primeira medida para recuperar a economia?
Enviar o nosso código nacional de segurança para o Congresso, porque esse é o problema de vida ou morte. É aqui que existem 62 mil vidas em jogo. No plano econômico, pretendo aprovar as quatro reformas que vão tirar o Brasil do humilhante 153º lugar no ranking de liberdade econômica de competitividade e que pode, a curto prazo, nos colocar entre as economias mais atrativas para investimento. Somos das economias mais hostis. Temos de defender a reforma trabalhista.
Acabou de ser feita uma reforma a duras penas. O que o deveria mudar que não foi mudado?
A reforma trabalhista, primeiro, precisa ser defendida, apesar de já ter sido aprovada.
As centrais sindicais argumentam que, depois da reforma, não há geração de emprego. Ao contrário, houve a reforma, está valendo e caindo o emprego.
Depende da fonte. Pelo IBGE há pequeno decréscimo em janeiro e fevereiro, mas o trimestre já é positivo, apesar de todo o caos econômico, de todos os revezes que aconteceram. O dado mais animador, e que pode fazer com que gerar empregos deixe de ser atividade de alto risco, é a queda substancial nas demandas trabalhistas, que chega a 75% em alguns casos. Existiam em média 38 demandas por ação. Isso caiu para quatro.
Sou a favor das privatizações. Precisa ter Estado nos serviços essenciais.
O que este governo não conseguiu fazer e o que o senhor poderia fazer?
Tirando a burocracia trabalhista e quem se beneficiava dessa litigância absurda, acho que qualquer pessoa de bom senso sabe que o Brasil não pode ser tão hostil à geração de empregos. Quem mais sofre é o elo mais frágil, é o trabalhador. Esses 14 milhões de desempregados têm muito a ver com a irracionalidade das leis trabalhistas. Pergunte a qualquer presidente de multinacional, e ele vai lhe dizer: em média, a operação brasileira representa entre 90% e 95% das ações trabalhistas no mundo. Isso é consensual, mas não é suficiente. A reforma tributária é a de maior efeito na competitividade. Falava aqui do 153º lugar no ranking de competitividade, esse era meu indicador gerencial. Meu compromisso é tirar o Brasil desse pelotão dos países mais hostis, porque isso destrói milhões de empregos, e colocar entre as nações mais receptivas. Podemos estar entre os 30 países mais hospitaleiros ao investimento.
Significa baixar impostos?
Em primeiro lugar, descomplicar. Eliminar esse asfixiante cerco burocrático de fundo ideológico dessa aristocracia burocrática que se apropriou de áreas fundamentais do Estado e usam bandeiras importantes em nome de suas ideologias. Quem mais desserve ao trabalhador é o xiita trabalhista. Aqui no Rio Grande do Sul isso é muito presente. Quem serve ao meio ambiente é o xiita ambiental. No meu Estado (nasceu em Pernambuco, mas fez carreira política no Rio Grande do Norte), o turismo foi destruído. Natal, um polo promissor, foi destruída pela ação ideologizada de uma entidade sagrada que é o Ibama porque expulsou os investimentos de grandes resorts que poderiam ser os grandes guardiões do meio ambiente. E hoje as áreas privilegiadas que poderiam abrigar investimentos importantes são invasões de pessoas empobrecidas pela falta de investimento. Quem mais desserve ao consumidor é a ideologização do Código do Consumidor. Então, você vê como essa contaminação ideológica, além de degradar o meio ambiente e nos fazer um dos países mais hostis quando deveríamos ser um dos mais receptivos, desserve as bandeiras que diz servir.
O imposto único, que o senhor costumava defender, ainda seria o caminho para tornar o Brasil mais competitivo ou hoje o senhor vê que não há condições de ser aplicado?
A reforma trabalhista, bem implementada segundo a própria fonte de informação do Heritage Fundation, tem a condição de, a curto prazo, com sua plena implementação, fazer o Brasil galgar 30 posições no ranking de competitividade. A reforma tributária é a de maior impacto, porque gastamos 8% do PIB em escrituração tributária, tanto do lado do contribuinte, que chega a gastar 2 mil horas por ano em escrituração tributária, quanto da autoridade fiscal. O imposto único é uma revolução tributária. Hoje, em 200 computadores de 200 bancos, existe a mais perfeita e universal síntese de toda atividade econômica do país, através de impulsos eletrônicos. Aí estou incluindo a economia informal, a clandestinidade, até as operações ilegais.
A gente deixa de falar de bases tributárias de algumas centenas de bilhões de reais para centenas de trilhões de reais. Você deixa de falar de alíquotas de 17%, 20%, e passa a falar de alíquotas de 0,2%, 0,3%. O perigo desse imposto é a forma como foi implementado por um governo gastador e fiscalista, pois ele é um imposto indolor, praticamente imperceptível, mas com um enorme potencial de arrecadação. Então, quero recolocar em debate, sim, o que foi a minha bandeira parlamentar lá nos idos de 1992, e que representa um salto tecnológico, uma revolução.
Como o senhor irá distribuir esses impostos? Cerca de 70% dos tributos ficam em Brasília e vêm em cascata até chegar no município, que fica com a menor parte e absorve a maior parte dos problemas.
Está havendo uma insurreição do cidadão e do município contra esta corte de Brasília, este buraco negro de gastança. Da mesma forma que o cidadão perdeu, o município perdeu. O município está cada vez com mais demandas e com mais opressão. O aspecto mais revolucionário desta tributação automática não é só a automação a custo zero da arrecadação, mas é a automação da partilha. Você abandona mecanismos totalmente vulneráveis à corrupção. Você irá, pela primeira vez, discutir os critérios de partilha.
O que estou propondo é que seja 40% União, 30% Estados e 30% municípios. O município é o que está à frente da demanda social, pois o contribuinte recorre ao município. Ali é que está a demanda. E você recolhe impostos para fazer face a gastos que são rigorosamente proporcionais às populações. Por que não distribuir isso de forma proporcional às populações? Para os Estados, 90% população e 10% território, porque com certeza o Amazonas tem uma extensão maior e isso gera custos decorrentes. As bases tributárias atuais são extremamente injustas. Estive recentemente em Camaçari (BA), uma pequena cidade que tem um polo petroquímico e que recebe uma carga de ICMS absurda. O município vizinho, com a mesma população, a mesma demanda social, não tem polo petroquímico. Então, a base de um tributo importante como o ICMS gera deformações enormes. Por isso, refiro o imposto único como revolução municipalista. Você vai pela primeira vez sair da subjetividade e discutir o critério de partilha.
O senhor tem dito que é um liberal na economia e conservador nos costumes. Qual sua opinião sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo, aborto e liberação das drogas?
O que me moveu foi a total orfandade de um ideário no plano dos valores que estava completamente abandonado, ou, quando muito, ocupado com radicalismos de um fenômeno recente da política que ocupa esse espaço, que não refletem o que grande parte do eleitorado espera. Estamos querendo deixar para trás um conjunto de ideias ruins que não estão só na economia, como também nos valores. Protagonismo do Estado, intervencionismo e explosão dos gastos públicos e das ideias de esquerda vêm acompanhados também do marxismo cultural. É o bagunçar para governar. É a tentativa de destruir os alicerces morais. Para responder a isso a gente precisa ter um pacote completo. Um liberal na economia mas que represente também reação indignada a esse marxismo cultural.
O que o senhor entende como marxismo cultural?
É a nova tática da esquerda. Se viu que as ideias econômicas de Karl Marx estavam mortas, enterradas há cem metros de profundidade, deram errados no mundo todo. O novo socialismo é baseado em um dos intelectuais mais sórdidos da economia, Antônio Gramsci, e também na Escola de Frankfurt, que prega, pasmem, a destruição de valores sagrados como a família, as instituições, a polícia, a justiça. E é a isso que me oponho. E nesses valores, a minha posição é muito clara. Sou a favor do casamento gay como está na lei, da união civil gay. Mas, como liberal, não admito que o Estado interfira em uma agremiação religiosa para impor sua visão. Existem agremiações mais liberais, menos liberais, e deve-se fazer valer os seus valores. Na questão do aborto, sou contra, porque acho que o único que pode tirar uma vida é Deus. Assim como sou contra a pena de morte.
O senhor é contra o aborto em todas as circunstâncias?
Me alinho perfeitamente ao que está previsto em lei: em caso de estupro, risco de vida da mãe, má-formação de feto.
Muitas pessoas entendem que a regulamentação das drogas seria um caminho para evitar as brigas que hoje temos em facções pelo tráfico de drogas.
Sou contra a liberação das drogas e me alinho à imensa maioria das mães que sofrem com esse problema. Se você achar uma mãe de família de uma comunidade, mãe de adolescente que vive o drama cotidiano de disputar seu filho, que constitui uma mão de obra preciosa para o narcotráfico, você vai me dar razão. Me alinho ao drama dessas mães que seriam às que mais sofreriam com a legalização das drogas.
Então qual seria a sua política para o combate ao tráfico de drogas? Se entende que hoje é uma briga que o Estado perdeu.
Exatamente, como perdeu a guerra contra as drogas, contra a criminalidade, contra os 62 mil homicídios. 98% dos assaltos à mão armada ficam insolúveis. Isso é uma perda resultante desse manietar as polícias. Temos de prestigiar as polícias. Aqui temos, mais uma vez, a presença do marxismo cultural. Pressupõe a cumplicidade com o bandido. Você tem uma lei incrivelmente branda, o estatuto do desarmamento foi um fracasso, foi extremamente malsucedido. A intelectualidade de esquerda é conivente com bandido e faz todo esforço no sentido de abrandar. Temos uma lei, um código de execuções penais, incrivelmente brando. Se um bandido for infeliz o suficiente estará nos 8% dos crimes de homicídios que são resolvidos. Talvez 3,5% de cada cem homicídios resulte em condenações. Essas condenações, invariavelmente, na grande maioria dos casos, é condenação mínima, de seis anos, uma das mais brandas do mundo. E em muitos casos ele vai cumprir um ano e está na rua.
Não saí da minha cadeira confortável da minha empresa para ser coadjuvante. Volto a dizer, saí pela total ausência de ter em quem votar.
De que forma pretende ajudar a fortalecer as polícias?
A questão das polícias não é apenas resultado do caos fiscal de Estado e municípios, mas sim dessa decisão de fundo ideológico de desaparelhar as polícias para sua importante função. No Rio Grande do Sul e em outros Estados faltam munição e gasolina em viaturas.
Aqui é problema financeiro.
É, talvez aqui o componente financeiro, devido às dificuldades das contas públicas, esteja mais presente. Mas há, de maneira geral, ataque sistemático às polícias. Por exemplo, 97% das notícias relativas à policia são, às vezes, não só depreciativas, mas até caluniosamente depreciativas.
De onde é esse dado? Qual seu critério de "depreciativo"? Quase 100% das notícias de polícia são relativas à atuação.
Existe uma guerra urbana entre a criminalidade e as polícias e, frequentemente, uma diferença de tratamento muito desfavorável às polícias. O que defendo é que devemos proteger quem nos protege. Municiar do mínimo necessário, ferramentas tecnológicas para que possam ganhar essa guerra urbana. A questão dos presídios, da mesma forma, viraram os escritórios do crime. Os Estados não conseguem colocar um bloqueador de celular nos presídios.
Qual seria sua política para o sistema penitenciário?
Somos a quinta população do mundo com a quarta população carcerária. Esse mito do hiperencarceramento também precisa ser denunciado. Se 98% dos assaltos à mão armada não são sequer identificados, se 92% dos homicídios não são identificados, não existe hiperencarceramento. Se prende mal e existe, intencionalmente, mais um componente ideológico, a falta sistemática de recursos para os presídios. A solução definitiva que o liberal propõe é a privatização para os presídios, para que se saia dessas masmorras medievais que se transformaram nossos presídios sem ter condição do trabalhador trabalhar e ter o mínimo para reinserção na sociedade.
O senhor sente-se à vontade para criticar Bolsonaro? Já houve muita especulação de que poderia ser o vice dele, capaz de dar maior credibilidade a essa candidatura.
Não saí da minha cadeira confortável da minha empresa para ser coadjuvante. Volto a dizer, saí pela total ausência de ter em quem votar. Não passa pela minha cabeça servir a ninguém, muito menos a Jair Bolsonaro (pré-candidato do PSL à Presidência).
Quais são as principais críticas em relação às propostas dele e como o senhor interpreta a popularidade nas pesquisas?
Como um imenso vazio, uma imensa orfandade de temas importantes. Mesmo com radicalismos e exageros, mesmo carregando nas cores e falando que bandido bom é bandido morto, existia tamanha orfandade, tamanha demanda por ordem, tamanha indignação em relação a essa inversão de valores, de dizer que bandido é vítima da sociedade, que afronta os valores da família. Ao falar em família, me refiro à família em todas suas configurações. Tenho sido acusado injustamente de ser um moralista. Quando digo que sou conservador, não estou falando em ser moralista, careta. Pelo contrário, era até um mês atrás presidente da maior rede de moda do país. Moda é diversidade, é riqueza cultural. Nossa empresa é a maior empregadora de transexuais no Brasil. Diversidade é um valor fundamental em uma empresa de moda. Não me vejo com nenhuma afinidade com Bolsonaro, principalmente no plano da economia.
O senhor, eleito, proporia a revogação do Estatuto do Desarmamento? Liberaria as armas para a população como o seu adversário propõe?
Proporia o respeito à decisão do povo. Em 2005, foi feito um plebiscito. Aqui no Rio Grande do Sul, se não me engano, foi 80% de rejeição ao estatuto. Temos de apontar o marxismo cultural, esse ataque ideológico, essa cumplicidade com o banditismo, que levou a engavetar essa decisão soberana do povo. A estratégia é esta: desarma o camponês e joga o MST em cima.
Defende o armamento?
Defendo a possibilidade de autodefesa. Defendo que um ser humano que tenha habilidade de manusear uma arma possa se submeter à mesma via crucis de testes psicológicos e psicotécnicos que um policial e possa reivindicar seu porte de armas. Isso é positivo, cria um efeito de auréola de proteção: um cidadão de bem com arma para se defender. As pessoas do bem estão desarmadas, e as pessoas do mal estão armadas até os dentes.
O senhor não teme que uma briga de trânsito termine em troca de tiros com as pessoas armadas na rua?
As estatísticas mostram que não é isso que acontece. O que traz a criminalidade é a autoconfiança que o bandido tem ao saber que vai chegar em um churrasco, em um prédio, em um restaurante, e que a chance de encontrar alguma reação é absolutamente zero. A criminalidade é uma relação de custo-benefício. Existe claramente uma impunidade, a chance de punição é cada vez menor, e o prêmio à criminalidade, cada vez maior. É isso que gera a criminalidade.
O senhor fala muito nas suas qualidades, uma delas é ser ficha limpa. O presidente do seu partido, Marcos Pereira, é um dos delatados pela Odebrecht. O senhor tem confiança nele?
Ex-presidente, pois ele se licenciou agora para responder. Não sou político, não tenho participação em nenhuma instância partidária, apenas identifiquei grande afinidade programática ao PRB. Esse é um partido cioso dos valores que julgava órfãos na política. Tenho reiterado meu apoio total à Lava-Jato, à luta contra a corrupção. Pretendo até triplicar, fiquei sabendo que o orçamento da Lava-Jato é de R$ 1,5 milhão. Isso é irrisório e talvez seja até um garroteamento para impedir sua ação. Vamos ampliar o orçamento da Lava-Jato porque é um trabalho de herói que tem sido feito pelo juiz Sergio Moro e sua equipe.
Vai participar da campanha de Marcos Pereira?
Não, ele é candidato a deputado federal, está sujeito ao juiz mais sábio, que é o povo. Não há absolutamente nenhuma condenação, e o Judiciário vai fazer sua parte.
O PRB foi base de apoio à Dilma Rousseff e também é de Temer. Afinal, qual é a mudança?
A mudança é o fim da orfandade do novo entrante na política que é o eleitor cidadão, que puxa a carruagem, que paga a conta e que entrou para valer na política. A gente vê aí os projetos que estão colocados na extrema-esquerda e extrema-direita: um defende o sindicato dos professores e o outro defende o sindicato dos militares, mas é sempre o compromisso com as corporações. O que me une ao PRB, partido que estou totalmente confortável com seu ideário, é a identidade doutrinária, ideológica. Não vamos fazer toma lá dá cá. Acho que nem o meu mais ferrenho adversário pode imaginar que tenha abandonado uma das maiores empresas do Brasil, no meu melhor momento da minha vida empresarial, para que eu tenha qualquer vantagem de ordem pessoal. Entrei pelo mais puro e sincero idealismo.
Assista à íntegra da sabatina: