Não é apenas Jair Bolsonaro (PSL-RJ) que pretende surfar na onda verde e amarela que tomou conta de muitas ruas brasileiras desde 2013 e que têm a caserna como um de seus principais baluartes. Uma sala da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), na área central de Brasília, serviu de ponto, na última terça-feira (8), para um encontro de pré-candidatos à eleição de 2018 que possuem uma identidade comum: são todos ex-integrantes das Forças Armadas. A reunião foi testemunhada pela repórter Tânia Monteiro, do jornal Estado de São Paulo, veterana na cobertura de assuntos militares.
A estrela do encontro foi o general reformado Augusto Heleno, um dos mais conceituados do país, que comandou as primeiras tropas brasileiras no Haiti. Ele é defensor de Bolsonaro para a Presidência.
Nos cálculos dos organizadores, já são 71 os aspirantes a políticos que vestiam farda até pouco tempo. A maioria, candidato a deputado federal. Alguns, a deputado estadual (ou distrital, no caso de Brasília). Uns poucos, a governador. É o caso de Paulo Chagas, general do Exército que pretende disputar o governo do Distrito Federal pelo PRP. No Ceará é o general Guilherme Cals Theophilo de Oliveira que se lançou candidato ao governo estadual, pelo PSDB.
Tanto Chagas quanto Theophilo vêm de família de militares e contam com apoio nos quartéis, um filão a que poucos políticos se atentam. Afinal, as Forças Armadas congregam 374 mil militares da ativa (228 mil do Exército, 77 mil da Marinha e 68 mil da Aeronáutica), sem falar nos seus familiares e nos reservistas. O discurso dos ex-fardados, moderado ou extremista, não varia muito. É embasado na furiosa defesa de mais segurança nas ruas, patriotismo, nacionalismo. Em alguns casos (não todos), moralismo em relação a costumes. Os aspirantes a cargo eleitoral ligados à caserna também estão de olho em outro manancial de votos: o dos 425 mil policiais estaduais e federais do Brasil (e dos seus familiares).
Pelo menos quatro pré-candidatos a deputado são do Rio Grande do Sul.
Na reunião dos 71 em Brasília não foram vistos filiados a partidos de esquerda, mas é provável que venham a surgir nos próximos meses. A maioria, porém, se alinha com bandeiras conservadoras.
As candidaturas militares se nutrem numa esperança: a de que o seu prestígio se reverta em votos. Conforme análise divulgada em fevereiro pelo Datafolha, as Forças Armadas são a instituição mais bem avaliada no país, sobretudo pelo medo da população de sair às ruas.