Em versão repaginada na comparação com ele mesmo quando disputou a eleição presidencial, em 2002, Ciro Gomes (PDT) está mais calmo e treinado para falar diante das câmeras sem perder a paciência. O homem que acendia um cigarro no toco do outro parou de fumar há cinco anos e engordou 16 quilos. Perdeu alguns na rotina de viagens da campanha, mas está longe da silhueta que exibia ao tempo de ministro da Fazenda de Itamar Franco. Aperfeiçoou a tática de despejar números, citar lugares longínquos de diferentes pontos do país e não poupar adversários com a língua ferina.
Ao desembarcar no Rio Grande do Sul, na semana passada, ao lado da mulher, Gisele Bezerra, mostrou conhecimento da história, da geografia e dos problemas locais na entrevista aos jornalistas Tulio Milman, Rosane de Oliveira, Daniel Scola e Carolina Bahia.
Durante uma hora, discorreu sobre suas propostas de governo, com foco na retomada do desenvolvimento. Explicitou pontos polêmicos, como a de revogar a reforma trabalhista aprovada no ano passado e a de tirar 64 milhões de brasileiros do SPC, mediante negociação e refinanciamento das dívidas, e deteve-se nos resultados obtidos pelas escolas do Ceará para falar dos planos para melhorar a educação no país. Antes radicalmente contrário ao armamento da população, disse que flexibilizou sua opinião ouvindo as ponderações da vice, a produtora rural Kátia Abreu. Agora admite que quem mora "em um fundo de campo" tenha uma arma para se defender, mas mantém a posição de que, na cidade, segurança é responsabilidade do governo.
Qual é a reforma mais importante e como pretende conduzi-la se for eleito?
O Brasil precisa construir um caminho para recuperar a capacidade de se desenvolver. E essa capacidade não vai se resolver, assim, a um golpe de faca Tramontina, com uma frase, um golpe de efeito, como, infelizmente, alguns adversários pouco treinados têm dito. Mas quatro motores são óbvios. O primeiro motor, só em ordem de apresentação, é restaurar a capacidade de consumo das famílias. Isso é responsável por 30% a 40% do crescimento do PIB brasileiro nas últimas vezes que crescemos. Por isso, uma proposta que fiz é de ajudar as famílias a limparem seu nome do SPC, um refinanciamento, que é perfeitamente praticável. O segundo é restaurar a capacidade de investimento empresarial, que também está estrangulado. A dívida, hoje, do setor privado brasileiro é de R$ 2 trilhões, nessa loucura de taxa de juros que temos praticado, com R$ 400 bilhões a R$ 600 bilhões já caminhando para crédito de recuperação duvidosa. Como permitimos, irresponsavelmente, que nos últimos 15 anos fossem concentradas 85% das operações financeiras em apenas cinco bancos, o governo vai ter de entrar nisso para agravar a competição.
A situação mais dramática, e quero ter a oportunidade de conversar sobre isso, é de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais
E os demais dois pontos?
A terceira é interromper, de forma urgente, o processo mais brutal da história do capitalismo mundial de destruição de indústrias. O Brasil fechou 13 mil indústrias nos últimos três anos, do desmantelo do governo Dilma para cá. E isso vai ter que ser invertido com as questões centrais, preço central, câmbio e juros, mas tem a ver também com conjunto de potencialidades globais que o Brasil está sendo gravemente estressado e não temos política econômica, nem política industrial e nem de comércio exterior. O quarto motor responde mais objetivamente à pergunta. É consertar a capacidade de investimento perdida pelo Estado nacional brasileiro. A União federal, com o menor volume de investimento da história, está investindo neste ano ao redor de meros e ridículos 1% do PIB. E 17 dos 27 Estados brasileiros estão colapsados, já com seus gastos correntes superiores às suas receitas correntes. A situação mais dramática, e quero ter a oportunidade de conversar sobre isso, é de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, pelos quais vou começar toda uma reestruturação disso.
O senhor irá revogar algum ponto da reforma trabalhista?
Nenhum país do mundo civilizado, e me dou a estudar isso, prospera economicamente introduzindo no mundo do trabalho insegurança jurídica e insegurança econômica. Essa reforma que Temer conseguiu impor ao país não passa de selvageria. Evidente que pode ter ali alguns aspectos que são relevantes e a gente precisa repor em discussão sem o medo de avançar na modernização da legislação, porque a vida está mudando. A internet introduziu variáveis importantes. O trabalho em casa. Uma série de novidades surgindo na tecnologia, com a digitalização, que merecem que a gente não tenha medo de pôr em debate uma reforma. Mas essa que foi passada está produzindo efeitos absolutamente trágicos no Brasil. Os últimos estudos desses nove meses que a reforma entrou em vigor, já destruímos mais de 1 milhão de empregos com carteira assinada trocando essa relação por uma espécie de informalidade regulada que é o trabalho intermitente. Fui o ministro da Fazenda que lutou contra os sindicatos para tirar da cabeça deles a indexação dos salários, mas ofereci aquilo que é moderno no mundo, que é a participação dos trabalhadores nos lucros e nos resultados das empresas. Vou propor, sim, revogação dessa proposta que está aí e substituí-la por uma nova, que será construída com uma diretriz que quero dar de proteção do mundo do trabalho, sem preconceitos, mas ouvindo os trabalhadores, os empresários, as universidades, que estão banidas do debate brasileiro, a legislação internacional comparada.
Imposto sindical?
Isso é uma excrescência. Nenhum sindicato, razoavelmente maduro, pede isso de volta. Sabem que comigo também não vão ter. Mas veja, estão me dando ideias interessantes. Umas delas já estou aperfeiçoando no debate. O que eles querem? Que a gente aceite que a lei diga que, posta em convenção coletiva, a cláusula de financiamento dos sindicatos passe a valer, preservando a honestidade sindical, para toda a categoria. Isso é bem razoável. Porque serão os próprios trabalhadores, em convenção coletiva, que vão ajuizar se querem ou não contribuir para os seus sindicatos.
O senhor vem de um Estado que, apesar de apresentar os melhores resultados em educação em comparação com outros, ainda está distante daquilo que seria um nível ideal. Eleito presidente, que medidas adotaria para levantar essa régua?
É importante a gente saber que o Ceará é um dos Estados mais pobres do Brasil. E lá temos 77 das cem melhores escolas fundamentais do país, pela avaliação do Ministério da Educação. Estamos muito longe de dar ao povo o que ele merece, mas falo isso para que a sociedade brasileira, descrente como anda, e não lhe faltam razões para isso, fique sabendo que é possível mudar. E o que temos de fazer? São basicamente dois movimentos. O primeiro movimento tem a ver com a mudança no próprio conceito do que é educação em pleno século 21. Hoje, em tempos de Google e internet, essa decoreba de obrigar o garoto e a garota sair de casa, tomar banho, pentear o cabelo, entrar no ônibus, correr todo tipo de risco de violência para chegar à escola e o professor se esforçando para escrever na lousa que o Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil em 22 de abril, isso é lixo puro. Em casa, ele entra no Google, pode fazer a navegação com Pedro Alvares Cabral, virtualmente, numa caravela, visualizar a praia de Porto Seguro, por onde as coisas começaram no Brasil. Isso é uma radical transformação que precisamos buscar para a escola brasileira, de maneira a reter de forma atraente as crianças. Precisamos sair da decoreba para uma escola que ensine a pensar, a criticar. Essa é a primeira grande tarefa que passa por retreinamento, requalificação e reestimulação do magistério, que no Rio Grande do Sul até recebendo salário atrasado está.
Como evitar a cooptação pela criminalidade?
Você tem no Brasil, hoje, ao redor de 3 milhões de crianças que nascem por ano e isso estabelece uma população crítica, porque a hora de formação das aptidões cerebrais é entre o zero e os três anos. E não temos creches em tempo integral. Um dos compromissos do meu plano de governo, que já foi experimentado com muito êxito no Ceará, é resolver essa questão de creche em tempo integral. E na outra ponta, a partir do Fundamental 2, que é onde a criança começa a sofrer as tentações dos perigos da rua. De 11 a 19 anos é quando a evasão está tirando a criança da escola e fazendo uma presa fácil das tentações do consumismo. A vontade de ter um tênis, ter um smartphone e a sua família não tem renda para isso. O narcotraficante está ali como um gavião circulando para, na primeira oportunidade, capturar mais um filho dos brasileiros para essa crônica de genocídio que matou 63.880 pessoas nos últimos 12 anos apurados. Ensino em tempo integral, profissionalizante, com estágio remunerado pelo governo nas empresas privadas para que o jovem tenha a capacidade de resolver a contradição de não ter emprego porque não tem experiência e não tem experiência porque não tem emprego.
Dinheiro tem?
Dinheiro tem. No caso do Ceará, uma de cada três escolas já é assim e somos um dos Estados mais pobres do Brasil. Em qualquer circunstância, é preciso lembrar ao povo brasileiro duas coisas. Primeiro, que essa gente que nos governa sem autorização impôs, com o Congresso majoritariamente corrupto, uma emenda à Constituição chamada emenda 95, que congela os investimentos em saúde, educação, segurança, moradia e infraestrutura por 20 anos. Ciência, tecnologia, cultura, tudo está congelado. Precisamos já na campanha acumular, de todos os candidatos, o compromisso de revogar essa aberração que não existe em nenhum lugar no mundo.
Como o senhor vai controlar os gastos?
Quero propor aqui para responder à questão do dinheiro, um movimento. Vou dar uma olhada com lupa em 100% das despesas. Tudo o que não for prioridade ou absolutamente consentâneo com o momento de grave sacrifício que está se impondo ao povo brasileiro será poupado, cortado e transferido para investimento.
Como vai construir governabilidade em um Congresso que tende a ser majoritariamente corrupto, de acordo com as suas próprias palavras?
Confio muito na população e sou um subversivo. Este aqui é o Estado mais politizado do Brasil. Se o Rio Grande do Sul renovar os mesmos vagabundos, do que nós vamos nos queixar? A democracia não é um regime de concessão não, é um regime de conquista. Sai do teu sofrimento e transforma o teu voto numa mudança. Vê quem é o cara e com quem ele anda. Vê se ele votou a favor das tuas questões ou se votou contra. Vê se é corrupto. Está todo mundo chamando todo mundo de ladrão e eu não sou. Tenho 38 anos de vida pública e nunca respondi sobre nenhum malfeito e não vou aceitar ser levado para essa vala comum dessa vagabundagem que apodreceu a vida brasileira. Entretanto, sejamos realistas. Estou preparado, com a minha experiência, para tentar atenuar essa óbvia potencialidade de impasse que tem ferrado a vida brasileira com três atenuantes e um fusível. Primeiro atenuante, propor antes. Criar um sistema tributário que vai cobrar (imposto de) heranças de R$ 2 milhões para cima. Segundo, propor nos seis primeiros meses. Todos os presidentes eleitos se elegeram com minoria no Congresso. E todos tiveram poderes imperiais nos seis primeiros meses. Terceiro, tocar o pacto fiscal novo, consertando a conta pública com um redesenho do pacto federativo. O fusível é assim: persistiu o impasse, chama o povo para votar. Plebiscitos e referendos. Em pleno século 21 vamos ficar com uma democracia do século 19, com meia dúzia de pessoas subornáveis decidindo o destino de vida e morte de uma nação de 208 milhões de pessoas?
Não enfraquece o legislativo?
Não. Estou propondo uma dinâmica a negociar. Propor antes. Propor na primeira hora. Propor um pacto federativo redesenhado, porque o centro da política não é Brasília, são os Estados e municípios. E isso é uma velha vivência minha. Sou parlamentarista, inclusive. Só que o povo não quer o parlamentarismo e eu estou tentando resolver o impasse. Quem autoriza plebiscito é o Congresso. Só que saio de uma síndrome de três quintos, em que uma minoria ativa e organizada, comprometida com o privilégio e a corrupção, veta as reformas, e trago para o povo. O que é privilégio na Previdência? Dois por cento dos beneficiados levam um quarto de todo o benefício. Quem são? Juízes, procuradores e políticos. Vocês acham que esses privilégios vão acabar dentro de gabinetes em Brasília? Zero chance. Nem aqui nem na Suécia, diga-se a verdade. Tem de colocar o povo na jogada. Por que nos Estados Unidos se faz plebiscito todo ano? Por que na Europa todo mundo faz plebiscito todo ano? Aqui não se faz porque a elite brasileira gosta de corromper. Denuncia a corrupção, mas adora o suborno, o conchavo de gabinete.
Em Brasília, há a seguinte máxima: partidos como MDB, PP e PR estarão no governo em 2019, independentemente de quem seja o vencedor. Esses partidos estarão no seu governo, indicando cargos, ocupando ministérios? E se não estiverem, como pretende negociar com o Congresso?
O MDB será perseguido por mim até a sua destruição. Destruição pelos caminhos democráticos. Muitos outros merecem também, mas essa é a pior quadrilha que tem mais feito mal ao Brasil e vou fazer exemplaridade com eles. Com os outros todos que o povo eleger. Estamos numa eleição. Olha aí, meu irmão, dê valor ao seu voto. Quem você eleger, é com esse que vou negociar. Não quero ser madre superiora do convento. Quero entregar uma saúde que funciona, uma educação que preste, uma segurança que tenha bases para fazer o enfrentamento. Isso me obriga a negociar com o Congresso que o povo eleger. A linguagem, entretanto, dessa negociação será diferente. Não vou fazer o que o PT fez, que o Fernando Henrique fez, que é lotear o governo com bandido e ficar o presidente de testa de ferro da ladroeira. Olha o que deu. O PSDB nunca mais ganhou eleição nacional e o maior líder popular do país está preso. Está na cadeia. Quero outro rumo para o Brasil.
O que seria possível fazer para que os Estados em crise saiam dessa situação?
O Rio Grande do Sul vem sendo quebrado cronicamente há algum tempo. Tenho conversado muito com Jairo Jorge, que é o nosso candidato a governador, porque quero para mim esse lugar na história. Sei que aí no fundão do Rio Grande está todo mundo apaixonado por essa conversa mole de arma, de reacionarismo e a Ana Amélia aceita ser vice dos algozes do Rio Grande, que são os tucanos paulistas. Sei disso. Nunca andei na política bajulando eleitor. Quero ser sério e quero para mim o lugar do homem que emancipou e deu ao Rio Grande do Sul de volta o seu protagonismo. Por isso estou dedicado a estudar, especificamente, o problema. Primeiro, o acordo da dívida. Tem que ser refeito o que a gente diz, no jargão econômico, o swap. É preciso fazer uma reestruturação dessa dívida. Depois, você tem um grande calote que a União impôs ao Rio Grande do Sul com a ilusão da Lei Kandir. Tem de resolver esse calote. E o terceiro problema, que é mais grave, estrutural, é que o primeiro Estado brasileiro em que a conta dos inativos, a conta da Previdência, já é maior do que a conta da atividade é o Rio Grande do Sul, pois é um Estado com tradição de serviço público. O Rio Grande do Sul sozinho não tem capacidade de resolver nenhum desses problemas. É preciso interação com o governo federal. E quero, volto a dizer, para mim essa honra, esse galardão, de ter libertado o povo do Rio Grande do Sul.
Estão tomando a Embraer, a Petrobras. Estão querendo tomar as hidrelétricas do Brasil com a Eletrobras. Isso é muito concreto
Os caminhoneiros pararam o Brasil reclamando do preço do diesel e exigindo o tabelamento do frete. Se eleito, quais suas políticas para essas duas questões?
Esse negócio de tabelamento de frete parece a mim cheiro de naftalina. Uma coisa muito mofada e muito antiga. O melhor argumento que ouvi de um companheiro caminhoneiro é de que isso seria mais ou menos a bandeirada do táxi. Só que não há a menor chance de isso ser fiscalizado. E o Brasil não pode subsidiar. Acabaram de aumentar em 13% o diesel nas refinarias, violentando toda conversa que tiveram com os caminhoneiros, porque esse é o governo da mistificação, da mentira, da ladroagem. Como você resolve esse problema? Primeiro. O preço do óleo diesel no Brasil está sendo superfaturado pelo governo do Michel Temer. Por que o custo do óleo diesel no Brasil não é mais aquilo que era razoável. Ao invés de cobrar o custo, que é a razão de existir da Petrobras, que o grande brasileiro Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, criou. Por que no mundo do petróleo não tem inocentes. Ou são estatais, 80%, ou 20% do oligopólio de sete companhias que vivem a desestabilizar nações. Estão tomando a Embraer, a Petrobras. Estão querendo tomar as hidrelétricas do Brasil com a Eletrobras. Isso é muito concreto. Se você traz a Petrobras para a razão institucional dela existir, ela deve cobrar do Brasil o que ela custar mais o lucro.
Isso incluiria voltar a fabricar as plataformas em Rio Grande em vez de encomendar na China, mesmo que seja mais caro?
Vamos raciocinar juntos. É mais caro aqui do que na China por quê? Por que perdemos escala. E a China, que não tinha nenhuma indústria naval há 10, 15 anos atrás, virou uma plataforma global. Quem está certo? Eles ou nós? Isso é uma obviedade. As primeiras plataformas, os primeiros navios vão sair mais caros. Por que você está começando e os custos fixos são maiores. Mas quando você produzir o oitavo, o 10º ou o 15º navio ele vai custar muito mais barato do que lá fora, porque há outras vantagens estratégicas, especialmente a compra governamental. Em que você elimina um elemento de distorção do mercado que é a concorrência imponderável pela garantia no tempo de que há uma imensa encomenda governamental certa, em que o dinheiro está ouvindo a conversa para você poder, por exemplo, lastrear isso no recebível e se financiar mais barato. Isso é uma obviedade. Ninguém vai imaginar que vamos pagar o modo de vida moderno, que o brasileiro deseja e tem direito de ter celular, computador, química fina, meio de diagnóstico médico sofisticado, com soja, milho, minério de ferro bruto, petróleo bruto. Essa conta não fecha. Ou a gente agrega valor, industrializa as coisas que pudermos industrializar no Brasil, ou esse país irá viver assim.
As pesquisas de intenção de voto, a pouco mais de um mês das eleições, mostram que o senhor não disparou. E a campanha de rádio e TV está começando agora. O que mais o senhor vai trazer para a campanha, para tentar mostrar para o brasileiro que tem condições de governar o Brasil?
Volto a dizer que acredito muito na inteligência do povo brasileiro. Até tinha abandonado a política. Minha última eleição foi em 2006. Fui o deputado federal mais votado do Brasil. Tinha ido para a vida privada. Ajudei a preparar uma nova geração para assumir as responsabilidades no Ceará. Estou muito feliz. Quando veio o destroço do impeachment. O desastre do governo Dilma desfinanciou a sua popularidade, e aí os golpistas foram para cima e tomaram o poder no Brasil. Saí do trabalho no qual estava, alto executivo em São Paulo. E me considero moralmente obrigado a fazer essa luta. E agora estou entusiasmado, uma pessoa que não pertence às estruturas, não sou empresário, nunca fui bem-querido do tal plutocrata, do mercado. Em 38 anos de vida pública, nunca respondi por nenhum malfeito. Frequento aí a faixa de 12%. Isso significa 20 milhões de brasileiros acreditando na minha mensagem. Daí para fazer 30 milhões e ir para o segundo turno é um pulo. É só cada um dos que estão me ouvindo e acreditam na minha mensagem conseguir mais um voto.
Qual sua posição em relação ao estatuto do desarmamento? Quais políticas são prioritárias para garantir mais segurança?
O deputado Jair Bolsonaro, há 28 anos deputado federal do Rio de Janeiro, onde o governador está preso, o presidente da Assembleia está preso, a metade do Tribunal de Contas está presa, o Eduardo Cunha está preso, que ele chamava de herói, um capitão do Exército, treinado numa das melhores academias militares do mundo, a Academia de Agulhas Negras, reformou-se e comprou uma pistola Glock, que custa de R$ 8 mil a R$ 10 mil. Esse papo furado de armar... Só vai comprar arma cara quem está no narcotráfico. O trabalhador, a classe média, está pagando um dobrado para viver, pagar conta, imagina se vai ter a ilusão de comprar uma pistola Glock. Pois bem, Jair Bolsonaro, com uma pistola Glock no coldre, estava andando no Rio de motocicleta e pegou dois assaltantes, que apontaram uma arma na cabeça dele e outra nas costas. Não vou dizer que o Bolsonaro fez algo errado. Ele fez o que tinha de fazer, graças a Deus está vivo e a gente pode estabelecer as diferenças e debater. Prezo pela vida humana, a dele inclusive, e especialmente, claro. Pois bem, o que ele faz com a pistola dele? Entrega docemente para o bandido. E aí mais uma pistola com alta letalidade, com alta capacidade de causar morte, ficou circulando nas ruas do Rio. Pense comigo: se o capitão do Exército, treinado na melhor academia do mundo, que sabe atirar de canhão, metralhadora, espingarda, estilingue e estava com uma pistola, entregou para o bandido, porque a gente vai acreditar, pelo amor de Deus, que o fazendeiro perdido numa estância lá na região das Missões... Todos os especialistas recomendam que não reaja, que tente abreviar ao máximo esse tempo de exposição da sua vida e da sua família. Quem tem que garantir paz é o governo.
Vale para o campo também?
No campo, a minha vice, Kátia Abreu, uma pessoa muito vivida no agronegócio, me sensibilizou. Acho que a gente deveria considerar o porte de arma no campo um pouco menos drasticamente do que a questão nas cidades. Porque as fazendas estão longe uma das outras, não tem a ostensividade da polícia. São uma série de questões. Não sou dessa esquerdinha boboca que não está preocupada em enfrentar a bandidagem. O que a gente tem de fazer no Brasil? Primeiro, o narcotráfico e seus milhões de dólares. Segundo, a lavagem de dinheiro. Terceiro, como apostamos em uma política equivocada de prender garoto, estamos com 760 mil garotos presos. Traficantizinhos. Não são inocentes, não. Mas a nossa política é prender. No outro dia eles entram, são estuprados ou vão morrer ou se filiam a uma facção criminosa. A partir de São Paulo, onde as autoridades fizeram acordo com o PCC, ele comanda de dentro da cadeia o crime e a disputa por distribuição de droga no Rio Grande do Sul e em Fortaleza. Esses fenômenos não serão possíveis de serem enfrentados pelas polícias locais.