Candidato à Presidência pelo Novo, um partido que rejeita o financiamento público de campanhas e cobra no mínimo R$ 29 mensais de seus filiados, João Amoêdo, 55 anos, diz pagar as próprias despesas de viagem e compara esse investimento à doação para uma instituição de caridade, em que não se espera nada em troca:
— Estou fazendo isso para melhorar o Brasil. Em vez de montar ONG, instituição de caridade, nosso raciocínio é: temos de ir para o Estado, porque é lá que estão os recursos. É no Estado que a gente consegue atender ao maior número de pessoas. A gente precisa mudar essa gestão pública. Esse é o desejo do Novo: colocar gente competente, atuar nas áreas essenciais para melhorar a vida do cidadão.
Quinto entrevistado da série Sabatina GaúchaZH, Amoêdo foi questionado pelos jornalistas Daniel Scola, Rosane de Oliveira e Carolina Bahia na quarta-feira passada, antes de seguir para um roteiro por Santa Cruz do Sul e Santa Maria.
Liberal convicto na economia, prega a redução do tamanho do Estado e a liberdade do cidadão para escolher, por exemplo, onde aplicar o dinheiro do Fundo de Garantia, que hoje é gerido pelo governo e rende menos do que a poupança. Favorável à liberação das armas, o candidato se declara contra o aborto, exceto nos casos previstos em lei, e discorda do projeto "escola sem partido", defendido por boa parte dos companheiros de legenda.
Em algumas pesquisas, o senhor aparece com 1%. E em outras, não chega a pontuar. Como fazer para deslanchar sua candidatura?
Tenho visto alguns números de forma muito positiva, porque nas pesquisas espontâneas, onde você de fato mensura a real intenção do eleitor, tenho aparecido com 1% junto a outros candidatos bastante conhecidos. Tenho o menor nível de rejeição, o que era esperado, e o maior nível de desconhecimento. Como é que a gente está trabalhando? Usando muito as mídias sociais, fazendo eventos e, principalmente, mostrando que o Novo tem proposta diferente, de renovação frente à velha política. Acho que é isso que o brasileiro está querendo hoje: gente nova, novas lideranças e mudança desse cenário político.
Tenho acompanhado os últimos noticiários, que têm mostrado os tradicionais políticos tentando fazer novas coligações e acordos com partidos totalmente desalinhados, mostrando que o principal objetivo de quem está aí é permanecer no poder sem nenhuma grande coerência em relação a princípios, valores e propostas de governo. Tudo isso levará a um processo de aglutinação de algumas candidaturas, abrindo espaço para termos crescimento. Nosso maior desafio é exatamente esse, tornar o Novo conhecido. O nível de aceitação de nossas ideias é muito elevado. O objetivo principal é divulgar todo o projeto.
Não pretendo acabar com o SUS, nem acabar com sistema público de educação, mas a gente gostaria de testar outros mecanismos.
Sem recursos públicos para propaganda e coligações, o senhor terá pouco tempo na TV e dinheiro escasso. Como irá financiar a campanha?
Dos 35 partidos existentes no Brasil hoje, o Novo é o único que não usa o fundo partidário para a manutenção. Também não usaremos o fundo eleitoral. Não faz sentido em uma economia que está com tantos problemas — onde falta dinheiro na saúde e na educação —, a gente tirar dinheiro do bolso das pessoas para financiar campanha política. Temos realizado campanhas baratas, como em 2016. Entendo que temos bom produto: todos os candidatos do Novo passam por um processo seletivo, algo inédito na política. A gente valida se eles têm competência, condição de assumir de fato, seja no Legislativo seja no Executivo, e se estão alinhados com os princípios e valores do partido. Tudo isso faz com que haja melhor representatividade dos candidatos, permitindo campanhas mais baratas. E também tem a demanda da população por novidade. Eu teria sete a oito segundos de tempo de televisão, mas vamos usar muito as mídias sociais, vamos usar esse desejo de renovação. As pesquisas têm mostrado que pelo menos 80% da população quer renovação na política. É obvio que a classe política está fazendo de tudo para se perpetuar no poder. Isso começou no ano passado com a aprovação do fundo eleitoral, com todas as coligações. Tudo isso para manter o mesmo modelo que está aí.
Não vai conseguir dizer nem "meu nome é Amoêdo".
Pretendo dizer em sete segundos que, se depender do Novo, será a última vez que haverá propaganda eleitoral gratuita na televisão. Ela não é gratuita, custa quase R$ 1 bilhão, que sai do nosso bolso, e isso deveria ser bancado por cada um que apoia o partido. O modelo todo foi feito assim, e a própria divisão do fundo eleitoral irá privilegiar os quatro partidos com a maior parte dos recursos, que foram exatamente aqueles mais envolvidos nos esquemas da Lava-Jato e sob investigação. É interessante como o sistema vai contra o cidadão brasileiro, é isso que queremos mudar. Foi por isso que montamos o Novo em 2010. Um grupo da sociedade civil que disse: "Pagamos muitos impostos e essas pessoas não nos representam". Não imaginávamos que a política estivesse tão ruim, o que ficou explícito com a questão da Lava-Jato. Vamos contar muito com esse desejo da renovação, de ser autêntico, sincero, fazer campanhas baratas, usar as mídias sociais, o boca a boca. Ano passado, fizemos 900 eventos do Novo pelo Brasil. Neste, vamos fazer muito mais. Isso vai depender muito da população participar de forma ativa, mais consciente. Estamos no caminho. A população quer mudança. Ela aprendeu que, na política, você não participar tem custo muito elevado.
Mas, quem está pagando a conta da sua campanha?
Quem paga sou eu, com meu próprio dinheiro. Tiro do bolso, como fiz quando montamos o partido. Quando você faz doação para uma instituição de caridade, não espera nada em troca. Estou fazendo isso para melhorar o Brasil. Em vez de montar uma ONG, instituição de caridade, nosso raciocínio é: temos de ir para o Estado, porque é lá que estão os recursos. É no Estado que a gente consegue atender ao maior número de pessoas. A gente precisa mudar essa gestão pública. Esse é o desejo do Novo: colocar gente competente, atuar nas áreas essenciais para melhorar a vida do cidadão.
O senhor disse ser favorável à concessão de vale-educação ou vale-saúde. Se eleito, pretende acabar com o SUS?
Não pretendo acabar com o SUS, nem acabar com sistema público de educação, mas a gente gostaria de testar outros mecanismos. No ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o Brasil está oscilando entre o 58º e 66º, em ranking de 70 países. Na matemática, o Brasil é o pior da América Latina em escolas públicas. Quando a gente vai para escolas privadas, estamos mais ou menos no meio, em 35º. Fica claro que a qualidade no ensino privado é melhor. A nossa inspiração é muito no Bolsa Família, na qual as pessoas recebem dinheiro e usam para comprar seus alimentos ou o que estão precisando na rede privada. O governo não foi montar uma rede pública para atender alimentação. Se isso funcionou bem, será que não valeria a pena testar, por exemplo, também na educação? Dar um vale para as pessoas poderem colocar o filho na escola privada? Porque hoje, infelizmente, o Estado contribui para aumento das desigualdades. A criança pobre vai para uma escola pior. Quem tem condições vai para uma melhor e, consequentemente, as largadas são muito diferentes. Sabemos que isso não vai resolver todo o problema. Precisamos melhorar a gestão pública na saúde e na educação básica, principalmente.
O senhor se posiciona por um Estado mais eficiente. Se eleito, qual seria a primeira estatal que privatizaria?
Temos de começar pelo que já está em andamento, que seria a Eletrobras. Os bancos também, como Caixa e Banco do Brasil. Petrobras e Correios também. Mas, o importante nesse processo é fazermos de modo que o consumidor, o cidadão brasileiro, tenha mais concorrência no dia seguinte. Não faz o menor sentido vendermos o Banco do Brasil e a Caixa para os grandes bancos que já estão no Brasil. O mercado financeiro já é extremamente concentrado, e ao fazer isso a gente estaria concentrando ainda mais o sistema. Queremos o contrário: aumentar a concorrência. E o mesmo com a Petrobras. Ela deve ter a gestão privada, mas temos de acabar com o monopólio do refino, pois tem de ter concorrência. As estatais, na verdade, viraram cabide de emprego.
Para o governo, não seria importante ter um banco como a Caixa, de crédito para habitação e financiamento?
Entendo que não. O que funciona para modular o mercado é a própria concorrência. Nas economias mais desenvolvidas, não há banco público para regular o mercado, e sim uma série de instituições financeiras. Por exemplo: o setor de alimentação, do agronegócio, que é um dos melhores segmentos do Brasil, é super competitivo, e a gente não tem uma empresa pública de alimentos. Durante muito tempo, foi vendida a imagem de que estatais são estratégicas. Aprendi, agora, que são estratégicas única e exclusivamente para os políticos. Tudo que a gente precisa para melhorar a vida do consumidor é concorrência. E o Estado, através de suas regras, distorce o mercado todo.
O governo investe nas universidades públicas, mas quem entra no Ensino Superior, de modo geral, é exatamente quem recebeu educação de qualidade na escola privada. Estamos, como cidadãos, pagando a educação superior de quem tem dinheiro para pagar?
É mais um exemplo onde o Estado brasileiro está contribuindo para a concentração de renda. É o pobre pagando a faculdade do mais rico. Temos de direcionar os recursos para o ensino básico, especialmente na primeira infância, onde a capacidade cognitiva está sendo formada. E aí temos de investir em creche, em educação. Dois aspectos são fundamentais para isso: melhorar a qualificação do professor e tornar a carreira mais atrativa. Trazer mais talentos para a educação e melhorar o currículo da pedagogia.
Como seria a virada de chave?
Mudar o balanceamento do orçamento para destinar mais recursos para o Ensino Básico. Há uma proposta do Banco Mundial que me agrada, e acho que deveríamos aprofundar o estudo, que é cobrar o Ensino Superior daqueles que podem pagar. O que acontece, na prática, é que a pessoa faz todo ensino Básico e Fundamental no privado, e, aí, passa para o Superior, que é público e gratuito. E a gente está pagando e, com isso, está deixando de dar suporte para aquela criança que não consegue ter a creche, que não consegue entrar na escola. Uma das propostas que a gente gostaria de estudar é cobrar a faculdade. Ela continua pública, mas seria paga por aqueles que podem pagar.
Já ouvimos o senhor elogiar o programa Bolsa Família, mas com a ressalva de que é preciso ter porta de saída. Como se dá isso?
O governo tem feito muitos programas como o Bolsa Família, a progressão continuada, que é aposentadoria para quem nunca fez contribuição, a aposentadoria rural, o próprio abono salarial, e é importante a gente reparar que, em vários desses programas, quem acaba recebendo os maiores benefícios não são os mais pobres. Entendemos que deve haver revisão desses programas, eventualmente uma consolidação para que o recurso esteja indo para o mais pobre. Gostamos do Bolsa Família, e entendemos que a porta de saída tem de ser pela educação. Gostaríamos de criar um sistema gradual. Muita gente fica na economia informal porque não quer abrir mão do benefício. Tem de ter porta de saída para quem está trabalhando. Temos de ter investimento maior para que as pessoas tenham cidadania plena, para que não precisem mais do Bolsa.
Existe grande distorção entre o aposentado da área pública e o da área privada (...) Tem que ter o mesmo regime.
Sobre a aposentadoria rural, é razoável que a pessoa fique no desamparo no final da sua vida?
Sou a favor da aposentadoria rural. Dados mostram que 77% do valor pago são para pessoas que têm renda bastante razoável. Apenas 2% dela é para os 20% mais pobres da população. No Bolsa Família, 50% do benefício vai para os 20% mais pobres. No Brasil, às vezes, criamos programas sociais, mas tem de ter cuidado de ver se de fato estão indo para as camadas mais pobres, porque a conta é sempre paga pelos mais pobres através do endividamento, da inflação, da carga tributária. Precisamos ter aposentadoria rural, mas precisamos nos certificar de que quem está de fato recebendo o benefício são os que precisam.
Qual a reforma previdenciária que o Brasil precisa de fato?
Existe grande distorção entre o aposentado da área pública e o da área privada. O da privada deixa hoje déficit de cerca de R$ 5 mil, e o da pública, de R$ 78 mil. Ou seja, 16 vezes mais. A primeira coisa que precisa ser feita: tem de ter o mesmo regime.
Esse regime já mudou, mas essas pessoas que já estão no sistema.
Existe a proposta de fazer cobrança adicional para você poder equilibrar isso. Este seria um primeiro caminho. O segundo passa por idade mínima maior. As pessoas estão vivendo mais, têm mais jovens entrando, e a conta está desequilibrada. 65 anos para homens e mulheres e um processo contínuo de validação e atualização dessa idade caminhando com a longevidade das pessoas. O terceiro ponto é desvincular o reajuste da aposentadoria do salário mínimo. O reajuste deveria ser feito pela inflação, não tem por que fazer pelo salário mínimo. Obviamente, o ideal seria depois a gente poder ter um sistema de capitalização, mas a transição do sistema atual para o de capitalização é muito complexa. Minha sugestão é de que fizéssemos isso de forma muito rápida, até porque o rombo do ano passado foi de R$ 269 bilhões. E deixar a quarta regra, de reajuste automático. Por último, tempo mínimo de contribuição.
Virou moda entre os candidatos de centro-direita afirmar que são liberais na economia e tradicionais nos costumes. O senhor, que parece liberal de raiz, acha normal esse tipo de frase?
Nunca tive essa preocupação de me denominar liberal. Quando começamos o Novo, nosso principal objetivo era dizer que precisamos melhorar a gestão pública, ser mais eficientes. Estudando casos ao redor do mundo e entendemos que os países que têm maior liberalismo econômico têm melhor qualidade de vida. Por isso, a gente adotou a bandeira liberal. Na questão dos costumes, defendo que cada um tenha a liberdade de definir o que acha melhor para si.
Vou propor um pinga-fogo para o senhor. Descriminalização da maconha.
Sou contra, no momento, a qualquer descriminalização das drogas. Há muitas variáveis no processo, temos de acompanhar o que está sendo feito fora do Brasil. O combate às drogas no país não está funcionando, a gente deveria atuar mais na prevenção, na educação, mas aguardaria um pouco mais as experiências no Exterior para trazer um modelo já mais testado para cá em um segundo momento.
Porte de armas.
Sou favorável. O Novo, como um todo, é contra o Estatuto do Desarmamento. Entendemos que isso foi objeto do referendo lá atrás, mas não é isso que vai resolver o nosso problema de segurança, isso é responsabilidade do Estado. Mas, dentro das liberdades, com responsabilidade, julgamos que as pessoas têm de ter o direito à legítima defesa, a ter o porte de armas. Tem de ter teste mínimo, passar por algum filtro, mas devem ter a liberdade para isso.
Vou enfrentar privilégios dos políticos, como fundo partidário, mordomias, morar em palácios.
Não lhe preocupa o fato de as pessoas, em um país com nível de educação como o Brasil, andarem armadas? Uma briga de trânsito pode se transformar em tragédia.
Sou favorável e acho que temos de sair da armadilha que caímos, de não dar maturidade ou responsabilidade para o cidadão brasileiro. Por exemplo: o fundo de garantia fica com o governo, rendendo menos do que a inflação, porque se der para o cidadão, ele vai sair gastando. Acho que está na hora de a gente apostar na maturidade e na responsabilidade do cidadão brasileiro, e não nos políticos. Ao longo do tempo, o que aconteceu é que fomos perdendo nossa liberdade e, aí, transferimos a responsabilidade para o Estado. Temos de fazer o contrário: assumir a liberdade e a responsabilidade. Outro exemplo é o voto. Sou favorável que seja facultativo. Cabe às pessoas decidirem. A gente não deveria abrir mão do direito de votar, e cabe às pessoas arcar com os resultados das suas decisões.
Escola sem partido.
Gosto da ideia de não termos ideologias na escola, mas não gosto da ideia de criar um instrumento, um mecanismo, que vai formalmente usar o aparelhamento do Estado para fazer qualquer tipo de coerção ou regra para o professor. Não gosto desta sistemática. O fato de a gente combater ideologia e doutrinação dentro da escola, sou favorável. Mas isso não deve ser feito por meio do Estado.
E o aborto?
Sou contra, a não ser nos caso previstos em lei, mas acho que isso deve ser decisão do Congresso. E eu, como presidente, vou referendar o que vier do Congresso, sem deixar que minha opinião pese sobre isso. Mas sou cristão e sou contra, porque entendo que há necessidade de proteção da criança.
Como lidaria com a situação em que milhares de mulheres morrem todos os anos fazendo abortos clandestinos?
Os postos de saúde dão preservativos e anticoncepcionais de graça. Precisamos melhorar a educação e deixar que as pessoas tenham liberdade e responsabilidade para diminuir esse processo. Por outro lado, quantas pessoas não existiriam no Brasil, quantas a gente teria eventualmente matado se tivesse permitido aborto em larga escala? Temos de ter dimensão do problema e transferir a responsabilidade para as pessoas.
O Queermuseu gerou repercussão mundial. Exposições de arte assim podem continuar?
Sou a favor da liberdade, entendo que as pessoas têm de ter a liberdade de expor a sua arte. Se por acaso há alguma coisa ali que fere o Estatuto da Criança, se vai contra as pessoas que estão na infância e adolescência, deveria haver, no meu entender, alguma restrição para o público.
Qual sua opinião sobre controle da natalidade?
Sou contra. Tudo que vai contra a liberdade das pessoas, sou contra. Não cabe ao Estado impor isso.
De centro para direita, o Novo fica onde no espectro ideológico?
O nosso DNA é de dar liberdade para as pessoas, de acreditar no livre mercado e entender que o Estado tem de atuar nas áreas essenciais apenas, e que as outras áreas têm de ter atuação do indivíduo, da sociedade, da iniciativa privada. Nesse critério, a gente certamente está muito mais para a direita do que para a esquerda.
O Brasil é refém das corporações. Como o senhor trataria o corporativismo?
Vou enfrentar privilégios dos políticos, como fundo partidário, mordomias, morar em palácios. Vamos enfrentar privilégios do funcionalismo público. E vamos enfrentar benefícios de grandes corporações de certa elite empresarial. Não tem como a gente mudar o Brasil e melhorar se a gente não tiver coragem de fazer esses enfrentamentos. Não é fácil, mas a mudança começa por aí. Como vamos conseguir fazer essa mudança? Única e exclusivamente com o apoio e a participação da população, porque esses grupos tendem justamente a fazer reação e a manter o sistema atual. O que a gente está vendo hoje, essa busca pelo candidato de centro, da união, no fundo, é a manutenção do status quo.
Como fazer isso em um partido que é pequeno e que vai se apresentar como diferente, novo, sem alianças?
Precisamos mudar o Congresso. O Novo irá lançar 450 candidatos pelo Brasil, cerca de 44 candidatos aqui no Rio Grande do Sul a deputado federal e estadual, e há um processo onde a gente tem de fazer essa mudança. A gente não faz sozinho. Precisará que a população endosse esse projeto. Mais importante do que dar certo, é fazer o certo. O dar certo tem de ser consequência de fazer o certo.
A reforma política que considera necessária para o Brasil teria quais pontos principais, além do voto facultativo?
Ter nova representatividade, porque o risco que temos hoje, com reforma política, é fazer exatamente processo que só vai consolidar o quadro atual. Foi o que a gente teve no ano passado. Foi uma reforma política, R$ 1,6 bilhão de dinheiro público adicional para os mesmos partidos.
O que o senhor pensa em relação a benefícios fiscais para o setor privado?
Sou totalmente contrário. Me posicionei e acho que sou o único candidato que se disse contra isso. Achei um absurdo. Tem lá, por exemplo, R$ 27 bilhões para setor de transportes, e, de novo, o que acontece no Brasil é que hoje mais ou menos 4% do PIB, um pouco mais até, é de desonerações fiscais. E não há, na grande maioria, nenhuma mensuração de quais os benefícios dessas desonerações que vão para o crescimento do Brasil, para a geração de empregos. No fundo, a gente acaba privilegiando determinados setores que nem deveriam ser privilegiados. Eles têm de ser competitivos. A gente tem de desfazer isso.
Qual é, no seu entendimento, uma nação que é modelo? Em quem o senhor se inspira?
Acho que tem bons modelos por aí. É lógico que o Brasil é muito diverso, um país continental e é até difícil você associá-lo, mas gosto do exemplo da Austrália. É uma economia que há 26 anos cresce, tem liberdade, tem boa qualidade de vida. Meu sonho no Brasil seria fazer uma pesquisa como a que foi feita, há exatamente um mês, onde se perguntou aos jovens brasileiros, e 62% deles disseram que, se pudessem, gostariam de ir embora do Brasil. Gostaria de fazer essa pesquisa daqui a um ano, e a gente tivesse 6% dos jovens dizendo que gostariam de ir embora, e os outros 94% ficando aqui. Meu sonho é a gente transformar o Brasil de um país dos privilégios para um local das oportunidades. O Brasil é rico, tem povo empreendedor, sempre foi terra de oportunidades, mas, hoje, está sendo visto com muita descrença. Isso passa necessariamente pela mudança política. A gente precisa de lideranças que cheguem lá para mudar esse processo, e tenham coragem de colocar o Brasil no trilho. Não vai ser fácil, a gente vai ter de enfrentar, mas. se não fizermos isso, o Brasil vai continuar se deteriorando. E quem sofre mais são justamente os mais pobres. Precisamos criar um Brasil de oportunidades.
Qual é o líder que lhe inspira?
No Brasil, é difícil. Olhando fora, um líder que me inspira, até por tudo que sofreu, é o Churchill (Winston, estadista britânico). Foi um vencedor, carismático, e enfrentou situação difícil. No Brasil, gosto das ideias econômicas do Roberto Campos. Certamente, era um homem que estava à frente do seu tempo, que não foi compreendido. Diria que esses são nomes, mas temos ausência de lideranças no mundo. Isso é um indicador claro do problema que temos hoje.