Dono de um patrimônio de R$ 377 milhões, conquistado com seu trabalho no mercado financeiro, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles não hesitou em sacar R$ 20 milhões para financiar sua campanha de candidato a presidente da República pelo MDB. O que leva alguém a tirar da própria conta uma quantia que a maioria dos brasileiros não ganhará durante a vida inteira para financiar uma campanha que ainda não decolou?
— Tudo o que consegui na vida foi através da educação e do trabalho duro. Tive oportunidades que outros brasileiros não tiveram. É a minha forma de retribuir — respondeu aos jornalistas Carolina Bahia, Daniel Scola, Rosane de Oliveira e Tulio Milman na Sabatina GaúchaZH.
Casado e sem filhos, completa 73 anos no dia 31 de agosto. Poderia passar o resto da vida sem trabalhar, mas decidiu disputar a eleição apostando que sua credibilidade pode fazer o país voltar a crescer.
Meirelles fala sem aparentar preocupação com os índices nas pesquisas, que o colocam ao lado de candidatos de partidos nanicos. Diz que a lógica de concorrer é a mesma que o fez aceitar o convite para ser presidente do Banco Central no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, e ministro da Fazenda de Michel Temer, em 2016: ser uma espécie de fiador da estabilidade. Não por acaso, o mote de sua campanha é “Chama o Meirelles”.
O senhor tem uma carreira exitosa na iniciativa privada e participou dos governos Lula e Temer. O que pretende fazer para disciplinar as relações entre iniciativa privada e poder público, onde residem grande parte dos recentes escândalos de corrupção?
Em primeiro lugar, a transparência é fundamental. Os ocupantes dos cargos públicos relevantes têm de ter comportamento ético, histórico de honestidade, seriedade e de realizações. Por exemplo, quando escolhi o time do Ministério da Fazenda, a imprensa chamou a equipe de time dos sonhos, porque eram todos competentes, sérios, com resultados concretos já mostrados e não tinha ninguém envolvido em denúncias. Quando fui presidente do Banco Central, durante oito anos, também não houve nenhuma denúncia ou investigação sobre ninguém, porque todos eram profissionais competentes e da mais absoluta probidade, seriedade e honestidade. Passei, portanto, 10 anos no governo e nunca houve nenhum tipo de acusação, problema ou investigação, o que significa que com o exemplo começamos e, a partir daí, temos de criar regras claras, transparentes, conhecidas por todos e que sejam seguidas rigorosamente.
Algum atual ministro, que foi seu colega no governo Temer, vai ter espaço no seu governo, se for eleito?
Passei 10 anos no governo e nunca houve nenhum tipo de acusação, problema ou investigação
Não costumo tomar decisão na véspera. Durante muito tempo, houve convites e discussões para que eu fosse assumir o Ministério da Fazenda. No momento que assumi, aí, sim, fui conversar com profissionais competentes e escolher qual era a melhor opção para cada um dos cargos. Não há dúvida de que será o ministério dos sonhos de todos os brasileiros.
Mas falo de ministros, por exemplo, como Eliseu Padilha, e até mesmo Temer. Eles teriam espaço no seu governo?
Como disse, não tomo decisões na véspera. Tomo decisões baseadas na melhor pessoa para exercer aquele cargo. No momento em que ganharmos a eleição, e formos compor a equipe de governo, vou avaliar e tomar as decisões adequadas.
Os candidatos em geral, quando em campanha, prometem mundos e fundos para os eleitores. Que tipo de promessa considera mais perigosa para a economia brasileira para efeito de desestabilizar uma conquista do país, que foi o combate à inflação e a estabilidade da moeda?
É evidente que as pessoas ficam preocupadas no momento em que candidatos propõem aumentar novamente os gastos públicos sem controle, coisas que levaram a inflação, juros altos, desemprego e recessão no passado. São situações que levam a dívida e os juros a subir e o país a entrar em uma crise de confiança que gera queda de investimento. Empresários e investidores deixam de investir para esperar o que vai acontecer e os consumidores também param de comprar coisas que vão demandar o pagamento de prestações no futuro. No momento em que começar a propaganda eleitoral, vamos ter condições de mostrar o nosso programa. Nunca disputei eleição para Presidência. Portanto, não sou conhecido e as pessoas não sabem sobre a minha história.
O senhor foi do PSDB, passou pelo PSD, teve oito anos no governo Lula, não em um cargo político, mas estava no governo, e participou da gestão Temer. Ideologicamente, quem é o senhor, no que acredita?
Acredito em fazer um trabalho técnico, sério e competente. Em resultados. Não acredito em propaganda política, nem em discussão partidária. Fui eleito por um partido que era oposição ao Lula. No momento em que ele me fez uma proposta e vi que o Brasil precisava que ajudasse, não hesitei. Aceitei, mas com um acordo de absoluta independência. A minha proposta é de quem resolve, tem competência, um passado ficha limpa, e condição de olhar o brasileiro olho no olho e dizer: vou resolver os seus problemas porque tenho um histórico e um passado que me dá credencial para dizer isso.
Estudantes e instituições de ensino têm reclamado da dificuldade de acesso ao Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). O senhor vai manter esse tipo de financiamento?
Sim. É muito importante manter e expandir o Fies. Expandir outras coisas também, como o Prouni. Inclusive, tenho uma proposta de expandir o Prouni para as creches. A educação começa nas creches, onde a criança forma a sua base de aprendizado. A partir daí, ela vai para o Ensino Fundamental, depois o Médio e, após, continua ou não. O importante é que haja qualidade, em primeiro lugar. Em segundo, temos de desemperrar essa questão entre escolas e governo, de maneira que seja um processo simples e desburocratizado. Começando por aí, depois criando mais vagas no Ensino Médio, maior qualidade e mais Ensino Técnico profissionalizante, para preparar de fato as pessoas para entrarem no mercado de trabalho.
Além do Prouni para as creches, o que pode ser feito para melhorar a educação nos Ensinos Fundamental e Médio?
Quero antes falar da minha experiência, que serve como exemplo. Minha mãe era professora. Acreditava muito na educação. Meu pai era professor. Eles sempre acreditaram que o importante era aprender e não só passar de ano. E aí temos a primeira questão da educação. Uma ideologia se estabeleceu nos últimos anos no Brasil, o estudante tem direito a passar de ano. O que aprendi e foi muito produtivo é o seguinte: o estudante não tem o direito de passar de ano. Ele tem o direito de aprender. No momento em que aprende, vai passar de ano. Então, os repasses do governo federal para as escolas municipais, por exemplo, têm que ser baseados no desempenho, não pode ser meramente no número de estudantes aprovados ou por critérios políticos. E existem testes aplicados no mundo inteiro que medem a qualidade do ensino via desempenho dos estudantes quando saem das escolas.
Não poderia ser ao contrário? A escola com pior desempenho não necessita de mais investimento?
Não. A escola com pior desempenho não necessariamente tem menos recurso. A escola pode estar administrando mal. Pode não estar cobrando desempenho. Pode estar tendo um comportamento ideológico e botar mais dinheiro não vai resolver. Se os professores se dedicam, cobram desempenho e os alunos começam a estudar, aí as escolas começam a ter recurso para aplicar bem, porque o Brasil não é um país rico, que pode jogar dinheiro fora, muito menos na educação. Temos de seguir experiências concretas, que deram certo ao redor do mundo. Já analisei isso quando morei no Exterior. A experiência da Coreia do Sul teve sucesso extraordinário. Tem a experiência da China. Da Índia, mais no Ensino Superior. Que o professor tenha de estudar também, tenha de aprender. Com remuneração adequada, sim, mas que tenha de se preocupar com o desempenho.
Faz sentido para o senhor que o Brasil seja um país em que quem tem acesso ao Ensino Superior público, de um modo geral, é o aluno que estudou nas escolas privadas e a sociedade financia esses alunos que poderiam pagar a sua faculdade, sem que eles deem contrapartida depois. O senhor mudaria esse esquema de financiamento da educação superior?
Com uma certa diminuição da qualidade do ensino público por todas as razões que já falamos, aconteceu que, nas escolas privadas que cobram mais desempenho e têm mais recursos, os estudantes têm benefícios, sim. Então, temos de fazer duas coisas. Primeiro, melhorar a qualidade do ensino público, para que esses estudantes tenham condições de ter um bom desempenho nas melhores faculdades. Segundo, temos de pensar em algo nesse sentido, algo como é o caso do Fies, no qual o estudante que tenha recurso ou tenha condições de depois fazer uma contribuição para o país, para o ensino público, pague alguma coisa. Ou durante o curso ou posteriormente.
O senhor é a favor das cotas?
Sim. O sistema de cotas é importante para assegurar maior igualdade, mas não funciona sem demanda por qualidade, por desempenho. Independentemente de qualquer situação social, de raça, de credo, o estudante tem o direito de aprender. Para isso, precisa estudar.
Tanto na Coreia do Sul quanto no Japão, a carga horária é muito superior à das nossas escolas. Proporia mudança imediata de ampliar a carga horária no Brasil?
Sim. O período integral é muito benéfico. Onde for possível é importante. O aumento da carga horária é importantíssimo por muitas razões. Primeiro, para aprender mais. Segundo, principalmente nas classes de renda mais baixas, você pode assegurar alimentação de qualidade. E terceiro, na questão de segurança, é importante para a criança estar ocupada, não só porque está aprendendo e, portanto, vai ter uma vida melhor, mas está ocupada. O jovem tem muita energia, o que é bom. Agora, se o jovem não tem o que fazer, de fato, às vezes estamos dando incentivo para que ele vá para o mau caminho.
Chamou atenção o fato de o senhor ter feito o maior aporte de que se tem notícia de recursos para sua campanha. São R$ 20 milhões do seu dinheiro. O que o leva a colocar essa quantia em uma campanha?
Na medida em que muitos brasileiros não tiveram a oportunidade que tive, de chegar lá através da educação pública e trabalhando duro, com honestidade, como cheguei à presidência de uma grande organização internacional nos Estados Unidos, ganhei nos padrões normais de presidentes de grandes organizações internacionais. Só que tomei uma decisão de deixar essa posição, de voltar e ajudar o país. E essa é a minha forma de retribuir. Em vez de estar gastando esse dinheiro e viajando pelo mundo, estou colocando de volta, um investimento em melhorar a vida dos brasileiros.
Qual é sua visão sobre o papel das Forças Armadas no combate à violência urbana?
As Forças Armadas são fundamentais na sua função primordial de defesa do país, das fronteiras. A função primordial de policiamento de rua é das polícias.
O soldado não está preparado para ser polícia. As polícias têm de ter, em primeiro lugar, treinamento. Para isso, preciso de recurso.
O Brasil precisa crescer e os Estados necessitam ter aumento de arrecadação. Segundo, equipamentos, viatura e arma, que é outro aspecto fundamental. Em terceiro, a remuneração dos policiais, de maneira que possamos formar polícias que tenham capacidade, como em qualquer país, de garantir a segurança da população e exerça essa função. Vamos criar um sistema único integrado de informações, gerenciado pelo governo federal, que vai reunir o serviço de todas as polícias e dar informações a todos de maneira que possamos ter a polícia exercendo sua função básica de policial. E as Forças Armadas exercendo sua função primordial, não tendo situação de adaptação de emergência.
O senhor pode esclarecer a sua relação com a JBS?
Nunca prestei consultoria à JBS. Essa informação é incorreta, para dizer o mínimo. Orientei a construção da plataforma digital de um banco. E foi um trabalho estritamente técnico. Nesse período, a minha função principal e que ocupava a maior parte do tempo era como presidente do Lazard Americas, uma empresa situada no Exterior. Além disso, também fiz outros trabalhos de consultoria como a KKR, que uma das maiores empresas de investimento do mundo. Fui membro do conselho do Lloyd’s of London, que é uma bolsa de seguro de reputação mundial, bicentenária.
O que o senhor vai fazer para adaptar essa onda tecnológica que vai mudar radicalmente o futuro do trabalho?
Não é a primeira vez que o mundo enfrenta um desafio como esse. Nos Estados Unidos, quando começou essa onda de tecnologia, principalmente na Califórnia, o medo era o grande desemprego que o país ia sofrer. Mas muito pelo contrário. O índice de desemprego está um dos mais baixos da história. A preocupação agora dos americanos é que o desemprego ficando baixo demais possa gerar inflação. Precisamos preparar o Brasil para isso. Primeiro, com educação de qualidade. Segundo, com investimentos para criar emprego de maior qualidade.
Como fazer isso?
Não podemos nos agarrar a técnicas antigas, coisas antigas e governos olhando para trás, tentando proteger coisas que já estão em extinção. Por exemplo, hoje alguém vai marcar uma consulta pelo SUS tem de ficar na fila de madrugada. Basta usar a tecnologia para que, com cartão digital, você possa não só fazer a marcação eletrônica da consulta, mas a consulta e, acessando o computador central, o médico pode fazer a sugestão de diagnóstico segundo as melhores técnicas e a melhor experiência. Tudo isso em benefício do cidadão e também para criar mais empregos.
Uma das alternativas que está sendo negociada para as finanças do Rio Grande do Sul é a adesão ao regime de recuperação fiscal, mas isso não será suficiente para tirar o Estado do atoleiro financeiro. O senhor vê alguma possibilidade?
Já foi feita muita coisa quando se estendeu a dívida por 20 anos e diminuiu a taxa de juros. O Rio Grande do Sul já teve uma economia inicial da dívida do saldo de R$ 5 bilhões e uma diminuição dos pagamentos anuais de cerca de R$ 2 bilhões. Depois o ajuste, o processo de recuperação fiscal. Isso está sendo aplicado com sucesso no Rio de Janeiro, que estava em uma situação muito pior que o Rio Grande do Sul e já começou a se recuperar. Isso tudo já pode gerar economia enorme para o Estado. Adiar o pagamento de todas as dívidas e ter autorização para vender, inclusive, algumas companhias estatais que o governo não precisa ter, já há um acordo nessa direção feito aqui com o governo do Rio Grande do Sul e está em andamento.
Agora, tudo isso, essa crise nos Estados, como a crise nos municípios, no governo federal, foi resultado da recessão, da crise econômica. Temos de atender a emergência e fazer o país crescer. A arrecadação aumenta e a lição tem de ser apreendida para não se contratar funcionários públicos em número excessivo, comprometer gastos de forma excessiva. A experiência pode ser produtiva, desde que se faça essa recuperação fiscal e depois a economia volte a crescer para a arrecadação crescer.
O Ibope fez pesquisa mostrando a saúde em primeiro lugar entre as preocupações dos eleitores, inclusive à frente da segurança pública. Com a emenda constitucional do teto de gastos, há contenção de despesas. Ao mesmo tempo, com o aumento do desemprego, tem mais pessoas saindo dos planos de saúde e indo para o SUS. Como vai resolver essa equação?
Teremos de ter mais disponibilidade de recursos para a saúde. Para isso, teremos de fazer aquilo que já fizemos e temos agora, como presidente, um campo enorme para fazer a diminuição de gastos correntes, de desperdício. Não estou falando apenas da saúde, mas de todo o governo e também de todo tipo de despesa obrigatória, como benefícios e salários. Temos de controlar tudo isso, de maneira que haja, sim, mais recursos para a saúde. E depois tem a questão da eficiência. Estudos do Banco Mundial mostram que o SUS pode ter um desempenho e atender muito mais gente sem gastar muito mais.
Qualificar a gestão do SUS?
Não é incompetência das pessoas que estão lá, mas precisamos mudar a estrutura. Por exemplo, temos de informatizar o SUS.
Então, por mais competente que seja a pessoa, o sistema é ineficiente. Não tem condições de controlar tudo. Não há informação. Vamos informatizar o SUS, não só o serviço da estrutura do SUS, mas o serviço de atendimento. E isso vai permitir o acesso à informação. E o SUS pode ser melhor estruturado, gerenciado.
O que o seu governo deixará de fazer? O que vai cortar?
Em primeiro lugar, existe, sim, um número enorme de empresas públicas que são deficitárias. Não necessariamente a Petrobras. Ela já foi, mas melhorou muito nos últimos dois anos. Banco do Brasil também melhorou bastante e vai melhorar mais nos próximos anos, também a Caixa. Como melhorar? Profissionalizando essas empresas. Tudo isso vai fazer com que possamos também trazer mais capital privado para aquelas empresas que não deveriam ficar no Estado, como é o caso da Eletrobras.
O apetite chinês para a infraestrutura brasileira preocupa?
Não. Os chineses ocuparão o seu lugar dentro das regras. Não devemos esquecer o seguinte: somos um país soberano. Quem define as regras somos nós. Podemos definir claramente os limites de participação dos investidores internacionais. Os chineses vão ocupar o seu lugar com investimentos determinados, com retornos e com regras definidas por nós.
Não devemos esquecer o seguinte: somos um país soberano. Quem define as regras somos nós. Podemos definir claramente os limites de participação dos investidores internacionais.
A concessão de rodovias é o caminho se o senhor for eleito?
É um caminho importante. É evidente que tem alguns investimentos públicos necessários. Como essa rodovia daqui para Pelotas, que é importantíssima e certamente é uma prioridade nossa e do Rio Grande do Sul. Aqui, a segunda ponte no rio. Tudo isso é fundamental. Isso é público. Mas tem espaço enorme para a concessão ao capital privado. Precisa de um governo sério, que tenha normas estáveis e que dê condições para que este investimento tenha uma visão de longo prazo e previsibilidade. Isto é, um governo com credibilidade.
O Tribunal de Contas da União já alertou para a falta de controle na concessão de incentivos fiscais. O senhor pretende manter esses benefícios?
Benefícios só podem existir quando têm resultado para a sociedade. Eliminei alguns desses benefícios no curto tempo que passei no governo, o que gerou muito barulho, mas que todos entenderam pois apontei a realidade. Eram benefícios que foram dados para algumas empresas que tinham por finalidade o aumento do emprego e isso não aconteceu. Tudo isso será revisto e controlado por toda a sociedade.
Não existe um controle transparente. O que nós pretendemos é que cada incentivo que esteja sendo discutido seja de conhecimento de toda a sociedade. E o mais importante: o benefício de geração de emprego e renda seja conhecido também da sociedade.
Qual sua preocupação com o aumento de salários do funcionalismo público após encaminhamento pelo STF?
Antes de mais nada, esse é um assunto que tem de ser votado pelo Congresso. Temos que esperar a votação do Congresso. E depois ter uma análise técnica. Todos os trabalhadores brasileiros têm direito a reajuste pela inflação, no mínimo, e, no caso do salário mínimo, por exemplo, pelo crescimento do país. A regra está lá e está correta. É pouco. Precisamos aumentar isso. Se for errado e o Congresso aprovar algo que está claramente errado no sentido de ser muito mais que a inflação, certamente não teríamos a menor hesitação de vetar, como já fizemos várias vezes quando estive lá.
Qual seria a sua reforma da Previdência?
O Brasil precisa de uma reforma da Previdência que estabeleça duas coisas. Primeiro, a igualdade entre todos. Em segundo, que se assegure que cada brasileiro tenha segurança de que vai receber a aposentadoria. A Previdência está quebrada e devemos evitar a situação que atingiu Grécia, Portugal e outros países. Na Grécia, o governo parou de pagar a aposentadoria de quem está aposentado. Uma tragédia. A pessoa idosa, de repente, não tem aposentadoria e passa fome. Depois, eles recomeçaram a pagar, mas cortaram o valor da aposentadoria para isso. Temos de fazer uma reforma que, primeiro, estabeleça igualdade de tratamento. Como? Hoje a população que ganha menos, pessoas de menor renda, não conseguem completar 35 anos com carteira assinada e se aposentam por idade aos 65 anos.
Então, quem se aposenta mais cedo são as pessoas que têm maiores salários e melhores condições. O que é uma clara injustiça. O Brasil tem um grande processo de transferência de renda, dos mais pobres para os que ganham mais. Isso é erradíssimo. Esse trabalhador de menor renda, que hoje se aposenta com 65 anos, vai se aposentar com 55 anos se for homem e 53 se for mulher. Que é altamente razoável. Agora, aqueles privilegiados que conseguem se aposentar mais cedo ainda, com 50 anos, 52, podem reclamar um pouco, mas esses são, na realidade, em menor número. Grande parte da população, nos primeiros anos da reforma, será 55. Depois vai aumentando devagar em 20 anos. Portanto, é uma maior justiça. Temos de mostrar isso para a população. E a população entende.