Juiz titular da Operação Lava-Jato em primeira instância, Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, coleciona episódios em que tomou decisões polêmicas em momentos recentes da história do país. O histórico ajuda a explicar o fato de Moro ter se tornado uma figura amada ou odiada no país, dependendo das perspectivas de quem avalia. Foram pelo menos quatro ocasiões — a última nesta segunda-feira (1º), com a retirada do sigilo de parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci — em que despachos do magistrado causaram tensões históricas no cenário político nacional, todas elas tendo petistas ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como alvos.
9 de outubro de 2014 — Sergio Moro tornou públicos os áudios dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do operador financeiro Alberto Youssef. Eles se manifestaram em juízo, perante Moro, para esclarecer episódios de corrupção na Petrobras relacionados à Operação Lava-Jato, envolvendo petistas e seus partidos aliados. Nesta época, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) se enfrentavam no segundo turno das eleições presidenciais, que ocorreram em 26 de outubro daquele ano. Dilma acabou eleita, mas a divulgação das gravações estiveram no centro das atenções do embate.
16 de março de 2016 — O processo de impeachment contra Dilma Rousseff avançava no Congresso e, imobilizada por uma crise política, a presidente iria nomear Lula como chefe da Casa Civil em 17 de março de 2016. Os petistas diziam que nomeá-lo era necessário para ter um articulador capaz de pactuar as relações. Mas havia outro viés: o de Lula assumir como ministro para obter o foro privilegiado e passar a ter seus processos de suspeita de corrupção apreciados somente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na véspera de Lula tomar posse na Casa Civil, Moro retirou o sigilo de interceptações telefônicas em aparelhos usados pelo ex-presidente. Causou grande repercussão uma conversa entre Lula e Dilma, no próprio dia 16, momentos antes de ela ter sido tornada pública pelo juiz. No diálogo, a presidente diz que está enviando pelo "Bessias", o então assessor Jorge Messias, o termo de posse para ser usado "só em caso de necessidade". O conteúdo aumentou a desconfiança de que se tratava de estratégia para proteger o ex-presidente.
No dia seguinte, Lula tomou posse no Palácio do Planalto, enquanto simpatizantes do PT e opositores se ameaçavam e se enfrentavam fisicamente do lado de fora, na Praça dos Três Poderes. Depois de um vaivém de decisões judiciais, a posse de Lula como ministro acabou sendo anulada e ele não desempenhou o cargo.
Diversas outras conversas do petista foram tornadas públicas. Também foram liberados por Moro áudios de familiares do ex-presidente, alguns deles de conteúdo íntimo.
8 de julho de 2018 — Moro interrompe férias para emitir uma decisão conflitante com a do desembargador plantonista Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que havia determinado a soltura de Lula, preso em Curitiba. O caso já havia sido julgado em segunda instância, tendo sido confirmada a condenação do petista pelo caso do tríplex do Guarujá. Favreto, que pertence ao TRF4, determinou a liberdade de Lula em um domingo. Moro, logo depois, emitiu decisão contrária, dizendo que Favreto não tinha competência para tal ato na condição de plantonista.
Relator da Lava-Jato no TRF4, o desembargador João Pedro Gebran Neto também postulou pela manutenção da prisão. Mas Favreto acabou dando novo despacho determinando cumprimento imediato da soltura. Em um dia de idas e vindas, a decisão final coube ao presidente do TRF4, Thompson Flores, que afirmou ser da competência do relator Gebran Neto a decisão. Por isso, manteve a detenção do ex-presidente.
Do episódio, Moro e Favreto saíram criticados. O primeiro por ter interrompido férias para despachar, levantando discussões a respeito da jurisdição dele para questionar trâmites que estavam em segunda instância. Já Favreto sofreu inúmeras contestações por ter tomado complexa decisão em regime de plantão, de forma monocrática, a pedido de deputados do PT, partido ao qual ele já foi vinculado. Os dois, além de Gebran Neto, foram chamados a dar explicações sobre suas condutas ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
1º de outubro de 2018 — Na última semana antes da eleição em primeiro turno, em momento de ascensão do candidato Fernando Haddad (PT) nas pesquisas à eleição presidencial, Moro quebra o sigilo de parte da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, que tem como principal alvo de acusações o ex-presidente petista. Mesmo da prisão, Lula é o principal fiador político da candidatura de Haddad ao Palácio do Planalto.