A delação do ex-ministro petista Antonio Palocci era cogitada desde setembro de 2016, quando ele foi preso. Já nos primeiros depoimentos ele afirmava ter muito o que contar. Negociou durante dois anos, teve recusadas partes do acordo de colaboração por escassez de detalhes e, por fim, a delação foi aceita. O juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba e fiador da Operação Lava-Jato, decidiu liberar nesta segunda-feira, 1º de outubro, um pequeno trecho das revelações de Palocci na semana em que acontece a mais tumultuada eleição presidencial das últimas décadas. O depoimento liberado pelo magistrado paranaense foi tomado em 13 de abril deste ano. Por que foi liberado em outubro?
Fez isso de propósito, dirão apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o maior alvo da delação. Foi por coincidência, rebaterão os antipetistas. O fato é que Lula é o personagem mais mencionado no trecho liberado por Moro. O nome dele é citado 26 vezes. Detalhe: foram divulgadas apenas 13 páginas das mais de 800 que abrangem a delação de Palocci. Elas formam o início do termo de colaboração, uma espécie de enunciado no qual o "colaborador" promete revelar à Justiça detalhes sobre corrupção no setor público e no privado.
A maior parte dos temas já tinha vazado ao longo dos últimos anos, até mesmo em depoimentos oficiais do ex-ministro à Justiça. Palocci repete muitas coisas já constatadas e comprovadas em quatro anos de Lava-Jato, como o fato de que as autoridades (Lula, entre elas) sabiam que os maiores recursos de campanhas políticas vinham de contratos firmados pela Petrobras, que doações oficiais eram usadas para maquiar acertos de corrupção, que ele (Palocci), José Dirceu e Guido Mantega eram os grandes arrecadadores junto ao empresariado, que de R$ 500 milhões arrecadados, R$ 400 milhões não têm origem lícita...São generalidades, que devem estar exploradas ao longo das 800 páginas (às quais a mídia ainda não teve acesso).
Uma das novidades já vazadas é a contabilização dos subornos. Conforme Palocci, ocorreu pagamento de propina em 900 das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT, estima o delator. O objetivo era incluir emendas de interesses de partidos e parlamentares, os mais diversos. E isso custava R$...Outra suposta revelação (mas que já tinha sido aventada em depoimentos por Palocci) é que Lula foi expresso ao determinar que a Petrobras encomendasse a construção de 40 navios-sondas petrolíferas para explorar o pré-sal, garantir o futuro do país "e o do Partido dos Trabalhadores".
Na realidade, as revelações são mais importantes por virem de quem vem (o ex-czar da arrecadação financeira nos governos petistas) do que pelo conteúdo concreto liberado até agora.