O apoio de Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) busca evitar, durante a disputa pelo governo do Estado, a perda de votos entre o eleitorado gaúcho do capitão da reserva, apontam analistas políticos. A tentativa de afastar eventuais desgastes junto aos apoiadores de Bolsonaro está ancorada nos números registrados, dentro do Rio Grande do Sul, pelo nome do PSL.
No primeiro turno, o candidato à Presidência recebeu 3,3 milhões de votos no Estado (52,63% dos válidos). Com o resultado, venceu a disputa em 420 das 497 cidades gaúchas (84,5% do total). Concorrente de Bolsonaro no segundo turno, Fernando Haddad (PT) foi o escolhido por 1,4 milhão de eleitores (22,81%) no Rio Grande do Sul. Com isso, ganhou a corrida presidencial nos demais 77 municípios (15,5%).
— Ao apoiar Bolsonaro, Leite e Sartori tentam não perder votos. A onda à direita nas eleições tem o antipetismo como contrapartida no país. Leite e Sartori sabem que perderiam muitos votos se declarassem neutralidade ou apoio a Haddad na disputa presidencial — avalia o cientista político Paulo Peres, professor da UFRGS.
Na corrida ao Palácio Piratini, o candidato do PSDB assumiu a liderança no primeiro turno com 2,1 milhões de votos (35,9% dos válidos). Do total, 96,1% foram registrados em municípios onde Bolsonaro venceu o embate pela Presidência no Rio Grande do Sul. Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda mostram que Leite ganhou a disputa em 260 cidades gaúchas. Dessas, 230 também tiveram o capitão da reserva como o nome mais lembrado pelos eleitores na competição com os concorrentes ao Palácio do Planalto.
Segundo colocado no primeiro turno da eleição estadual, Sartori teve 1,8 milhão de votos (31,11% dos válidos) no primeiro turno. Do total, 97,2% foram confirmados em municípios nos quais Bolsonaro venceu a corrida pela Presidência. O atual governador ficou à frente dos adversários em 189 cidades gaúchas. Dessas localidades, 178 também tiveram o candidato do PSL na liderança.
Conforme o cientista político Fábio Hoffmann, além de evitar a perda de votos, o tucano e o emedebista tentam reverter para si o apoio dos eleitores bolsonaristas que escolheram, no primeiro turno, o lado adversário da disputa estadual.
— Leite e Sartori buscam surfar na onda da narrativa ideológica defendida por Bolsonaro. A luta dos dois está em retirar votos do adversário dentro desse eleitorado — explica Hoffmann.
Professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS, Gustavo Grohmann compartilha opinião semelhante:
— Leite e Sartori estão em busca do mesmo eleitorado. Eles não querem se antagonizar com o voto da maioria no primeiro turno. Os dois tentam pegar votos um do outro.
Nas 77 cidades gaúchas em que Haddad venceu a disputa presidencial no primeiro turno, Miguel Rossetto (PT), seu colega de partido, ganhou o embate estadual em 36. Leite ficou à frente dos demais candidatos em 30 desses municípios, e Sartori, em 11.
— O apoio dos dois candidatos ao governo do Estado a Bolsonaro, e não a Haddad, tem relação com vários fatores. Um deles é ideológico. Nem Leite nem Sartori demonstram afinidade com o PT — argumenta a cientista política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO).
Apoios partidários e eleitores "órfãos" de candidatos
No segundo turno, tanto Leite quanto Sartori tiveram a confirmação de apoios partidários dentro do Estado. PROS, Solidariedade e PV externaram simpatia pelo tucano. Do outro lado, Avante, PSL e DEM optaram pela candidatura do atual governador.
— É difícil prever o impacto desses apoios na disputa. Mas acredito que não devem mudar muito o cenário. No caso do PSL, o apoio foi anunciado pelo partido, e não por Bolsonaro. Se fosse uma decisão dele, poderia ter mais peso — pondera o cientista político Paulo Peres.
O analista chama atenção para o possível impacto das escolhas dos gaúchos que optaram, inicialmente, por nomes de centro-esquerda, ausentes no segundo turno. Peres destaca que Miguel Rossetto (PT) e Jairo Jorge (PDT) ocuparam a terceira e a quarta posições na etapa inicial da disputa, somando 28,84% dos votos válidos.
Tanto PT quanto PDT anunciaram neutralidade na etapa final da corrida ao Palácio Piratini. Mesmo com a decisão de seu partido, Jairo confirmou, na quinta-feira (18), apoio pessoal a Sartori, o que despertou críticas de correligionários.
Os números da disputa
Candidatos a presidente
Número de cidades onde os candidatos venceram no Estado
Jair Bolsonaro: 420
Fernando Haddad: 77
Candidatos a governador
Número de cidades onde os candidatos venceram no Estado
Eduardo Leite: 260
José Ivo Sartori: 189
Miguel Rossetto: 46
Jairo Jorge: 2
Nas 420 cidades onde Bolsonaro venceu:
Eduardo Leite venceu em 230
José Ivo Sartori venceu em 178
Miguel Rossetto venceu em 10
Jairo Jorge venceu em 2
Nas 77 cidades onde Haddad venceu:
Miguel Rossetto venceu em 36
Eduardo Leite venceu em 30
José Ivo Sartori venceu 11
NÚMERO DE VOTOS NAS CIDADES EM QUE BOLSONARO VENCEU:
Eduardo Leite: 2.060.966 (96,1% de todos os votos do candidato no primeiro turno)
José Ivo Sartori: 1.805.382 (97,2% de todos os votos do candidato no primeiro turno)
NÚMERO DE VOTOS NAS CIDADES EM QUE HADDAD VENCEU:
Eduardo Leite: 82.637 (3,9% de todos os votos do candidato no primeiro turno)
José Ivo Sartori: 51.953 (2,8% de todos os votos do candidato no primeiro turno)
Confira os mapas:
O APOIO A BOLSONARO
Eduardo Leite (PSDB)
Depois de pressão de aliados, o tucano confirmou, em vídeo divulgado nas redes sociais, no último dia 10, seu apoio a Bolsonaro. O ex-prefeito de Pelotas fez críticas ao PT e disse que os "gaúchos não aceitam quem não se posiciona, mas também não aceitam a falsidade e a covardia".
— Para evitar a volta do PT, darei meu voto ao candidato Bolsonaro. É um gesto democrático, acompanhando inclusive a decisão coletiva dos partidos da minha coligação — pontuou.
José Ivo Sartori (MDB)
O atual governador também usou as redes sociais para declarar voto no candidato à Presidência pelo PSL. Ao justificar a escolha pelo capitão da reserva, o emedebista afirmou, em vídeo divulgado no último dia 10, que "não é hora de omissão".
— Este apoio a Bolsonaro dialoga com a necessidade de combate permanente à corrupção, apoio à Lava-Jato, mais segurança e um novo pacto federativo — relatou.