Os 40 quilômetros de asfalto rejuvenescido que serpenteiam a paisagem verde de São Valentim do Sul, cidade de 2,2 mil habitantes no Vale do Taquari, foram o maior cabo eleitoral de José Ivo Sartori (MDB) no primeiro turno. A lembrança da inauguração do trecho, em fevereiro, acompanhou os moradores na cabine de votação no dia 7 e fez com que a cidade se tornasse o município com maior percentual de votos para o candidato à reeleição na primeira volta do pleito: 68,49%.
Com o pavimento da estrada que corta o município de leste a oeste e por onde escoa 95% da produção vieram placas e pinturas novas, além de guard-rails reforçados. A obra tornou-se a menina dos olhos da comunidade e Sartori, o governador que acabou com a buraqueira de uma década.
— Temos de admitir que ele foi um cara bom aqui para o município. Tínhamos o problema da RS-431 que ninguém conseguia resolver. Era um dos nossos maiores anseios. Foi justamente no mandato dele que a coisa se concretizou. Hoje a gente diz que é uma rodovia de primeiro mundo, um sonho realizado. Então, tenho certeza de que isso repercutiu nas urnas — avalia Loris Ferreira, presidente municipal do PDT, legenda que lançou candidatura própria ao Piratini e que faz oposição ao prefeito emedebista de São Valentim do Sul.
No bar em que o carteado corria solto na quarta-feira (10) à tarde, regado a cerveja e vinho, o alvoroço se formou quando o nome de Sartori foi mencionado. Os cinco amigos que sentavam ao redor da mesa redonda não se preocuparam em manter o voto em sigilo. Num português à italiana, igual ao de Sartori, citaram a obra viária para justificar orgulhosamente o voto no "Gringo".
— E, no segundo turno, vamos com ele de novo — bradou o aposentado Heitor Casagrande, 71 anos, antes de bater na mesa e gritar algo relacionado à partida de quatrilho, jogo semelhante ao truco.
A aprovação de Sartori na cidade onde carros dividem espaço com tratores agrícolas nas ruas asfaltadas não está atrelada apenas à rodovia. No fim de 2017, o pátio da maior escola estadual foi cercado, e o ginásio da instituição ganhou telhado e pisos novos. Neste mês, são as paredes do prédio que estão recebendo tinta e revestimentos. A a escola Silvio Sanson, agora mais bonita, tem 189 alunos e 22 servidores e também é citada sempre que a confiança em Sartori precisa ser legitimada.
Influência histórica do MDB
Outra peculiaridade é que desde a emancipação, em 1992, os sulvalentinenses quase sempre foram governados pelo MDB. A exceção foi o período de 2005 a 2008, quando o PDT assumiu a administração. Nos demais 21 anos, quem ocupou a cadeira do prefeito foi o mesmo partido, e, por 16 deles, a mesma família de empresários.
— Há uma tradição de votarem no MDB aqui. Parece que está enraizado no cérebro das pessoas — diz um político de oposição que prefere manter o anonimato.
Em 2014, Sartori já havia feito na cidade 63,64% de votos no 1º turno e 80,09% no 2º. O atual prefeito, Jerry Angelo Macagnan (MDB), elegeu-se com 69,26% da preferência em 2016. Para ele, há, ainda mais um motivo para Sartori ter sido bem aceito pela comunidade:
— Todos aqui sabem que o segundo mandato dele em Caxias do Sul foi melhor do que o primeiro — ponderou.
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É o percentual de votos válidos de José Ivo Sartori em São Valentim do Sul, o melhor desempenho proporcional do candidato do MDB no Estado.
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O prefeito conta que a maior parte (67%) da economia de São Valentim do Sul gira em torno da agropecuária e que o cultivo de destaque na cidade é a uva. Lá são produzidos 16 milhões de quilos por ano. São 144 famílias que tiram seu sustento da fruta.
Não é o caso da dona Loivana Marcolin, de 54 anos, e do sogro Paulo Marcolin, que aos 92 anos ainda trabalha na roça com a nora. O parreiral nos fundos da propriedade é apenas para consumo próprio, mesma finalidade que dão ao gado de corte e leite, aos porcos e às galinhas. A família, composta ainda pelo marido de Loivana e filho de Paulo, é moradora das margens da rodovia. Eles estão confiantes de que Sartori ficará mais quatro anos no Piratini:
— Ele foi muito bom para nós aqui — resumiu a agricultora.
Ficha técnica
- Região: Vale do Taquari
- Distância de Porto Alegre: 163 km
- População (2018): 2.239
- Ano de emancipação: 1992
- Principal atividade econômica: agropecuária (produção de uva)
- PIB per capita (2015): R$ 21.632,88
- IDH: 0,764
- Eleitorado: 2.113
- Votos válidos no 1º turno: 1.704
José Ivo Sartori (MDB): 1.115 votos (68,49%)
Eduardo Leite (PSDB): 267 (16,40%)
Fontes: IBGE, prefeitura de São Valentim do Sul e TSE
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