Na onda conservadora que varreu o país, o MDB foi rápido no diagnóstico e anunciou apoio do diretório gaúcho da sigla e do governador José Ivo Sartori ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). O emedebista, que busca reeleição ao Palácio Piratini contra Eduardo Leite (PSDB), tomou à frente do tucano e fez movimento para colar sua imagem na do capitão da reserva, que alcançou 52,63% dos votos válidos entre os eleitores do Rio Grande do Sul no primeiro turno.
A decisão foi tomada na segunda-feira (8) pela manhã, após reunião de líderes emedebistas. O PSD do vice-governador José Paulo Cairoli também é entusiasta da aliança informal com o candidato do PSL. Entre os aliados de Sartori, somente o PSB manifestou restrição sobre o apoio a Bolsonaro. Para evitar rachas, os experientes políticos emedebistas já construíram uma vacina: o documento emitido pelo partido é um "recomendação" e, tanto os filiados quanto as siglas parceiras que quiserem adotar postura diferente, estão liberados para fazer isso sem qualquer prejuízo.
À tarde, em entrevista coletiva, o presidente do MDB gaúcho, deputado federal Alceu Moreira, leu a carta que referendou a parceria com Bolsonaro e a entregou em mãos a Sartori, que participou do ato ao lado de diversas lideranças regionais.
– Eu vou seguir a orientação – afirmou Sartori, sem titubear ou subir no muro, anunciando posição em favor do capitão da reserva.
Cairoli, que vem costurando há semanas uma aproximação com o general Hamilton Mourão (PRTB), vice de Bolsonaro, está aguardando a confirmação de uma reunião que deverá ter com Bolsonaro no Rio, na casa do presidenciável.
– Estamos fazendo isso por convicção, não é um gesto eleitoreiro. Sabemos que o Eduardo (Leite) não tem nada a ver com ele (Bolsonaro) – diz Cairoli, em uma crítica ao candidato do PSDB, que se aproxima com mais cautela de Bolsonaro.
O cálculo político dos emedebistas é de que a estratégia mais acertada é apostar todas as fichas na aproximação com o candidato do PSL, preferido da população no primeiro turno. Fernando Haddad (PT), o outro presidenciável que chegou ao segundo turno, obteve 22,81% dos votos válidos no Rio Grande do Sul, menos da metade dos contabilizados pelo capitão.
– Esse é um gesto que nos leva ao anseio da população – resume Cairoli.
O que resta em disputa é um espólio de quase 1,7 milhão de votos obtidos no primeiro turno por Miguel Rossetto (PT) e Jairo Jorge (PDT). A campanha de Sartori buscará apoios junto ao PDT, sigla que participou do seu governo, mas a prioridade, definitivamente, é garantir parceria com o presidenciável. Na análise dos emedebistas, os petistas e pedetistas que não quiserem votar em Sartori terão como opção o PSDB de Leite, considerado ainda mais distante das aspirações da esquerda e da centro-esquerda.
– É uma escolha dos eleitores petistas. Eu não tenho a mínima possibilidade de fazer qualquer tipo de influência e nem a pretensão de fazer – resume Moreira.
Ao deixar a coletiva, Sartori, sem ser incisivo para não fechar portas, também indicou que conquistar o capital de eleitores do PT e do PDT não é a prioridade número um.
– E não pode ser melhor buscar os outros um milhão e tantos votos de pessoas que se abstiveram, que anularam? – disse Sartori, ao devolver pergunta sobre os resultados dos candidatos petista e pedetista.
Com as urnas 100% apuradas, os números mostram que a consolidação de votos brancos e nulos, acrescidos das abstenções, atingiram o patamar de 2,3 milhões na eleição para governador no Rio Grande do Sul.
Sartori evitou se manifestar sobre "qualidades" e "defeitos" de Bolsonaro. Instado a comentar o assunto, tergiversou e driblou repórteres. Mas, entre aliados, são listadas como possíveis semelhanças entre o governador e o projeto de Bolsonaro itens como "combate à corrupção", "redução do tamanho do Estado", "avanços na segurança" e um "novo pacto federativo".
Coube a Moreira, presidente do partido, responder sobre eventual incompatibilidade de o MDB, forjado na oposição à ditadura, se aliar a Bolsonaro, apontado como um político autoritário e que, publicamente, já defendeu a tortura e outros métodos de perseguição política praticados pelo governo militar no Brasil. Para Moreira, se estivesse vivo, Ulysses Guimarães, histórico emedebista que, na proclamação da Constituinte disse ter "ódio e nojo" da ditadura, optaria apoiar o candidato do PSL em vez de um "pau mandado de presidiário".
– Não é a escolha ideal, mas é a escolha possível. Temos divergências? Temos. Mas as nossas divergências com o PT são infinitamente maiores do que as que temos com o Bolsonaro – referendou Moreira, sem admitir discutir as diferenças existentes entre eles.